Com o Natal quase à porta, o Lucky Star – Cineclube de Braga, nas primeiras duas terças-feiras do mês de Dezembro, vai exibir dois filmes dedicados a esta quadra festiva, como tem sido hábito desde a sua fundação no final do ano de 2015. São eles A minha noite em casa de Maude, de Erich Romer, e Lembra-te daquela noite, de Mitchell Leisen.
Erich Rhomer confronta personagens com teatro de desejos e razões
Terceiro dos Seis Contos Morais de Éric Rohmer, situado depois de “La Boulangère de Monceau” e “La Carrière de Suzanne”, e antes de “A Coleccionadora”, “O Joelho de Claire” e “O Amor às Três da Tarde”, “A Minha Noite em Casa de Maud” é o filme que se exibe no dia 5 de Dezembro às 21h30.
Com Jean-Louis Trintignant, Françoise Fabian e Antoine Vitez nos principais papéis, o filme retrata o regresso de um jovem engenheiro à cidade de Clermont-Ferrand durante a semana de Natal. Quando um amigo o encontra por acaso, convida-o para uma ceia de Natal na casa de uma amiga divorciada, Maud, e durante a consoada falarão os três um pouco sobre tudo, da moral à religião. No final, Maude acaba por acolher um dos convidados – que certamente já adivinharam ou sabem quem – na sua cama.
No seu livro Sur un art ignoré – La mise en scène comme langage, o crítico francês Michel Mourlet escreveu que “em 1969, A Minha Noite em Casa de Maude surgiu-nos como o filme francês mais sério, mais inteligente, mais original e um dos mais compreensivos dos verdadeiros caminhos do cinema que tínhamos visto há cerca de uma década.”
Por seu turno, no Diário de Notícias, o crítico João Lopes sintetizou deixou claro que o que “Rohmer coloca em cena é a poderosa erotização da palavra. A noite de Jean-Louis em casa de Maud é, afinal, um teatro de desejos e razões em que a exigência moral do catolicismo que ele professa se confronta, ou melhor, literalmente dialoga com a inteligência ágil e livre dela. Se quisermos jogar com o uso corrente das palavras, diremos com desconcertante objectividade: Jean-Louis não dorme “com Maude”, mas acaba por dormir “na cama dela”.
Lucky Star – Cineclube de Braga encerra 2023 com filme clássico do Natal por Mitchell Leisen
No dia 12, exibe-se Lembra-te Daquela Noite, realizado por Mitchell Leisen e escrito por Preston Sturges. Protagonizado por Barbara Stanwyck e Fred MacMurray, que depois contracenaram juntos em “Pagos a Dobrar” de Billy Wilder e “There’s Always Tomorrow” de Douglas Sirk, o filme talvez seja o grande clássico esquecido de Natal do cinema americano.
Este filme clássico da época de Natal, realizado em 1940, descreve os infortúnios de Lee Leander, que é detida por roubar uma pulseira numa joalharia de Nova Iorque e começa a ser julgada pouco antes do Natal. O advogado da acusação, John Sargent, pede que se adie o julgamento para que os jurados não se deixem induzir pelo espírito natalício.
Frank S. Nugent, futuro argumentista de John Ford, Stuart Heisler ou Raoul Walsh, elogiou o filme no “New York Times” durante a estreia, descrevendo-o como “um drama expresso nos termos humanos mais simples da comédia e do sentimento, da ternura e da generosidade.”
No blogue A Janela Encantada, JC Maltez deixou uma indicação da iniludível adequação deste filme à época natalícia. “Um pouco em jeito de comédia romântica (temos o tom bem disposto, e o par que se conhece em circunstâncias curiosas e vai ter de ultrapassar obstáculos para assumir o seu amor), Lembra-te daquela Noite é acima de tudo um filme que apela à importância dos valores familiares, da tradição, amizade e amor entre as pessoas”, valores claramente associados a este período do ano.
As sessões do Lucky Star – Cineclube de Braga ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva às terças-feiras às 21h30.
A entrada custa um euro para estudantes e utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
Imagens: 0) Erich Rohmer 1) LS-CdB
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