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O Dia do Pai sempre foi um dia estranho na minha infância. Nem era triste, era um dia em que me sentia só desenquadrado.
Na escola, os miúdos faziam uns cartões para os pais. Eu tinha de escolher alternativa.
Fiz cartões para a mãe, para a avó, para o tio-avô, até um Professor de EV perceber que aquilo era penoso para mim e no dia do cartão me deixar ir para a Biblioteca ler, com uma frase libertadora. “Hoje podes fazer o que quiseres”.
Fui ler, porque escolhi não inventar um cartão.
Aliás, os meus daddy issues tiveram a vantagem de me fazer leitor e pessoa reflexiva.
Só mais tarde na vida percebi realmente o que se passou na cabeça do meu pai para nunca ter procurado os filhos portugueses. E vivo muito bem com isso.
Mas o facto é que a minha mãe não precisava de cartões de substituição.
E, nesse dia em que fui ler o Asterix, gostei de não haver pai para cartões.
Aliás, para minha felicidade, não haver pai era todos os dias coisa normal, menos quando alguém perturbava esse equilíbrio com festividades que recusava (ou no dia de anos).
Era natural as coisas serem como eram.
O facto inelutável é que não havia pai para cartões. Que tinha ido embora quando a minha mãe estava grávida e eu tinha 4 anos.
E vivia bem sem ele. Não se lamenta perder o que nunca se teve.
Ao longo da vida, encontrei muitas histórias assim. A minha mãe teve a sorte de ter formação e uma origem social favorecida.
No entanto, na minha carreira, o que mais vejo é crianças que crescem sem pai e sem sequer uma ajuda económica de quem as fez. E não têm a minha sorte.
Há dias, vi um caso de uma que passa necessidades com pai próspero que não quer saber. E a placidez da mãe, pouco esclarecida dos seus direitos, esbarra na minha indignação.
Há quem diga que, sendo duro com a indisciplina, sou mole com rapazes rebeldes que se portam mal e não têm pai. Eu bem tento fugir ao prisma, mas é espelhado.
Por isso, neste dia, não estraga a festa dos que têm ou tiveram a sorte de ter pai, e devem estar felizes por isso, lembrar os que não têm ou tiveram.
Por exemplo, sabem que em países atrasados como o Canadá quem não paga pensões de alimentos vai preso até pagar?
Não me repugnaria ver esta prática ser aplicada em Portugal.
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