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Batatas com bacalhau

 

 

Aproxima-se o Natal a passos largos e as batatas com bacalhau são o prato mais desejado por quase todos. Nos dias anteriores vivemos o Advento. Esse tempo de espera, de recolhimento e de jejum. Sim, de jejum! Nestes tempos loucos de correria, de compras e de jantares de confraternização quem se lembra do Advento? Muito menos do jejum!

Mas todos (quase todos) vão querer comemorar a chegada do Menino Deus com uma mesa recheada de bom bacalhau, e outros peixes, que em tempos passados se comercializavam secos. Falamos do polvo, da cascarra, que ainda se consome em Vila do Conde e arredores, e do litão, mais típico na região de Olhão. Todos se comiam e comem tradicionalmente durante os tempos de Inverno, quando os barcos não podem ir ao mar.

De todos estes peixes o bacalhau ganhou terreno. Pescado bem longe da costa portuguesa, tornou-se paulatinamente o alimento quotidiano dos portugueses e também o da mesa de Natal. No século XX, ao tempo do estado novo, houve até alguma pressão política que levou ao aumento do consumo deste peixe, em detrimento de outros, especialmente do polvo.

Contudo a pergunta impõe-se: porque comemos bacalhau na noite de Natal? A prática religiosa católica assim o impunha. E lá voltamos ao Advento e ao tempo de abstinência e jejum que a Igreja impunha. É que o peixe era considerado pouco nutritivo e pouco saudável e, por isso, propício para tempos mais contidos em termos alimentares. Ora, a véspera de Natal é o último dia do Advento, logo tempo de comer peixe.

Havendo esta obrigatoriedade, e porque era mais difícil haver sardinha, as gentes do povo recorriam ao peixe seco: bacalhau, polvo, cascarra, litão… Peixes mais baratos e mais populares que não entravam às mesas nobres. Estes comiam pescada, que também se comercializava seca, mas era de todos o peixe mais caro, congro ou lagosta, pescados pelos poucos pescadores que se aventuravam ao mar!

Do bacalhau, dizia-se no séc. XVIII que era “alimento dos pobres e dos rústicos e próprio para pessoas que trabalham e se exercitam muito. Não se deve dar a pessoas delicadas, nem nas que passam vida sedentária”. Era, pois, um alimento que não entrava na mesa dos mais ricos que tinham uma vida mais ociosa.

A acompanhar o peixe, a gente pobre recorria às couves da horta, das poucas hortaliças que sobrevivem às longas noites, frias e nevadas do Inverno. Aqui no Minho dá-se primazia à couve-galega, mais rústica, de sabor mais forte, enquanto mais a sul se prefere a “penca” ou “espanhola”, ou “portuguesa” ou “murciana”, conforme lhe queiramos chamar. É uma couve mais suave e, depois de bem queimada pela geada, muito mais tenra.

Tudo isto acompanhava, até ao séc. XIX, com pão e nabos, outro dos legumes que abunda no tempo frio, ou rabas, ainda hoje apreciadas pelos transmontanos. Couves, nabos e cebolas eram os legumes mais produzidos pelos mais pobres e que alguns senhores, em terras coutadas, obrigavam os camponeses a produzir. Em meados do séc. XIX, a batata começa a entrar na ceia de Natal. Oriunda da América do Sul, já era conhecida desde o século XVI, mas não foi logo apreciada pelos portugueses que a chamavam castanha da Índia e a consideravam pouco nutritiva. Lentamente foi entrando na mesa e acabou por tornar-se um dos acompanhamentos principais.

Chegamos assim ao século XX com uma ceia de Natal constituída por batatas, couves e bacalhau. Os mais ricos continuaram a resistir, mas, ao longo do séc. XX, foram interiorizando este peixe de rústicos e aprenderam a cozinhá-lo com requinte. Todavia a simplicidade dos mais pobres vingou e tornou-se tradição e, mais do que isso, símbolo da mesa natalícia, regado com o bom azeite português.

Hoje a ceia de Natal é constituída por uma lauta refeição em contraste com a abstinência e jejum que o Advento impõe. Mas disso havemos de falar noutra altura!

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Imagem: Like3ZA

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