“A paixão pode magoar, mas é tudo o que há de mais maravilhoso”. Estas palavras, que são um título de uma entrevista a Cristina Margato, no Expresso, sintetizam tudo o que se sente e vive na literatura de Maria Teresa Horta. “Uma pessoa que escreve tem de entender de onde vem: eu sou a minha poesia”, complementou, na altura.
Jornalista e escritora, Maria Teresa Mascarenhas Horta – uma das Três Marias autoras das Novas Cartas Portuguesas – editou a sua primeira obra poética, em 1960, intitulada “Espelho Inicial”, e ficado associada ao coletivo “Poesia 61”.
Mas antes disso frequentou a Escola Secundária D. Filipa de Lencastre e, posteriormente, a Faculdade de Letras em Lisboa. Segundo afirmou, em tom humorístico, nasceu a 20 de maio de 1937, em Lisboa, “na biblioteca” do seu pai. “Deixo de ser muda quando começo a escrever. A escrita era uma falta de expressão fundamental na minha vida. Resolvo escrever romances mal sei escrever. Comecei nos cadernos do meu pai, nos que ele não queria mais e onde deixava quase sempre no final, vá lá saber-se porquê, quatro páginas em branco. Mas os meus romances eram sempre amorais. Ainda tenho um desses textos na minha mão que a minha mãe guardou”. Já “a poesia sou eu. A ficção não. Na ficção introduzo-me, construo, e é um deleite, e enfio toda a minha poesia lá dentro. Construo da parte de dentro”.
Viver insubmissa num país machista
Destacando-se desde sempre na luta pelos direitos das mulheres, Maria Teresa Horta teve e mantem um discurso político “empenhado” e “categórico”, que não vira “a cara para o lado, sem espaço para a condescendência”, bem como para o compromisso incoerente, conforme referiu Anabela Mota Ribeiro na introdução de uma outra entrevista que a escritora concedeu.
A escritora desenvolveu participação ativa em movimentos feministas em Portugal apoiando a luta pelos direitos das mulheres. Colaborou em jornais e revistas como o “Diário de Lisboa”, “Diário de Notícias”, “JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias”, “O Século”, “A Capital” e também foi chefe de redação da revista “Mulheres”, a convite do Partido Comunista Português, do qual foi militante entre 1975 e 1989. Esta revista, um projecto pessoal de Maria Teresa Horta, consistiu num projecto feminista, de forte cunho essencialista. Aí publicou diversas entrevistas com mulheres de relevo da política, da literatura e da cultura, em geral, entre elas Maria de Lourdes Pintasilgo, Marguerite Yourcenar, Marguerite Duras e Maria Bethânia.
Maria Teresa Horta foi também a primeira mulher a dirigir o ABC Cineclube de Lisboa e, na área do cinema, realizou também a curta-metragem “Verão Coincidente”, com base num poema seu publicado em 1962, em co-autoria com António Macedo.
Versos e transversos
Co-autora com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa das “Novas Cartas Portuguesas”, publicada em 1972, cujo conteúdo gerou grande controvérsia, ficando conhecidas como “As Três Marias”, devido ao processo judicial que as levou a responder em tribunal – “Processo das três Marias”, é autora de diversas obras de poesia.
“Espelho Inicial” seria a primeira obra, lançada em 1960, mas com “Minha Senhora de Mim”, em abril de 1971, incomodaria, de forma séria, ‘os bons costumes’ do Estado Novo de Salazar que não perdoava às mulheres a escrita erótica. Snu Abecassis ficou avisada de que a sua editora – D. Quixote – seria encerrada caso repetisse ‘a brincadeira’.
Entre outros, seguiram-se “As mulheres de Abril” (1976) ou “Os Anjos” (1983). Com o livro “Poesia Reunida (1960-2006)”de 2009, que coligiu 17 títulos da sua obra poética publicada em Portugal, recebeu o prémio Máxima Vida Literária em 2010. Publicou ainda, no âmbito da poesia, em 2012 “As Palavra do Corpo” (Antologia de Poesia Erótica) e “Poemas para Leonor”. Em 2016, publicou “Anunciações” sendo galardoada com o Prémio Autores de 2017, na categoria de Melhor Livro de Poesia. Em 2017, publicou “Poesis”, e, em 2018, “Estranhezas”, com que arrecadou o Prémio Literário Casino da Póvoa no Correntes d’Escritas, de 2021.
Um poema: Gozo IX
Ondula mansamente a tua língua
de saliva tirando
toda a roupa…
já breves vêm os dias
dentro de noites já
poucas.
Que resta do nosso
gozo
se parares de me beijar?
Oh meu amor…
devagar…
até que eu fique louca!
