1.
Dão os sinos no silêncio as badaladas.
Meu amor, é madrugada,
estão os melros a acordar.
2.
Já chegou o melro branco, meu amor,
irrequieto, que saltita às corridinhas
entre as filas do vinhedo.
3.
De repente pára, e não é nada,
escuta e olha,
e esgravata uma minhoca.
4.
Numa hipotenusa do perigo em fuga,
abriga-se no vértice do poste,
a dois metros de altura.
5.
Olha atento a minhoca lá em baixo,
e no silvado miam os gatos ameaças
e, quando tenta, hesita, e não a apanha.
6.
Uma gargalhada cantada de desprezo
rasga a vinha sarcástica contra os gatos
e continua, ladino, nos prazeres da vida.
7.
É o melro preto, entre parras preso,
abre-lhe a porta, meu amor, e que brinque contente, e nós com ele.
1ª Página. Clique aqui e veja tudo o que temos para lhe oferecer.
Imagem: Vitaly Turchaninov / Unsplash
Obs: texto previamente publicado na página de facebook de António Mota, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.
É sempre o leitor que escreve os versos invisíveis do sentido