Numa sociedade onde crescem os extremismos, onde se discute o retrocesso de direitos fundamentais adquiridos, como o direito ao aborto, ou a liberdade de amar uma pessoa do mesmo sexo, onde os destinos de um país ou concelho se decidem sem olhar a consequências, como é o caso das declarações de interesse público municipal, compete-nos resistir, compete-nos respeitar aqueles que a 25 de abril de 1974 disseram não.
Nas últimas semanas assistimos a mais uma sucessão de notícias locais – qual novela mexicana – que nos deve levar a profundas reflexões sobre que objetivos, reais objetivos, estão na mente daqueles que há mais de 20 anos lideram o executivo famalicense.
Para aqueles que eventualmente não tenham acompanhado o desenrolar dos últimos episódios, num breve resumo: está iminente a aprovação de uma declaração de interesse público municipal (mais uma) para, uma vez mais, dar carta branca à construção de um chamado “eco-parque” em Cabeçudos. Contudo, este ponto que entrou numa ordem de trabalhos de reunião de Câmara, foi retirado não uma mas duas vezes da mesma. Porquê? Aguarda-se o desenrolar da novela.
Famalicão perdido em visões do Século XIX
Acresce que está por explicar uma alegada presença do Presidente Mário Passos numa reunião entre o promotor do projeto, o seu advogado – Dr. Paulo Cunha, ex-Presidente da Câmara Municipal e responsável à altura da revisão do Plano Diretor Municipal, em 2015, onde várias Unidades Operativas de Planeamento e Gestão (UOPG) e Unidades de Execução (UE) foram aprovadas, e o Secretário de Estado do Ambiente. Confusos? Acredito que sim, não é fácil acompanhar tal guião político.
Mas o enredo não fica por aqui, o Presidente da Câmara ameaçou e ao que se sabe concretizou uma queixa-crime contra o Jornal Notícias de Famalicão por, alegadamente, ofensas ao bom nome do mesmo. O que ficou por explicar é se a reunião aconteceu ou não, qual o objetivo da mesma, e em que qualidade o Dr. Mário Passos se deslocou. Se o fez como Presidente da Câmara, o que seria caricato, porque não o divulgou? Como faz sempre que se reúne com qualquer empresário local ou inaugura hipermercados. Se o fez como cidadão famalicense, o que eventualmente também seria estranho, fica por saber se as despesas foram pagas pelo erário público? E quem irá pagar o processo relativo à queixa-crime?
No meio de tudo isto, um ponto fulcral que temos de focar: estudos de impacte ambiental não se conhecem. A destruição de habitats e linhas de água, de zonas agrícolas e florestais não tem importância. Saber a capacidade do território em acolher mais parques industriais não interessa. Assim vai o destino do nosso concelho, perdido nas visões do Século XIX.
As alterações climáticas não são para todos?
E quando se utiliza a bandeira da transparência, vamos ser honestos. Transparência seria colocar todo e qualquer projeto à discussão pública. Seria promover sessões de esclarecimentos, consultas públicas locais e de forma séria considerar os prejuízos para todos nós, apresentando estudos e os reais impactos que a curto prazo todos teremos de lidar. Será que as alterações climáticas afetam só alguns, ou iremos continuar a negar que existem?
Não posso, igualmente, deixar de questionar qual a posição do Vereador do ambiente em relação ao que está a acontecer no nosso Concelho. Será que ambiente para alguns significa atribuição de tarifas sociais de água, ou alterar o tarifário da água para quem tem piscinas de modo a não pagar saneamento pelo abastecimento da mesma? Tenho muita curiosidade em saber se o Vereador do ambiente (eleito pelo CDS) vai respeitar o pelouro que lhe foi atribuído ou se isso veio com um anexo de obrigações o qual tem de seguir? Tal é o silêncio deste gabinete.
A atualidade da Trova do vento que passa de Manuel Alegre
E no meio desta confusão de presenças e não presenças, de projetos que entram e saem, de disse que não disse, haja alguém que, conforme tão bem expressou o poeta Manuel Alegre, resista, haja alguém que diga NÃO!
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