Os franceses não terão aprendido História na escola?

Os franceses não terão aprendido História na escola?

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Os franceses serão tolos? Não terão aprendido História na escola? Nesta imagem vemos um pensionista a gozar alegremente a sua reforma numa das muitas estâncias de lazer que existiam nesse antigo “paraíso dos trabalhadores”: a histórica e já extinta U.R.S.S.

Respondendo às nossas perguntas iniciais, estamos em crer que genericamente os franceses não são tolos. Pelo menos, não o serão mais que os ingleses, os alemães, os chineses, os portugueses ou qualquer outro povo. Estamos também em crer, que os franceses aprenderam História na escola. No entanto, parecem ser muitos os que se esqueceram da matéria dada.

Vieram estas questões a propósito de o Presidente Macron e respetivo governo terem imposto a aumento da idade da reforma dos 62 para os 64 anos, e dos subsequentes protestos e desacatos que essa medida desencadeou.

Não sendo nós especialistas no sistema de pensões francês, parece-nos mais ou menos óbvio, que face à diminuição da taxa de natalidade e à subida da taxa média da esperança de vida, aumentar a idade da reforma é uma medida adequada, racional e evidente.

Em França, como no resto do mundo, as contas são simples de se fazer, se há menos gente a descontar para o sistema de pensões e mais gente a dele beneficiar e durante mais tempo, a única solução possível para o financiar é aumentar a idade da reforma.

Foi precisamente isso o que fizeram praticamente todos os países europeus desde há anos a esta parte. Em síntese, não há nessa decisão grande ciência, é tão simples como dois mais dois serem quatro.

Não sendo os franceses tolos, estes factos deveriam ser facilmente compreensíveis. Contudo, as extremas esquerdas e as extremas direitas francesas estão contra e uniram-se nessa “causa”.

Usando intensamente as redes sociais para amplificar as suas mensagens, conseguiram transformar a resolução racional de uma questão técnico-económica acerca do modo como financiar o sistema de pensões, numa questão que faz abanar o regime e traz milhares e milhares de pessoas para as ruas.

Olhamos para as imagens televisivas das manifestações em Paris e ficamos perplexos. É desconcertante ver jovens estudantes acabadinhos de sair da adolescência, a protestar energicamente contra a obrigação de quando daqui a décadas eventualmente chegarem aos 62 anos de idade, terem de trabalhar por mais dois anos.

Às extremas direitas e às extremas esquerdas francesas, tudo lhes serve para trazer gente para a rua. Sejam os protestos justos ou simplesmente tolos, o que lhes importa é que haja agitação, contestação, descontentamento e tumultos.

Quanto mais melhor, pois o objetivo final é que o regime abane, caia e de seguida venha a “revolução”.

Para uns, a desejada revolução será à direita, para outros, à esquerda. As extremas desejam revoluções de sentido oposto, contudo, até que se chegue a “esses amanhãs que cantam”, o caminho que irão percorrer é o mesmo, ou seja, o de agitar ódios irracionais nas redes sociais e trazer o povo para as ruas para partir a loiça toda. Ah valentes!

“Idiota útil” é um termo político depreciativo, com o qual se designa as pessoas que lutam por uma causa, sem terem plena consciência dos objetivos últimos dessa mesma causa.

Um “idiota útil” é normalmente um idealista que julga lutar por algo justo, mas que não vê, que aquilo pelo que luta, serve outros fins que não apenas os que estão à vista.

No fundo, os “idiotas úteis” são pessoas usadas cinicamente pelos líderes de uma qualquer causa para a prossecução dos seus próprios objetivos.

O termo foi originalmente usado durante a Guerra Fria para descrever os “não comunistas” considerados permeáveis à propaganda e à manipulação comunista. Com o decorrer dos anos, o termo passou a ser usado nos mais diversos contextos políticos. Por exemplo, após a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, um antigo chefe da CIA classificou-o como sendo “o idiota útil de Putin”.

Quem sabe alguma coisa da História do século XX, tem boas razões para desconfiar que tudo isto pode acabar muito mal e que a França pode estar a encaminhar-se para um abismo.

Mas a nossa esperança não morre, pois que a França é a pátria das artes, das luzes e da razão. Se em França há muito quem se dedique a explorar o descontentamento e a provocar tumultos e agitação, também há muito quem se dedique a pensar, a informar, a ensinar e a esclarecer. Como por exemplo, o canal televisivo Arte TV.

O canal Arte TV é financiado com verbas estatais e dedica-se exclusivamente a transmitir cinema de qualidade, programas sobre artes e letras, documentários com temáticas históricas e debates nos quais se analisa a atualidade de perspetivas que vão muito para além da espuma dos dias. Nada a ver com a RTP que, por coincidência, também é financiado com verbas do estado.

O Arte TV integra a maior parte dos pacotes das operadoras de telecomunicações portuguesas, razão pela qual, num destes dias tivemos oportunidade de assistir a um debate originalmente intitulado “Faire grève sert-il encore à quelque chose?”

Traduzido para português, o título seria algo como “Fazer greve serve ainda para alguma coisa?”.

O programa não é nenhuma espécie de “prós e contras” em que uns dizem umas coisas e outros o seu contrário e no final ficamos todos na mesma. É sim uma reflexão séria, com participantes de vários países da Europa, sobre o mundo em que atualmente vivemos.

Só para vos darmos um exemplo, há uma reportagem que nos leva até à Hungria, país onde o governo de Viktor Orban decidiu pura e simplesmente despedir sem mais nem direito a qualquer indemnização, os professores que não cumpriram os serviços mínimos exigidos aquando de uma greve.

Recordemos a História. Após a queda do Muro de Berlim, a Hungria teve a oportunidade de viver uns breves anos em democracia, porém, o descontentamento social foi explorado de modo a que ideias extremistas e radicais chegassem ao poder. E chegaram.

Hoje em dia, a Hungria tem um governo autoritário em que a democracia é mantida apenas em aparência. Mantém-se o funcionamento das instituições e há eleições, mas, no final, o que conta é a vontade do autocrata, Viktor Orban.

Abaixo deixamos-vos então o link do canal Arte TV através do qual se pode assistir à transmissão do programa “Faire grève sert-il encore à quelque chose?”.

É em francês, mas ainda assim, é a nossa singela contribuição para que cada um possa pensar por si próprio e não se deixe transformar num “idiota útil”:

Faire grève sert-il encore à quelque chose ? [Fazer greve ainda serve para alguma coisa?]

oleg

Obs1: publicação original em Blogue IF… por ifperfilxxi, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.

Imagem: Oleg Ionov (Pista de patinagem ao ar livre de alta montanha Medeo. República do Cazaquistão – USSR, 1990/ Vox Populi

Obs2: a história da imagem que inspirou esta história, hoje em dia reproduzida vezes sem conta na internet, é contada na primeira pessoa pelo fotógrafo Oleg Ionov na Esquire do Cazaquistão.

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Categorias: Ensino, História

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Perfil XXI

Coletivo de professores que pretendem ser multidisciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares. Por vezes, falam também sobre pássaros, abelhas e até pulgas e ora viajam desde a vizinha Espanha à longínqua Lituânia, desde a gélida Finlândia até à ardente Argentina.

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