Não é dos horizontes que se espera mistérios
– talvez danças crepusculares –
mas do lugar presente, à hora do inferno, o inesperado
enigma do sangue que se liquefaz na solução dos oceanos.
Tantos deuses no epigrama do homem
– seguramente tempo perdido –
não evitam os ossos despedaçados, a despedida da memória
nos claustros secretos da infâmia cortês.
À história de outras latitudes desérticas
– provavelmente invisíveis –
adicionam-se páginas imprevistas de holocaustos cifrados
por águas negras e pestíferas.
E, diariamente, nas camas encharcadas pelos nascimentos
– se o desejo embala o futuro –
as orações e os brindes evitam saber que condenam
os nascituros à rebeldia da sobrevivência.
A matança do porco metaforiza no instante a sua existência.
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Luís Filipe Sarmento, in «Rouge», 2018 (inédito)
Obs: Luís Filipe Sarmento estará presente nas Raias Poéticas 2018. Participará na Mesa “DOBRAS-de-PENSAMENTO – A escrita não é uma imagem do mundo, mas um entrecruzamento de signos artísticos”, com Ronaldo Cagiano e Abreu Paxe..
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Imagem de destaque: José Lorvão