Desigualdade | Grandes fortunas dos (super)ricos e pobreza extrema dos (hiper)pobres em alta com a pandemia

Desigualdade | Grandes fortunas dos (super)ricos e pobreza extrema dos (hiper)pobres em alta com a pandemia

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O Banco Mundial calcula que em 2021 haja entre mais 110 a 150 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema por causa da recessão. Em simultâneo, um relatório publicado pelo banco suíço UBS destaca o “apetite pelo risco” dos bilionários que apostaram na bolsa quando as ações estavam em forte queda após a Covid-19 ter começado a afetar a economia dos países do Ocidente.

Desigualdade ameaça democracias

David Malpass, presidente do Banco Mundial, garantiu, a semana passada, que “esta pandemia de Covid-19 é uma crise como nenhuma outra. Os seus números têm sido massivos e as pessoas nos países mais pobres são as que provavelmente sofrerão mais e por mais tempo. A pandemia ceifou vidas e prejudicou a subsistência em todos os cantos do globo. este facto levou mais economias à recessão simultânea do que qualquer outro ocorrido depois de 1870. E pode levar à primeira onda de uma década perdida sobrecarregada por um crescimento fraco, um colapso em muitos sistemas de saúde e educação e dívida excessiva”.

“Num mundo interconectado, onde as pessoas estão mais informadas do que nunca, a pandemia de desigualdade – com aumento da pobreza e queda do rendimento médio – será cada vez mais uma ameaça à manutenção da ordem social e da estabilidade política, e até mesmo à defesa da democracia”, esclarece, preocupado.

Miséria de parte significativa da população mundial cresce a olhos vistos 

A pandemia da Covid-19 e a recessão que se lhe seguiu estão, por isso, a contribuir para o acentuar do aumento das desigualdades no mundo. Segundo as previsões do Banco Mundial, a pobreza extrema aumentará pela primeira vez mais em 20 anos, o que significa empurrar mais 88 a 115 milhões de pessoas para a extrema pobreza ainda este ano, com o total a poder chegar aos 150 milhões em 2021, dependendo da severidade da retração económica.

Considera-se vulgarmente pobreza extrema a situação de quem vive com um rendimento abaixo de 1,90 dólares (cerca de 1,60 euros) por dia. Este aumento significa que mais 1,4% da população mundial passará a viver em circunstâncias de pobreza extrema, afirma o Banco Mundial. Assim, em 2020 a pobreza extrema afetará entre 9,1 e 9,4% da população mundial, com os cálculos da instituição a preverem que se não tivesse havido a pandemia essa taxa diminuiria para 7,% dos habitantes do planeta.

O relatório do Banco Mundial destaca ainda que “muitos dos novos pobres estarão em países que já têm altas taxas de pobreza”, e “um número de países com rendimentos médios verão números significativos de pessoas passarem para baixo da linha da extrema pobreza”, estimando que oito em cada dez desses novos pobres vivam nestes países.

Com a fasquia da pobreza colocada nos 3,20 dólares (cerca de 2,70 euros) de rendimento diário, isso representa hoje um quarto da população mundial. Se for colocada um pouco mais acima, nos 5,50 dólares (cerca de 4,70 euros), abarcará 40% da população, cerca de 3,3 mil milhões de pessoas.

O efeito da Covid-19 nos cenários colocados pelo Banco Mundial faz a instituição perder a esperança de que possa ser cumprida a meta de erradicar a pobreza extrema até 2030. Mesmo no cenário otimista em que as economias mundiais retomem a partir de 2021 os números de crescimento que tinham antes da pandemia, no ano de 2030 cerca de 6% da população mundial continuaria a viver em situação de pobreza extrema, aponta o relatório.

… mas bilionários ainda ficam mais ricos

Mas os últimos dias trouxeram também ao conhecimento público um outro relatório, publicado pelo banco suiço UBS, citado pelo Guardian, que coloca no extremo oposto da pirâmide dos rendimentos dos bilionários do planeta, aos quais a pandemia deu oportunidades para acumular ainda mais riqueza. Segundo este relatório, num momento em que milhões de pessoas perderam o seu emprego e os países aumentaram a despesa pública para acudir à perda de rendimentos dos trabalhadores.os 2.189 super-ricos viram as suas fortunas aumentar 27,5% entre abril e julho deste ano.

Este aumento não surpreende, dado o “considerável apetite pelo risco” que faz os super-ricos apostarem parte das suas fortunas colossais, esclareceu Josef Stadler, responsável do departamento do UBS que atende os clientes bilionários do banco, ao The Guardian. A aposta na bolsa quando as ações estavam em queda deu frutos nos meses seguintes com a recuperação dos mercados bolsistas.

“Estamos num ponto de viragem”, indica Stadler. “A concentração da riqueza é tão alta como em 1905 e isto é algo que preocupa os bilionários. O problema é o poder dos juros sobre os juros – isso torna as fortunas maiores e a questão é saber em que medida isto é sustentável e em que momento a sociedade irá intervir e ripostar” contra o acentuar das desigualdades, avisa o responsável da unidade de super-ricos do UBS.

Esperança numa solução para esta crise

“A pandemia até agora não desencadeou os efeitos colaterais devastadores de crashes anteriores – nem hiperinflação, nem deflação, nem fome generalizada. Mesmo que a perda de rendimento e a desigualdade do seu impacto tenham sido piores do que na maioria das crises anteriores, a resposta económica global, até agora, tem sido muito maior do que era expectável no início desta crise”, lembra,  David Malpass, esperando uma saída airosa para a crise.

“A resposta ao desenvolvimento precisará ser ampliada e intensificada, tanto em termos da emergência sanitária quanto dos esforços para ajudar os países a encontrar sistemas de apoio e planos de recuperação eficazes. Uma maior cooperação permitir-nos-á compartilhar conhecimento e desenvolver e aplicar soluções eficazes com muito mais rapidez, nomeadamente uma vacina que vença o vírus e restaure a confiança das pessoas no futuro. Trabalhando por todos os canais, a minha esperança – e minha convicção – é que possamos encurtar a recessão e construir uma base sólida para um modelo de prosperidade mais durável – que possa elevar todos os países e todas as pessoas”, conclui.

As palavras de David Malpass foram proferidas na Frankfurt School of Finance and Management, em encontro preparativo dos encontros anuais do FMI-BM.

 

Fontes: Esquerda, Banco Mundial; Imagem: Kike on Tour

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