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A cassete e o cassetete de António Costa

 

 

A postura de António Costa nos debates prévios às Eleições Legislativas 2022 tem oscilado entre manifestações de ressentimento e juras de amor às políticas de esquerda. Se o ressentimento do secretário-geral do Partido Socialista (PS) e candidato a renovar o cargo de primeiro-ministro soa a falso, no que concerne ao amor fica evidente que não há uma réstia de paixão que o alimente. Tendo cedido menos do que podia na adoção de uma efetiva política de esquerda, nomeadamente em matéria laboral, Costa continua a afirmar, ainda assim, uma fidelidade de princípio a essa linha política. Afirmação de princípio a que corresponde uma substancialidade demasiado vaga para ser levada a sério. O que António Costa tem para oferecer é apenas a continuação de uma espécie de «compromisso histórico» entre o ciclone liberal, que se levantou nos já longínquos anos 80, e uma social-democracia tíbia, incapaz de o enfrentar. A este compromisso chamaram, em tempos, terceira via, sendo Tony Blair um dos mais conhecidos frequentadores desta via, que, como rapidamente se percebeu, não passa de uma vereda sem saída. O fracasso de Blair e seus amigos não impediu a perpetuação da ideia, que assenta, de forma sumária, na substituição de uma «concertação de classe progressista», que conduziu a uma atenuação real das desigualdades na era verdadeiramente social-democrata, por um modelo de «concertação regressiva», que vem ajudando a criar um fosso cada vez maior entre classes – veja-se o papel atual da Concertação Social, não por acaso coordenada por esse insigne representante da terceira via que dá pelo nome de Francisco Assis.

Concordância de António Costa e PS com parceiros de esquerda nestas eleições legislativas é capaz de ser mais retórica do que efetiva

Ouvimos António Costa e ficamos com a ideia de que concorda com o essencial do que é proposto por quem se situa à esquerda do PS. Diz-nos até que as políticas defendidas pelos seus antigos parceiros estão implementadas ou à vista de o estarem. António Costa nem sequer discordou da vantagem em fazer regressar à esfera pública empresas privatizadas, como a GALP ou os CTT, tal como Catarina Martins, a coordenadora do Bloco de Esquerda, propõe. A sua discordância não está no princípio mas na impossibilidade prática (leia-se financeira) de o fazer. Julgo que este caso ilustra o que o nosso primeiro-ministro pensa da vida e da governação: concorda com o que a esquerda defende mas encontra sempre forma de não levar as suas ideias à prática. Ou então, quando avança, como aconteceu com a legislação sobre os cuidadores informais, cuida de que as verbas fiquem cativadas ou inacessíveis. Ouvimos António Costa e ficamos convictos do seu assentimento às ideias de esquerda e da sua vontade de as implementar. A grande divergência parece reduzir-se a uma questão de timing, que sem ser um aspeto menos parece ser coisa que facilmente se resolveria com a assinatura de um acordo que calendarizasse as reformas com que as diferentes partes supostamente concordam. António Costa e o PS nunca quiseram assumir esse compromisso (o PCP também não, é verdade, mas aposto que não se deixaria ficar de fora se essa fosse a vontade de Costa), o que nos leva a pensar que a concordância é capaz de ser mais retórica que efetiva.

Narrativa de vitimização e ameaça pode ser perigosa para o Partido Socialista

Voltemos aos debates: sem assumir uma divergência clara com os seus antigos parceiros, resta a António Costa fazer o que tem feito: munido de uma cassete, repete até à náusea uma acusação de que foram os parceiros os únicos responsáveis pela interrupção da legislatura, dessa forma se descartando de uma culpa que também foi sua. Essa vitimização de António Costa, bastante pueril, de resto, não é suficiente. Com uma sonsice que foi cultivando ao longo destes anos, Costa troca as ideias políticas (banais e com pouco que se lhe diga) pela subtil ameaça. Nada de muito declarado, mas quem olhar com atenção verá o cassetete espreitando na manga do casaco: «Vejam como votam, pois se não votarem bem eu vou-me embora e ficam todos entregues à ingovernabilidade». Nestas eleições muito se decidirá pela eficácia desta narrativa que Costa não abandona. Composta de vitimização e ameaça, esta é, todavia, uma narrativa perigosa para o PS. É-o tanto pelas portas que vai fechando, como pela possibilidade de um efeito de ricochete, nada raro perante as ameaças de um cassetete, temperada com o enjoo de uma cassete que já toda a gente ouviu.


Obs: este artigo foi previamente publicado na página pessoal de facebook de Luís Cunha, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.


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