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Uma vez mais, o Município de V. N. de Famalicão festeja a “Festa de Maio, Flores & Trocas”, com a histórica “Batalha das Flores” incorporada no programa desde 2013, a qual se irá realizar no dia 13 de maio pelas 15h00 do corrente ano, fazendo já parte do cartaz turístico e cultural do Baixo-Minho.
Entre a Monarquia e a I República
As primeiras notícias na imprensa famalicense sobre a Batalha das Flores remontam a 1895. Nessa altura, a Batalha das Flores concretizava-se mais propriamente por alturas do Carnaval, segundo notícias mais concretas surgidas em 1900, 1905 (realizada em 24 de Abril, mais propriamente na segunda-feira de Páscoa, era constituída pela seguinte comissão: António Augusto Fiúza de Melo, Higino Veloso de Macedo, João Mânsio de Oliveira, Luís da Silva Carneiro, Artur Carvalho, Álvaro Moreira, António José da Costa e Daniel Moreira Gomes), e 1911.
A sua realização em Maio efectiva-se com a Comissão de Assistência às Vítimas da Guerra, atingindo aqui o seu apogeu na I República, em 1917 (8 de Maio), cujos donativos seriam doados aos expedicionários famalicenses, e em 1922 numa Festa da Flor organizada por uma Comissão de Senhoras, cujas receitas seriam a favor da Santa Casa de Misericórdia.
Com um calendário sempre muito incerto para a sua realização, só muito esporadicamente a “Batalha das Flores” seria realizada em V. N. de Famalicão, atingindo, contudo, uma nova projecção nas Festas Antoninas em 1959, 1960, 1961, 1962, 1963 e 1966.
As de 1898 ficaram além das expectativas, segundo comentário informativo do “Estrela do Minho” em 12 de Fevereiro (“A batalha das flores, fica apenas como recordação saudosa do que foi nos 3 anos passados. / Voltamos ao carnaval dos farrapilhas imundos e lorpas, com grunhidos avinhados, a soltar frases de calão baixíssimo. / Só nos resta emigrar, nos 3 dias; e bem fazem os galantes rapazes cá da terra, em fugirem para o Porto, a divertirem-se. Lá ao menos esquecerão a sua imperdoável falta de iniciativa, de bom gosto, em promoverem alguma diversão carnavalesca que jeito tivesse.”), o mesmo aconteceu nas de 1900, nas quais, para além do mau tempo, chegou a haver um incidente de percurso. Contudo, o resultado foi positivo. Veja-se a notícia do mesmo jornal, de 4 de Fevereiro nos seguintes termos: “O tempo foi implacável de invernia, com o carnaval. Chuva ininterrupta no domingo, tocada a vento, num redemoinho glacial. De modo que a batalha de flores deu em droga nesse dia. / Na terça gorda choviscos inesperados, nesgas de sol, fizeram como um jogo de escondidas, qual o que corria mais, perdendo, enfim, o sol que deu lugar a bátegas de chuva e granizo. / Ainda assim, como era pena perder-se tanto trabalho, lá saiu um momento a batalha de rosas, que teve menos duração do que as suas irmãs malherbianas. / Deu duas voltas, ao galope nervoso que os chicotes imprimiam nos cavalos pur sang… Chuva de flores foi disparada dos carros para as janelas e destas para os rapazes dos carros. Até aí muito bem; mas por que uns intrusos se meteram na cavalhada, algo se abusou com laranjas, milho e outros objectos, por demais banidos destes folguedos chegando a ferir uma senhora. / Isto é que não deve admitir-se e serve de aviso para noutros anos se não sair das flores, o mais fidalgo de todos os divertimentos do carnaval das ruas. / Demais correu bem e os carros, além de bastantes, apresentaram-se nem enfeitados, assim como os rapazes.”
