Director desportivo na atualidade, Hilário Paulino notabilizou-se, na sua carreira no mundo do futebol, enquanto defesa-lateral direito. Nesse tempo era conhecido simplesmente como Hilário e pautou a sua presença pelos clubes por onde passou com enorme demonstração do seu empenho, capacidade de luta e dignidade, mas também com a grande qualidade que lhe foi reconhecida enquanto futebolista. Apesar da baixa estatura, o jogador era muito rápido e conhecido por dar tudo em campo. Como jogador, representou em Portugal diversos clubes, nomeadamente o SC de Freamunde, o GD Chaves e o FC Famalicão, entre outros, mas uma passagem pelo ‘calcio’ italiano, onde contracenou com alguns dos grandes futebolistas do seu tempo, representou o ponto mais alto na sua carreira. Por outro lado, enquanto director desportivo, na actualidade, tem já no seu currículo a vitória na primeira edição da Liga Revelação, bem como da respetiva Taça Revelação, frente a adversários como Benfica, Sporting, Sporting de Braga ou Vitória de Guimarães.
De França a Portugal, de Portugal a Itália, de Itália novamente a Portugal
Apesar de ter nascido em França, foi no clube da sua ‘terra natal’ – Freamunde – que deu os primeiros passos como futebolista. Nessa altura, o Freamunde disputava a II B (a anterior designação do terceiro escalão), tendo daí saltado para o Desportivo de Chaves que jogava na I Liga, em notável salto qualitativo.
Do clube transmontano de Chaves saiu, com novo passo de gigante, para a Série A italiana, onde foi representar o ambicioso Perugia, clube Italiano que muito investia nos seus plantéis.
No emblema transalpino jogou com grandes futebolistas do futebol mundial, como o centro-campista russo Dmitri Alenichev, que representou também o FC Porto, o japonês considerado o melhor futebolista asiático de todos os tempos Hidetoshi Nakata ou esse defesa-central de referência que foi o internacional italiano Marco Materazzi.
Hilário Paulino foi a grande aquisição do FC Famalicão, na época 2005/06, momento em que tinha acabado de subir à II Divisão B e era treinada pelo Famalicense Berto Gomes.
No FC Famalicão fez uma época e, na seguinte, um problema de saúde da sua filha fê-lo parar durante uma temporada (esteve inscrito, mas não participou em qualquer jogo da temporada). Acabaria por terminar a carreira de futebolista no Santa Maria FC, de Barcelos.
Mais recentemente tem sido um director desportivo em escalões de futebol sénior sub23. ‘Entrega ao trabalho’ e ‘espírito de equipa’, que tenta sempre colocar em prática por onde passa, explicam a receita para o sucesso também nas suas novas funções no mundo futebol, como em qualquer outro que seja o patamar competitivo do desporto-rei. Depois do Desportivo das Aves, Hilário Paulino representou o FC Tirsense.
Francisco Oliveira: O Hilário Paulino era um Lateral-Direito muito rápido e que dava tudo em campo. No entanto, depois da sua fantástica passagem pelo ‘Calcio’ de Itália, onde jogou no Perugia, não voltou a jogar numa primeira liga. O que terá faltado para ter jogado mais ao mais alto nível?
Hilário Paulino: No meu último ano em Itália, ao serviço da Sambenedettese, a minha filha Bruna, agora com 18 anos, teve um grave problema de saúde e esteve em risco de vida.
Foi um ano muito difícil em que ela praticamente viveu todo o tempo no Hospital de Pescara. Por isso mesmo, tendo mais dois anos de contrato, acabei por pedir a rescisão para me dedicar a 100℅ à minha filha.
Fiquei um ano sem jogar. Quando voltei, já com 30 anos, nunca mais consegui atingir o nível anterior.
Francisco Oliveira: Como surgiu o interesse do Perugia?
Hilário Paulino: O interesse do Perugia surgiu quando representava o GD Chaves, na Primeira Liga, num grande momento a nível profissional.
Tinha já várias propostas, mas jogar na série A era um sonho. Em Janeiro de 1999, entraram em contacto comigo, por intermédio do José Veiga. Eu não tinha empresário. Acabei por ser vendido e assinei no mercado de Janeiro.
Francisco Oliveira: Saiu do clube da sua formação – o Freamunde – para o Desportivo de Chaves para jogar na Primeira Liga. Como vê e analisa o regresso do D. Chaves à Primeira Liga Portuguesa?
Hilário Paulino: Fui do SC Freamunde, na IIB, para o GD Chaves, na I Liga. São dois clubes que me dizem muito – um por ter sido o clube que me formou e o outro porque me abriu as portas da primeira divisão.
O GD Chaves é um clube que eu considero grande porque representa uma região e fico feliz por ter voltado ao seu lugar, que é a primeira liga.
