… não consigo dormir, nem pegar em nenhuma fotografia; em quase todas, tem um gato ao colo, lembrando as meninas de Renoir, dizendo de uma ternura por haver…
… e foi assim, para que fique escrito sem ser no tom frio com que nos servem as notícias à mesa: em tempo de peste, uma criança desaparece; vivia com quem não queria porque a mãe tinha que trabalhar; ela, o gato ao colo, a casa, o pijama, fazia frio e as horas eram muito longas porque ela era uma criança só… tinha aquele olhar doce de quem pede que seja olhado, testa pálida de quem tem muitos sonhos e aquele sorriso timidamente cordial de quem está à espera de ser escutado baixinho… os gatos vão sentir a falta do seu colo… os gatos vão dizer do colo roubado, da lua que tudo viu, das sombras na procura, do afago que não regressa jamais…
… mas continuando: não houve aldeia que não estremecesse, porque parecia que se vivia uma espécie de longa noite de natal com a família toda à mesa e pela sala, e no entanto surgiu a notícia de uma menina que se perdia pela noite…
… não fosse a memória um baloiço, jamais haveria natal nas aldeias… os gatos vão dizer da menina e do monstro por todo o sempre: há mãos que nem sempre embalam os berços; os algozes sempre tiveram mãos…
… era Valentina, de seu nome… todos os gatos no mundo falarão dela, para todo o sempre e jamais nas aldeias se voltará a olhar a lua sem lembrarem que ela viu o que os nossos olhos não viram, fazendo de todos nós, cegos errantes… e sempre que um gato miar na noite, haverá a certeza que é pela menina que ainda chama…
‘Colo’, de Teresa Villaverde, desvenda as crises: a económica e as outras
Imagem: Pierre-Auguste Renoir
**
*
A VILA NOVA Online é…
Se chegou até aqui é porque provavelmente aprecia o trabalho que estamos a desenvolver; e não pagou por isso.
A VILA NOVA é cidadania e serviço público: diário digital generalista de âmbito regional, independente e plural, é gratuito para os leitores. Acreditamos que a informação de qualidade, que ajuda a pensar e a decidir, é um direito de todos numa sociedade que se pretende democrática.
Manter e desenvolver a VILA NOVA
Como deve calcular, a VILA NOVA praticamente não tem receitas publicitárias. Mais importante do que isso, não tem o apoio nem depende de nenhum grupo económico ou político.
Você sabe que pode contar connosco. Estamos por isso a pedir aos leitores como você, que têm disponibilidade para o fazer, um pequeno contributo.
A VILA NOVA tem custos de funcionamento, entre eles, ainda que de forma não exclusiva, a manutenção e renovação de equipamento, despesas de representação, transportes e telecomunicações, alojamento de páginas na rede, taxas específicas da atividade.
O que lhe pedimos para a VILA NOVA?
Para lá disso, a VILA NOVA pretende pretende produzir e distribuir cada vez mais e melhor informação, com independência e com a diversidade de opiniões própria de uma sociedade aberta e plural.
Se considera válido o trabalho realizado, não deixe de efetuar o seu simbólico contributo – a partir de 1,00 euro – sob a forma de donativo através de netbanking ou multibanco. Se é uma empresa ou instituição, poderá receber publicidade como forma de retribuição.
Se quiser fazer uma assinatura com a periodicidade que entender adequada, programe as suas contribuições. Estabeleça esse compromisso connosco.
Contamos consigo.
*
NiB: 0065 0922 00017890002 91
IBAN: PT 50 0065 0922 00017890002 91 — BIC/SWIFT: BESZ PT PL
Paypal: pedrocosta@vilanovaonline.pt
Obs: envie-nos o comprovativo da transferência e o seu número de contribuinte caso pretenda receber o comprovativo de pagamento, para efeitos fiscais ou outros.
Obrigado pelo seu apoio e colaboração.
*