Mas seriam as de 1905 que iriam entusiasmar a comunidade famalicense, segundo os jornais “O Regenerador” e o “Estrela do Minho”. Com a constituição de uma comissão organizadora, destacando-se o nome de Luís da Silva Carneiro, conhecendo-se a constituição dos carros participativos: Álvaro Moreira e Plácido Carvalho; João M. Oliveira e Jaime Oliveira; Rafael Marques e Adolfo Marques; António Costa e Luís Terroso; Armando e Maurício de Oliveira; António Melo; Guilherme Costa; Rodrigo Carvalho, Participaram ainda “os seguintes cavalheiros”: Francisco Dias, Júlio Santos, Daniel Gomes, António Gomes da Costa, Lino Simões e Domingos Mesquita. Com a participação da Banda dos Bombeiros Voluntários, o trajecto foi o seguinte: Campo Mousinho de Albuquerque, Rua Adriano Pinto Basto, Largo do Príncipe Real, Rua Municipal, Praça Conde de S. Cosme do Vale, Rua de Santo António, dando a volta pela Capela de Santo António “para fazer a apresentação dos batalhadores” (“Estrela do Minho”, 16 Abril 1905, p. 2).
Em 1911, os famalicenses puderam assistir no Olympia à actuação do Grupo de Teatro da Associação dos Empregados no Comércio, tendo sido os intervalos animados, para se concretizar mais um cortejo da “Batalha das Flores”. O “Estrela do Minho”, em 5 de Março, relata o acontecimento de seguinte forma: “Não se pode dizer que não tivesse entusiasmo e fosse catita na nossa terra, o carnaval deste ano. / Os rapazes da classe comercial, com aquela boa vontade que os caracteriza e levados pelo entusiasmo fogoso da mocidade, deram, honra lhe seja, umas horas bem passadas aos famalicenses. / Principiou pelo espectáculo peças bem desempenhadas, que não ficavam mal em uma cidade e desempenhadas por artistas de profissão. Por isso foram largamente palmeados os amadores do espectáculo, assim como o sr. Alípio Guimarães, seu ensaiador, a quem também cabem as honras do belo êxito quer os rapazes atingiram. / A casa estava à cunha, destacando-se grande quantidade de damas que davam à sala uma nota alegre e distinta. / Nos intervalos as serpentinas cruzaram-se aos milhares, à mistura com confectis e raminhos às eleitas… / Jogou-se enfim o carnaval com todo o entusiasmo. / Na terça-feira, também a batalha de flores deu uma nota de distinção ao carnaval da nossa terra. Em meia dúzia de carros, qual deles o mais bem adornado e com arte que denotava apurado gosto, os nossos rapazes, fidalgamente entrajados, fizeram da rua 5 de Outubro o corso da sua grande batalha., em que as flores para as janelas e vice-versa foram atiradas com fogoso entusiasmo, o que foi aclamado por numerosos espectadores que estacionavam nas ruas. / Um bravo, pois, aos nossos rapazes pelo excelente carnaval que este ano exibiram em Famalicão.”
Por seu turno, em 1917, com a constituição da Comissão Promotora da Venda da Flor, novo apogeu atingiu a “Festa da Flor”. Efectivamente, quando Manuel Pinto de Sousa (a exemplo do que se passou em Lisboa, já que as “senhoras de Lisboa iniciando a venda de flores em todas as casas da capital, em favor dos nossos soldados feridos na guerra”, que “acabam de dar um exemplo nobilíssimo de solidariedade humana e ao mesmo tempo patriótico”, conseguindo juntar “num só dia mais de trinta mil escudos”) lança o apelo para que em V. N. de Famalicão se imite “essa grande obra pelas senhoras da nossa terra” (num texto de 15 de Abril), os textos de propaganda do então jovem publicista e jornalista Alexandrino Costa à volta da Venda da Flor (de 22 e de 29 de Abril), a sociedade feminina famalicense respondeu positivamente. Com a sede na Casa Bancária Brandão & C.ª, cedendo “o escritório e salas do primeiro andar”, a Comissão Promotora da Venda da Flor em V. N. de Famalicão, será constituída pelas seguintes senhoras: Presidente, Viscondessa de Pindela; Vice-Presidente, Amália L. de Macedo Chaves de Oliveira; Tesoureira, Mariana Folhadela de Macedo; Secretárias, Maria da Glória Ferreira Macedo Sampaio e Maria Bertila Garcia de Carvalho. Paralelamente, presidiram aos grupos então denominados de veindeuses, além das senhoras da comissão, Estela Nunes Sá Brandão, Mariana Macedo Simões, Albertina Machado, Elisa Veiga e Cunha, Silvina Gomes, Cândida Carneiro, Balbina Veloso Macedo, Maria da Glória Bouças, Júlia Carvalho e Rosalina Ilhão Peixoto. O texto de apresentação da referida comissão foi o seguinte, de 29 de Abril:
Mulheres e flores! Tudo o que a natureza criou de mais belo vai, em conjunto, alegrar a nossa terra, numa encantadora festa, da qual resultará o auxílio às vítimas da guerra. / Enquanto nos campos de batalha os homens pelejam encarniçadamente em defesa da liberdade, as mulheres, sempre dedicadas e previdentes, reúnem-se para angariar socorros para as vítimas dessa terrível hecatombe, que ameaça arrasar o mundo inteiro! Enquanto pais, filhos e irmãos arriscam a vida com o despreendimento e abnegação de verdadeiros heróis, as mães, filhas e irmãs, preparam o lar para receberem com alegria os que voltarem sãos, e com verdadeiro carinho, os que a fatalidade trouxer inválidos e doentes. As damas de Famalicão, mensageiras da cruzada do Bem, vão no dia 8 de Maio, angariar donativos para as vítimas da guerra. Quem lhes negará o seu óbolo? Em troca duma flor gentilmente oferecida, ninguém deixará de auxiliar a obra bendita do socorro aos nossos soldados.
