Por estes dias olho as figueiras do meu quintal. Uma de pingo-de-mel e outra de caralhetos. Foram plantadas pela minha mãe que nasceu e cresceu no meio de figueiras. Com este gesto quis homenagear os seus ancestrais, particularmente o meu avô, seu pai, que era um grande apreciador de figos e, por isso, plantava figueiras em todas as propriedades que tinha.
Em tempos mais antigos, os figos, frescos, mas sobretudo os secos, eram um recurso alimentar extremamente importante. Davam-se inclusive figueiras em dotes de casamento para ajudar a alimentar o novo casal. Nutritivos e energéticos tornavam-se fundamentais para suprir carências alimentares e para obviar a falta de pão. Secavam-se com todo o cuidado e guardavam-se religiosamente para a longa estação do Inverno. E nos dias frios não há alimento mais aconchegante! Digo eu!
No Minho, apesar de se verem, aqui e ali, algumas figueiras, não existe sol suficiente para haver boa produção. A chuva, mais abundante por estas bandas, não permite uma boa colheita e, muito menos, a secagem dos figos. Ao contrário, na “minha” Beira Alta os dias de sol prolongam-se pelo Outono, permitindo, com algum sucesso, a colheita deste importante suplemento alimentar.
À região de Coimbra iam os monges de Tibães comprar bons figos secos. Por lá, a caminho do Sul, já se secavam os pingo-de-mel e os de comadre. Mais para o interior, para as bandas de Viseu, predominavam os caralhetos, de tamanho pequeno e secagem rápida, porque o sol vai-se demorando cada vez menos. Hoje, porque já não se secam figos, estas variedades de figueiras vão escasseando, indo as preferências para variedades que dão figos de maior tamanho, que se comem frescos como sobremesa.
Mas voltemos aos caralhetos. São eles que, por agora, preenchem as minhas memórias. Eram os figos preferidos do meu avô, e os figos que se secavam lá em casa. As figueiras fazem-se altas e frondosas – e tantas vezes lhes subi e me sentei, lá no alto, a deliciar-me com eles! Os figos são pequenos e muito saborosos. Vão bem com broa de milho e, ainda melhor, depois de secos. A minha avó guardava-os religiosamente num saco alvo de linho e, ao longo do Outono, deixava que ganhassem açúcar. Não, não os enfarinhava! O açúcar emergia naturalmente e deixava-os esbranquiçados e… deliciosos! Era com eles que o meu avô matava o bicho (mais um copinho de aguardente!), se matava a fome, nas horas mortas dos dias de Inverno, e todos nos deliciávamos na hora da ceia, sentados ao calor do fogão ou da lareira, com um punhado de figos secos, que os mais velhos acompanhavam com vinho doce, à falta de vinho do Porto que se reservava para momentos especiais.
Em memória desses tempos ainda hoje guardo, num bonito saco de pano, os figos que compro e, quando me sento a comê-los, trago todas essas memórias para o regaço.
Eu, os figos, as figueiras e os meus avós!
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