Jerónimo de Sousa e a comichão de quem não se pode coçar

 

 

Jerónimo de Sousa está cansado, frustrado, desanimado. Homem de muitas lutas, de carácter forjado numa altura em que era preciso coragem para lutar pelos ideais em que acreditava, parece ser o líder partidário que mais desapontado ficou com o fim do ciclo político dito «da geringonça». Haverá nisso, por certo, o efeito de um cansaço acumulado. Jerónimo de Sousa tem idade suficiente para ter imaginado ver na URSS a pátria do socialismo, e também para se ter entusiasmado com o PREC português e desiludido com o seu fim. Desconfio que não entrou na «geringonça» convicto das suas virtudes, que apenas o fez por ser aquela a única solução para pôr fim ao trágico ciclo de governação passista. Pouco importa: entrou e estou convencido de que foi acreditando que aquele poderia ser um caminho proveitoso para o país – para «os trabalhadores e o povo», como ele diz, expressão que hoje soa algo anacrónica mas que continua a sinalizar o que de mais fundamental há na política e na democracia: as fronteiras, a inevitabilidade do confronto e a insuficiência e a ilusão que se escondem por detrás do ideal de consenso que tanto mobiliza o «centrão».

Jerónimo de Sousa não parece acreditar na rutura da ‘geringonça’ como o caminho a seguir

Talvez Jerónimo de Sousa devesse ter sido substituído. A CDU entraria nestas eleições com nova liderança e novo fôlego. Mais importante ainda: talvez dessa forma a CDU se apresentasse com um líder que acreditasse convictamente que a rutura com a «geringonça» foi a melhor solução, o que não parece ser a ideia de Jerónimo. Não sei se BE ou CDU tinham margem de recuo, até por estar convencido de que também o PS desejava estas eleições. Em todo o caso, quando oiço Jerónimo de Sousa, fico com a ideia de que ele acreditava que havia ainda caminho para fazer, que se dependesse apenas dele as portas não teriam sido fechadas e trancadas de forma tão abrupta. Claro que é apenas a impressão de quem vê de fora, mas é a explicação que encontro para o incómodo e desapontamento que de forma tão evidente se percebe no líder da PCP. Desapontado com Costa, certamente, mas também incomodado e triste por ver morrer, também às mãos do seu partido, uma solução governativa de esquerda. É como se Jerónimo de Sousa sentisse comichão e não se pudesse coçar, negando a si próprio, de acordo com a rígida disciplina partidária em que se formou, a manifestação visível do seu estado de alma. Olhando a esta ainda curta distância, Jerónimo de Sousa acaba por ter razão: não fechar a porta à «geringonça» naquela altura talvez não evitasse as eleições, mas tornaria mais transparente que essa era a vontade do PS. Nesse cenário, Jerónimo de Sousa teria menos comichão, e deixaria a Costa a vontade de se coçar.


Obs: texto previamente publicado na página facebook de Luís Cunha, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.


 

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