A Comissão Promotora da Venda da Flor organizou o seguinte programa para a Festa da Venda da Flor, a qual se realizou a 8 de Maio, constando de nove zonas geográficas, distribuídas pela então Vila de Famalicão: Estação, Campo da Feira, Bandeirinha e Cruz Velha, Rua Adriano Pinto Basto, Campo Mouzinho de Albuquerque (lado direito e lado esquerdo), Rua Cinco de Outubro, Rua Direita e Praça Conde São Cosme do Vale. Para além de alguns donativos, e na crónica de 13 de Maio, com o título “A Festa da Flor”, os famalicenses souberam que a Venda da Flor foi um êxito, merecendo destaque na “Ilustração Portuguesa”, de 28 de Maio.
Estado Novo
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Incluída desde o início nas “Festas Antoninas”, nas de 1960 já era conhecida a sua Comissão, assim constituída e acrescentada a organização dos Grupos Folclóricos: Amadeu Mesquita, Fernando da Silva Soares, Padre António José de Carvalho Guimarães e José Casimiro da Silva.
Em 1961, acrescentava-se, às personalidades do ano anterior, os Bombeiros Voluntários e Famalicenses e Rebelo Mesquita. Em 1962, acrescentam-se os nomes de José de Assunção Teixeira de Mesquita Guimarães e de Carlos Ilhão Peixoto. Um dos objectivos desta comissão era a incorporação de todas as freguesias no cortejo da “Batalha das Flores”.
Será nas de 1962, apesar das imagens publicadas em 1961 e em 1966 no “Estrela da Manhã, que se conhecerá detalhadamente os carros participativos no cortejo da “Batalha das Flores”. Estiveram presentes, os quais abriram o cortejo, como no ano transacto, seis praças de Cavalaria do Batalhão n.º 4 da Guarda Nacional Republicana, do Porto, “com os seus uniformes de gala”. O cortejo foi constituído pelos seguintes carros: à frente, o carro do Ateneu Comercial e Industrial, seguidos pelos carros do Grupo Recreativo da Boa Reguladora, o Rancho de Gondifelos, da «Sopegral», dos tractores «Delta», do Rancho da Casa do Povo de Fradelos, o da «Socoli», de M. J. Moreira & Filhos, Ld.ª, o de Alves, Oliveira & Machado. Foram seguidos pelos carros do «Casal do Seara», da «Escola de Condução Famalicense», guardados pelo Rancho Infantil de Bem-Fazer (Bairro), o carro da «B. P.», o de Joaquim Moreira de Jesus e o Rancho da Casa do Povo de Requião, seguido pelo carro «Branco, Ferreira & Mendes», estando a servir-lhe de guarda o Rancho da Casa do Povo de Joane. Depois, apresentava-se o carro da «Fundição da Cegonheira» e atrás de si o Rancho Infantil de Vermoim. Finalmente, o carro do Grémio do Comércio. Ficam aqui umas linhas orientadoras para um trabalho mais vasto sobre a “Batalha das Flores”, num contexto histórico e sociológico no concelho de V. N. de Famalicão.
Tudo tem um começo.
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Imagem de destaque: Batalha das Flores” na atualidade (Passos Zamith – An by An; fotografia).
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