Habitar em Portugal, mas também um pouco por quase todo o mundo, coloca em cima da mesa o debate sobre o preço das casas. Este demonstra, hoje em dia, a gritante confusão das pessoas frente a uma premissa que é o essencial da economia: há valores de uso e valores de troca.
A minha casa não tem valor de troca, porque é onde habito – se a vender vou viver para a rua. Se eu tiver 20 casas deixa de ser um valor de uso e passa a ser uma fonte de lucro. A pergunta é: achamos que para viver felizes em sociedade deve haver direito ao lucro, mesmo que isso coloque em causa um direito humano – a habitação? Numa sociedade saudável há valores de uso – produzimos casas para viver nelas, alimentos para comer, livros para ler, cinema, sabonetes cheirosos para higiene; no capitalismo produzem-se valores de troca: casas para especular, soja para exportar impedindo a produção de alimentos, armas, sabonetes cancerígenos, livros que são destruídos em massa nos armazéns passados um mês ou dois de mercado, eletrodomésticos maus que se estragam em apenas 2 anos.
O direito à propriedade de uns impede acesso à propriedade de milhões
Para a maioria de nós a nossa casa é um valor de uso – é a nossa habitação. Para um grande proprietário, um conjunto de acionistas (em fundos imobiliários), para tantos conhecidos meus franceses, suíços, brasileiros que vieram comprar casas em Portugal, a casa não é um valor de uso para habitar, é uma “barra de ouro” onde colocam o dinheiro com medo de o ter no banco, ou porque assim o valorizam mais. Isto significa que os nossos amigos, colegas, filhos não podem ter uma casa para habitar. Ou seja, o direito à propriedade (valorização e lucros das trocas) de uns impede o acesso à propriedade pessoal (habitação) a milhões. Isto está a tornar o país inviável, uma Florida, vazia de gente, de relações, de afetos, de vida, “very tipical portuguese”. Esta opção política – colocar no mercado mundial a propriedade dos portugueses colocou os seus baixos salários, de 8 a 9 milhões, a competir com as dezenas de milhões de salários altos no mundo. Economicamente isto significa vender a riqueza do País – os seus trabalhadores – para trocar por lucro – especulação imobiliária.
Direito ao futuro está a ser destruído pela especulação
Devemos permitir que alguém ocupe a nossa casa? Não – é a nossa casa. As pessoas devem ter o direito a ter a sua casa protegida, e defendia de ocupações. Devemos defender que as pessoas sem casa ocupem casas vazias, ocupadas 1 mês ao ano para pura especulação? Essas “casas” são imorais, não são casas, são um roubo ao direito dos outros à propriedade, à liberdade, à vida. O direito dos estrangeiros e/ou especuladores e Bancos a comprarem Portugal, para fugirem aos impostos ou especularem, ou ganharem mais do que tendo o dinheiro no sector industrial em crise pela concorrência, impede o acesso de milhões de pessoas que trabalham em Portugal à propriedade pessoal, à habitação. Mas também à saúde porque não há médicos a quererem viver em Lisboa, e também educação, porque os professores fogem de Lisboa. Lisboa está a ficar um resort de luxo, com milhões de pobres remediados (ex classe média) à volta que vão viver para casa dos pais, tios-avós, ou fogem do país. O direito ao futuro para os nossos filhos, os nossos colegas, os nossos amigos está em a ser destruído.
Imagem: Manuel Varzim
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Obs: texto previamente publicado no blogue Raquel Varela | Historiadora, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.
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