1.
Sou filho do fogo,
da terra lavrada,
da pedra e da água.
Sou do tempo e sou do vento.
do agora indefinível
do aqui indecifrável
E somos todos.
2.
O meu pai é rio e arvoredo,
minha mãe é flor e ave
E eu serei o que houver de ser
Por ousadia, inércia ou vontade
Mas não me posso ir embora,
Não posso profanar o segredo
Da minha fraterna ancestralidade
Nem ninguém pode
3.
Aqui emerso no fim do vértice
piramidal da eternidade,
Distendo na névoa infinita
o olhar para a base
inalcançável do seu princípio.
Ajoelho, então, e comovido,
agradeço à natureza, nossa mãe,
o colo que nos deu.
E peço perdão.
4.
Simultâneo, imerso no princípio
do vértice
piramidal da eternidade inversa, a ser,
acendo à noite contra o medo
cânticos a arder,
e contra a escuridão
a luz dos pirilampos.
E, numa última oração,
levanto as mãos,
pedindo a benção
para o sangue do meu sangue,
e protecção.
5.
Sou filho do fogo,
da terra lavrada,
da pedra e da água.
Sou do tempo e sou do vento.
do agora indefinível
do aqui indecifrável
E somos todos.