Teatro da Didascália | Há Fauna cultural em ação em Joane, Famalicão

Teatro da Didascália | Há Fauna cultural em ação em Joane, Famalicão

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Fauna é um termo que remete para a Natureza em estado bruto, naquilo que ela é de mais puro. Tanto assim é que, com frequência, nos esquecemos que nós próprios, humanos, também a integramos, também somos parte dela. E remete apenas para esse quinhão representado pela vida animal. No teatro essa fauna está sempre presente. Essa fauna artística, poética, selvagem e íntima está sempre presente uma vez que nesta forma de arte o homem dialoga em permanência, não apenas com os outros, mas sobretudo consigo mesmo.

No caso em apreço, a Flora, neste caso, está também presente remetendo-nos para o espaço envolvente, um espaço de ação humana anterior em que as plantas se encontram apesar de já não propriamente naturais, mas frequentemente confundidas com esse conceito.

VN Online | FaunaChama-se, provavelmente por essa razão. ou algo de muito semelhante, Fauna, o novo espaço de criação e programação artística de Vila Nova de Famalicão. Trata-se de um projeto artístico original criado fora dos grandes centros urbanos. A antiga vacaria da Quinta da Bem-Posta, em Joane, que também já serviu de local de eventos, é agora o novo centro gravitacional da produção e programação artística do Teatro da Didascália, cujo diretor artístico é Bruno Martins. O projeto, que possui um caráter inovador, respira o ar puro da natureza, criando a simbiose perfeita entre a criação da vida e a criação artística e cultural.

Há dez anos sedeada na vila de Joane, a companhia de Teatro da Didascália é promotora, entre outros eventos, do Festival Internacional Vaudeville Rendez-Vous, que percorre as as principais cidades do Minho – Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão, e dos Contos D’Avó, abriu recentemente o seu espaço multidisciplinar e artístico Fauna.

“Queremos cada vez mais desconstruir a ideia de um teatro convencional. Desde logo, estamos numa quinta, este espaço não era um teatro, era uma vacaria”, explicou o diretor artístico da Didascália, Bruno Martins. “Queremos que este local se torne num espaço de criação artística pessoal, que possa ser apropriado pelo público e não seja simplesmente um espaço de passagem institucional”. Por outro lado, “os criadores poderão olhar e envolver-se com este espaço e trabalhar artisticamente de uma forma transdisciplinar e híbrida”, acrescentando que todo o “espaço envolvente será também um palco.”

“Quem nos conhece sabe que trabalhamos o teatro fora de formato, cruzamos o movimento, a manipulação de objetos, o circo e a música, e aqui o público poderá esperar um pouco de tudo isto”, adiantou ainda Bruno Martins.

Para já, o Fauna estreou com “Territórios Dramáticos”, que decorreu desde o passado dia 18 até 27 de maio, como observatório dedicado à dramaturgia nacional. Por exemplo, nos primeiros dias, o espaço FAUNA foi transformado num museu de objetos que contavam histórias – o Museu da Existência – para depois ser apresentado um espetáculo de teatro sobre a força e a leveza do ar que nos rodeia. Este “Territórios Dramáticos” terminaria com Portugal e a sua presença em África como centro da sua ação mediante a apresentação de “Portugal Não É Um País Pequeno”, de André Amálio, que “reflete sobre a ditadura e a presença portuguesa em África, em particular a vida dos antigos colonos portugueses através dos seus testemunhos reais.”

Para além deste evento, o Fauna tem já definida uma programação cultural regular até julho. O diálogo entre arte e natureza marcará “Mater”, um ciclo de seis concertos no campo da música experimental, que decorre de junho a dezembro, com alusão ao Wu Xing, o conjunto de cinco elementos do naturalista chinês Tsou Yen – terra, madeira, água, fogo e metal. “É um ciclo pensado para dialogar com o espaço natural do espaço Fauna e que terá apresentações não só no espaço físico da sala, como no espaço exterior”, referiu Bruno Martins.  A outra iniciativa de raiz, “Música da Época”, arranca também em junho, já no próximo domingo, dia 3, e funde a cozinha e a música num só momento cultural, agendado para o primeiro domingo de cada mês. “Os músicos farão a música em função do que está a ser cozinhado, mas também a cozinha vai funcionar segundo os estímulos musicais”, afirmou o diretor do Teatro da Didascália, realçando a intenção de promover alimentos produzidos localmente.

Refira-se que o Teatro da Didascália, que conta com o apoio do Município de Famalicão, viu recentemente a sua candidatura na área dos cruzamentos disciplinares aprovada pela Direcção-Geral das Artes (DGArtes),  com uma das cotações mais altas do país, cerca de 176 mil euros em 2018 e 193 mil euros em 2019.

Refira-se que o espaço Fauna conta com uma sala não-convencional para a apresentação de espetáculos, rodeada por jardins e floresta, onde serão desenvolvidas e programadas obras em contexto site-specific. O objetivo passa por criar um ponto de encontro dos diferentes públicos no âmbito dos vários projetos transdisciplinares da companhia a nível local e regional, como o circo contemporâneo, o teatro, a música e o património. Um espaço de fruição artística alternativo a espaços culturais mais institucionalizados, o Fauna será ainda o local privilegiado no que respeita a um trabalho de desenvolvimento continuado dos públicos locais, através de iniciativas regulares de programação e formação.

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Imagem de destaque: A Cª. Radar 360 em ação – espetáculo Ilumina#Som (Teatro da Didascália; divulgação).

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Outras imagens: Teatro da Didascália (logotipo), Bruno Martins também trabalhou na preparação no novo espaço Fauna (Município de Famalicão; divulgação), cena de Brisa ou Tufão, de Mafalda Saloio (Teatro da Didascália; divulgação) e Música de Época (flyer).

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Categorias: Cultura

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