Portugal tem bons bolos e pastelarias, mas podia ser um país menos amargo.
Adoçado com mais coragem e liberdade e até mais gentileza e menos indiferença e corria melhor.
Hoje, na pausa de almoço do congresso sobre pessoas com altas capacidades em que tenho estado, passei por uma pastelaria do centro de Penafiel, frente à Serpe.
Bons bolos, que passei adiante. O foco era um café, antes de voltar aos trabalhos.
Um teto, que me chamou a atenção, e um padrão engraçado, na parede, junto a um banco da mesa onde me sentei.
Memórias
Eu, professor radical “que dá má imagem da sua escola”, sujeito a bocas e deslealdades, vou ter este sítio meio anónimo como memória importante. Até decisiva.
Digerir que um boy, nomeado politicamente, ache que me pode impunemente chamar mau profissional e desqualificado, a mim e outros colegas, para fazer vingar a sua táctica politiqueira para me afastar, implica mais do que um café.
E este foi sítio de pausa para pensar e escrever.
E até sentir-me iluminado. Talvez tenha sido o tempo que olhei para o padrão na parede ou que gastei a observar os estuques e seus detalhes. Ou nada teve a ver com o sítio.
Às vezes, sítios assim, meio anónimos, são aqueles onde vivemos e sentimos momentos de vida importantes.
Nós não vivemos realmente no espaço e no tempo, mas no cérebro. E não foi o sítio. Foi o pensamento.
Ontem, alguém dizia sobre os sobredotados: “No meio do fascínio com as suas altas capacidades pensa-se pouco na infelicidade que têm pelo que têm de deixar de ter por conta delas.”
Reflexões
Face à pressão que estou a ter, a reflexão e textos que fiz neste sítio vão ser dos mais importantes da vida.
E quem escolhe o caminho, às vezes, tem muito o que lamentar. Às vezes, tem muito de que se arrepender e é bom saber porque escolhe, o que nem sempre acontece. Escolher sem reparar é o pior que há.
Pedro é o santo do arrependimento e diz-se que até para ser crucificado se lembrou disso e pediu para o ser de pernas para o ar.
Aliás, a Igreja foi construída sobre o seu arrependimento.
Escolhas
Escolher é excluir os caminhos alternativos e, às vezes, isso não é luminoso, como era o teto desta pastelaria, ou de bom gosto como o padrão da parede, atrás do banco vazio.
Mas entre a liberdade e o respeito ou aceitar vilanias, que nos vão assombrar a alma, a escolha fáustica é clara.
Talvez concretizar a escolha me faça escrever menos sobre a luta e faça prosas menos políticas e mais poéticas.
Ou talvez seja mais certo que, para desilusão do boy que me quis lixar, fique ainda mais livre para lhe mostrar que Portugal não pode ser feito de oportunistas.
Obs: texto previamente publicado na página facebook de Luís Sottomaior Braga, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.
Imagens: LSB
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