1.
Em tudo foste superior, e nunca, mas nunca
Se te acabaram as palavras.
Em nenhuma das tuas facetas deixaste
o sabor amargo de te teres esgotado,
não havendo, por isso, nada mais a dar.
De ti não se pode dizer que devias ter parado
depois da obra tal ou tal.
Ao contrário, de ti se esperava sempre
mais e sempre mais,
Um mais que estava sempre anunciado.
2.
De tudo trataste, em perspectiva dialéctica,
que era o pano de fundo que enformava
a tua vasta cultura e invejada.
De tudo traçaste, apontaste e sugeriste
uma bissectriz harmonizadora e criativa,
e humana, demasiado humana.
Em tudo foste o poeta que sabias ser,
com coragem e com revolta.
Sabias da qualidade da tua obra,
Que afirmavas,
Para escândalo dos oficiosos e instalados
Para quem isso soava, e era
Afronta e blasfémia.
3.
Foste mais, e és mais,
muito mais que o teu nome.
Como a obra de arte que se ultrapassa
voando para além do seu criador,
também tu te ultrapassaste,
superando-te na tua obra,
que nos dás em fruição e conhecimento,
Fundindo-te para sempre nela.
4.
Não te falo dos quarenta anos de Camões
cuja pertinência numérica te querem roubar.
Não te falo de sôbolos rios, pedra de água
De valor incalculável,
Da pátria e da hipocrisia, não te digo nada,
Porque ficarias triste desta tristura sem fim tamanha.
Mas, para que entendas, e me,
deixo-te com as tuas
próprias palavras,
sibilinas sábias.
5.
“Recuso-me a aceitar o que me derem.
Recuso-me às verdades acabadas;
recuso-me também às que tiverem
pousadas no sem-fim as sete espadas.
Recuso-me às espadas que não derem
e às que ferem por não serem dadas.
Recuso-me aos eus-próprios que vierem
e às almas que já foram conquistadas.
Recuso-me a estar lúcido ou comprado
e a estar sozinho ou estar acompanhado,
Recuso-me a morrer. Recuso a vida.
Recuso-me à inocência e ao pecado
como a ser livre ou a ser predestinado.
Recuso tudo, ó Terra dividida!!”
O amor é mais, muito mais, que o que vemos, sentimos e temos
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Obs: texto previamente publicado na página de facebook de António Mota, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.
Imagem: Fernando Lemos