Francisco Oliveira: No Perugia, jogou ao lado do Nakata, a super-estrela Nipónica que brilhou no Mundial da Coreia / Japão de 2001/2002. Lembro-me desse futebolista em especial pelos anúncios publicitários a marcas desportivos. Como é jogar ao lado de uma super-estrela como Nakata, entre outros?
Hilário Paulino: Jogar ao lado do Nakata foi, sem dúvida, uma grande experiência.
Nakata tinha um grande mediatismo. No Japão dizia-se até que tinha mais fama que o próprio imperador. Tive o privilégio de poder constatar isso mesmo numa digressão que fizemos a Tóquio e Osaka pelo Perugia.
Francisco Oliveira: Também jogou ao lado de Marco Materazzi na temporada 1999/2000. Marco Materazzi foi depois um defesa-central de topo mundial. Nessa época, já se notava que poderia fazer uma carreira com tanto sucesso na sua posição?
Hilário Paulino: Marco Materazzi foi sempre um grande defesa-central, jogasse ele numa defesa a três ou a quatro.
É um bom amigo e ainda hoje mantemos contacto. Teve um gesto comigo que me marcou muito. Ele era o nosso capitão e na semana do nascimento do meu filho Tiago – tem agora 21 anos – mandou fazer t-shirts escritas com a frase ‘Benvenuto, Tiago!’ / ‘Benvindo, Tiago!’.
No dia do jogo com o Brescia de Guardiola, Bagio, Luca e Toni, que empatamos 2-2, por cada golo que fazíamos os jogadores levantavam a camisola a dedicá-lo ao meu filho. Um gesto único de um futebolista de topo mundial.
Francisco Oliveira: Dmitri Alenitchev também jogou consigo duas épocas e não foi titular, nem figura maior neste Perugia, o que é sintomático do quanto eram valiosos os plantéis que integrou em Itália. Sente que o Alenitchev – Campeão Europeu pelo FC Porto em 2003/2004 – poderia ter sido mais e melhor ‘aproveitado’ pelo seus treinadores nessa passagem pelo Perugia?
Hilário Paulino: Alenichev é outro grande amigo com quem tive o privilégio de jogar. Em Perugia não era sempre titular, mas era um futebolista com muita qualidade.
No dia que foi transferido para o FC Porto, estávamos num estágio em Liège. Tínhamos acabado de jogar contra o Standard de Liège, de António Folha, para a Taça Intertoto.
Francisco Oliveira: Na temporada 2005/2006, o Hilário Paulino foi a grande contratação do FC Famalicão para disputar a antiga IIB de Portugal, logo após a subida da equipa famalicense. Proveniente da Sambedenettese, de San Benedetto del Toro. Tanto quanto se recorda, como era a realidade do FC Famalicão, em geral, nesse tempo, mas em especial no plano competitivo?
Hilário Paulino: Vim para o FC Famalicão depois dajá referida paragem de uma temporada. Foi muito difícil atingir o nível anterior e mais ainda o melhor que já conseguira. Mas todo o plantel me respeitava muito. Criámos um grupo muito bom e forte.
Infelizmente o clube não passava um bom momento a nível financeiro, mas Famalicão é uma cidade que me diz muito e onde também tenho muitos amigos.
Francisco Oliveira: O Hilário Paulino tem tido alguma experiência como Director Desportivo nas divisões inferiores. O que é preciso para obter sucesso com orçamentos mais baixos?
Hilário Paulino: Fui director desportivo do SC Freamunde e tive a felicidade de ter sido Campeão Nacional do primeiro CNS (Campeonato Nacional de Seniores) que assimilou a 2ª e a 3ª divisão numa só competição que depois passou a chamar-se Campeonato de Portugal.
Depois tivemos duas temporadas em que lutamos até às ultimas jornadas para subir à I Liga.
Foram épocas muito boas em que, com orçamentos reduzidos e problemas financeiros, mantivemos um nível alto com uma estrutura muito profissional.
Iniciei depois o projecto dos sub23 do CD Aves. Com sucesso, logo na estreia, conseguimos ser campeões nacionais da Liga e Taça Revelação. Foi outra temporada fantástica, com a valorização de muitos jogadores, tendo uns sido vendidos e outros dado o salto para a equipa principal.
Hoje é um orgulho ver o Bruno Lourenço e o Ricardo Mangas a ter sucesso no Boavista. Mas também outros, como o Luquinhas.
Para se ter sucesso com orçamentos mais baixos é necessário, entre outros, conhecer o mercado, traçar um perfil de jogador-tipo, contar com uma estrutura organizada profissional e competente. Mas acima de tudo é preciso que qualquer pessoa que faça parte do clube, independentemente das funções, tenha de ser apaixonada pelo projecto e estarem todos a remar sempre na mesma direcção.
Francisco Oliveira: Um scouting com profissionalismo é essencial a um clube?
Hilário Paulino: Sem dúvida! Um departamento de scouting é fundamental a qualquer clube que queira ter sucesso. Se esse departamento for forte o clube vai estar sempre um passo à frente dos outros.
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