Depois… não vejas o mar
afogado em minha
boca!
Para lá da poesia
Ainda que mais conhecida pela sua obra poética, Maria Teresa Horta destacou-se também no romance com obras como “Ambas as Mãos Sobre o Corpo” (1970), o primeiro livro de ficção da autora, “Ema” (1984) obra com a qual conquistou o Prémio Ficção da revista Mulheres, “A Paixão Segundo Constança H.” (1994) e “As Luzes de Leonor: a marquesa de Alorna, uma sedutora de anjos, poetas e heróis” (2011), publicação com qual recebeu o prémio D. Dinis 2011 da Fundação Casa de Mateus. É, ainda, autora do livro de contos “Meninas”, publicado em 2014. Em 2019, publicou “Quotidiano Instável”, uma antologia de crónicas escritas entre 1968 e 1972. “Quase um romance”, diz-se ainda deste livro come “interesse literário, político e social”, uma vez que parte do título da coluna publicada por Maria Teresa Horta no suplemento «Literatura & Arte» do jornal A Capital. título da coluna publicada por Maria Teresa Horta no suplemento «Literatura & Arte» do jornal A Capital que, sendo de início um espaço de crónica, assumiu progressivamente um carácter ficcional, especialmente notório quando reunidas em livro.
Em 2004 foi condecorada com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Em 2014, Maria Teresa Horta recebeu o Prémio Consagração de Carreira pela Sociedade Portuguesa de Autores e em 2020 obteve a Medalha de Mérito Cultural, pelo Ministério da Cultura.
Maria Teresa Horta esteve proposta pela Sociedade Portuguesa de Autores para o Nobel da Literatura em 2019.
Em “O Cânone”, recente coletânea de 50 ensaios sobre grandes autores da Língua Portuguesa, organizado por António M. Feijó, João R. Figueiredo e Miguel Tamen, e editado pela Tinta da China e Fundação Cupertino Miranda, em 2020, Maria Teresa Horta encontra-se representada juntamente com Maria Barreno e Maria Velho Costa, com o texto “Três Marias”.
Autora da Semana com 10% de desconto sobre o preço de capa na FCM
Sendo certo que esta é uma época propícia à frequência de feiras do Livro, como as que decorrem em Barcelos e Braga, não faltam outros motivos de interesse para nos deslocarmos às livrarias ou encontrarmos o que procuramos online. Esta semana, a Fundação Cupertino de Miranda destaca Maria Teresa Horta como autora da semana. Aproveite, por isso, para visitar a livraria da FCM e conhecer as obras da escritora e jornalista portuguesa, beneficiando de 10% de desconto em artigos da autora, entre os dias 9 e 15 de julho.
Poesia
- Espelho Inicial (1960)
- Tatuagem (1961)
- Cidadelas Submersas (1961)
- Verão Coincidente (1962)
- Amor Habitado (1963)
- Candelabro (1964)
- Jardim de Inverno (1966)
- Cronista Não é Recado (1967)
- Minha Senhora de Mim (1971)
- Educação Sentimental (1975)
- As Mulheres de Abril (1976)
- Poesia Completa I e II (1960-1982) (1982)
- Os Anjos (1983)
- Minha Mãe, Meu Amor (1984)
- Rosa Sangrenta (1987)
- Antologia Poética (1994)
- Destino (1998)
- Só de Amor (1999)
- Antologia Pessoal – 100 Poemas (2003)
- Inquietude (2006)
- Les Sorcières – Feiticeiras (2006) edição bilíngue
- Cem Poemas + 21 inéditos (2007)
- Palavras Secretas (Antologia) (2007)
- Poemas do Brasil (2009)
- Poesia Reunida (1960-2006) (2009)
- As Palavras do Corpo (Antologia de poesia erótica) (2012)
- Poemas para Leonor (2012)
- Poesis (2017)
- Estranhezas (2018)
- Eu sou a Minha Poesia (2019)
Ficção
- Ambas as Mãos sobre o Corpo (1970)
- Novas Cartas Portuguesas (1971) (obra conjunta))
- Ana (1974)
- O Transfer (1984)
- Ema (1984)
- A Paixão Segundo Constança H. (1994)
- A Mãe na Literatura Portuguesa (1999)
- As Luzes de Leonor (2011)
- A Dama e o Unicórnio (2013)
- Meninas (2014)
Crónicas
- Quotidiano Instável (1968-1972) (2019)
Maria Teresa Horta vence Prémio Literário do Casino da Póvoa do Correntes d’Escritas
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Imagens: (0) MTH/edVN, (1) FCM/edVN
A brutalidade da minúcia: instantâneos a partir de Rui Nunes
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