1.
Não sei se isto tem cabimento ou não, mas estava habituado, não tanto ao tratamento inerente ao título académico consuetudinário, que não tem, por regra, assim tanta importância, mas que tem, apesar de tudo, mais do que aquela que se não pensa que tem. Mas isso não interessa.
2.
Os títulos têm-se, mas também se compram e se vendem. Aqui em Portugal, ascenderam a doutores, bacharéis, e os de dactilografia passaram a engenheiros informáticos. Quanto ao Sócrates, não sendo engenheiro, não sei se será filósofo, por causa daqueles 54 mil euros que pagou a quem lhe escrevinhou a tese, que ele comprou, e o PS. Mas há casos em muitos partidos. É só escolher. E truques, até, na promoção na função pública.
3.
Na minha terra, que os palermas da esquerda moderna vão chamar analfabeta, não existia o tratamento por você. Os pais e os mais velhos eram ainda tratados por vossemecê. Eu ainda hoje trato assim alguns. Tratar alguém por você era falta de educação. Evidentemente que agora se generalizou o tratamento por tu que, por regra, até é mais bonito. Mas não é disso do que falo. Temos sempre que atender ao nível cultural e à maturidade psicológica do ambiente que nos cerca. Já falta pouco para que os alunos, e seus papás, tratem oficialmente por tu os professores.
4.
Cada terra tem seu uso, e tem cada roca o seu fuso. Cá na terrinha, porém, convencionou-se serem muitos dos nossos usos, algo envergonhado a abater, a não ser que seja para turista ver, e para inglês. E, assim, altera-se, não o que for necessário, mas o que convier a qualquer papalvo com poder e emproado. Perdemos da roça o fuso.
Era uso e costume, por regra, tratar muito bem a língua, tanto na fala como na escrita. Mas alguém demente colocou a nossa língua níveis mais abaixo que o da estupidez, do futebol e da corrupção. E temos um governo que promove um linguarejar de dialecto, e enterra a língua expressiva, da razão, da lógica, literária e do afecto.
5.
Voltando às formas distintas, explícitas, estudadas, registadas e explicadas, mandou-se tudo quase para o lixo, e impôs-se o lixo como fala oficial. Mas não é. Ainda há pouco tempo, era uso e costume, tratar-se o cidadão pelo nome de família, precedido de senhor ou de senhora. Teria que ser mesmo assim? Eu nesta questão não sei bem. Confesso até poder estar um pouco desactualizado. Mas quando um petiz ou uma adolescente qualquer, num hospital, ou em qualquer repartição, me chama pelo nome próprio, como se tivéssemos andado os dois na escola, e não o meu apelido, em vez de proximidade sinto ignorância, petulância e falta de educação.
Ou, então, talvez somente a contagiosa estupidez.
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Obs: texto previamente publicado na página facebood de António Mota, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.