Queremos ser livres, mas recusámos conhecer-nos, estamos sempre fora de nós-mesmos, capturados pela máquina social.
Para combatermos a morte temos que enfrentar as causas e os efeitos, fugindo da crendeirice, dos instintos-dos-carneirismos, das superstições, dos sensos-comuns, do medo, do pânico, dos afectos tristes, dos politiqueiros-coronéis, das identidades-déspotas reguladoras desse mundo rebaixador da vida_____voluteamos no devaneio, na loucura, no delírio, na paixão.
Todo o grande amor quebra o tempo cronológico. No grande amor o tempo é louco, insano e criativo, o tempo sai dos eixos sem data, sem história, sem destino___o tempo do grande amor exalta a diferença e produz um corpo entre corpos que é um corpo que produz tempo mais presente que o actual, mais real que o real: o ÉLAN do infinito no movimento finito!
Não quero que me entendam, quero que me amem diferentemente! Não quero solidariedade, quero alegria dos generosos! Não quero a felicidade, quero acontecer singularmente! Não quero esperanças, quero esperas contemplativas, intervalos de tempo para intensificar a duração do instante no meu corpo! Não quero piedades, quero a força dos afectos( ESTAMOS fartos de culturas piedosas e completamente entorpecidas, anestesiadas, viciadas no conforto imbecil e no nada).
Queremos ser livres
Queremos ser livres, mas recusámos conhecer-nos, estamos sempre fora de nós-mesmos, capturados pela máquina social. O nosso espírito está completamente preso, queremos controlar todos os fluxos do corpo e da vida e ficamos paranóicos, passamos toda a vida deslumbrados pelo reconhecimento, a vida passa e não sabemos aquilo ” que o corpo pode”. Raramente sentimos a alma inteira dentro de nós, somos demasiado covardes, estamos tolhidos pelo medo: não estamos acontecer, não criamos, não somos donos da nossa própria vida!
Tocar a eternidade
Spinozamente, só me discirno, diversifico de alguém por meio das afluências, das velocidades, das pausas, das retardações e sem finalidades, sem mandamentos porque o CORPO é maior que a consciência, sim, superior às percepções que temos para o alcançar e compreender! Quem não entender as razões do seu sofrimento, das suas dores, julgará os outros, viverá servo da ignorância, do geocentrismo, será escravo de imagens e de preconceitos, falará mal da vida e dos outros, lamentar-se-á permanentemente, ficará dentro do efémero, dos arcabouços da piedade, tornar-se-á vítima de tudo o que lhe acontece. A vida é sempre um processo contínuo que nos estimula a captar o infinito no finito, a ver as relações de perseverança, de tenacidade no pequeno e no maior. Assim nos aproximaremos de deus abraçando-o sem cobranças, sem hierarquias, sem transcendências, sem rezas, sem temores, sem medos, sem peditórios, sem dízimos, misturando-nos intensamente dentro da natureza porque as várias partes do mundo se interseccionam, sim, deus não é uma distância, é o desejo que se constrói a si próprio, é a dobra de si mesmo, deus produz-se a si mesmo, a natureza produz-se a si mesma e nós somos natureza: a realidade nada tem a ver com as contingências, mas é uma força que atravessa os horizontes, as constâncias em incessantes relações que nos fazem reinventar, atingindo possíveis forças salvíficas, tempos puros, é o vigor do conatus e do amor fati, é a consistência dentro da liberdade porque a “ética jamais será uma Bíblia”, sim, urgente evitar ” cada um por si e deus contra todos”, fugir com todas as forças ao ” Deus acima de todos” e ir ao encontro de ” cada um por todos e deus com todos” : acontecer como equilibristas afectivos do devir-mundo para tocarmos na eternidade, sermos espontâneos e singulares!
Tornámo-nos escravos
Tornámo-nos escravos quando não afirmámos a existência, esquecemos o corpo, produzimos ladaínhas ressentidas contra o mundo, vivemos em circuitos fechados. O medo de experimentarmos as forças da liberdade faz-nos ser bajuladores da prisão e da moral porque a ética desaparece e a servidão ressurge com todas as garras. Fazer da ética uma cartilha religiosa é sustentar a covardia e quando a ética sucumbe, a ignorância e o horror ao mundo, ao tempo e ao intensivo começam a predominar, sim, o assujeitado e o escravo de ideais sentem que a imbecilidade e a boçalidade são os sustentáculos de toda a sabedoria. Toda a impotência que os atravessa é assimilada como uma grande recompensa… acreditam num Deus que está sempre à distância e os absolverá porque sobrevivem e cultivam o sofrimento e o flagício. Um homem que desconhece completamente a força mutante da PIETÁ simultaneamente se torna uma besta, abomina e elimina o animal criativo em si, afasta-se da natureza, espera desesperadamente pela salvação depois da morte, cria mitos e senhores para gerirem a sua própria vida. Não consegue produzir novos modos de vida, é um miserável, mesmo com imenso dinheiro, poder e património securitário.
A vida é e a morte será
Se a vida é risco, é pensamento, é invenção, é negação teleológica e das causas finais____o culto da morte é e será sempre nosso inimigo. É inimigo também da ética, da arte, dos acontecimentos estéticos( o homem não POSSUI LIVRE ARBÍTRIO, ele vive nas e das intensidades em devir e jamais viverá quando se assujeita a uma moralidade que “substituiu o deus-morto”)________para combatermos a morte é necessário recomeçarmos sempre criativamente sem idealismos, sem antropomorfizar a realidade, sem filosofias da finitude, sem filosofias mortificadas, agoniadas, mas atravessadas pela incomensurável “potência da batida germinal” afectadora de relações hápticas-dinâmicas que recriam, experimentam imanentemente o mundo, fora das “interpretoses” e das classificações dicotómicas, dualísticas tão sugadas pelas intenções providenciais. Para combatermos a morte temos que enfrentar as causas e os efeitos, fugindo da crendeirice, dos instintos-dos-carneirismos, das superstições, dos sensos-comuns, do medo, do pânico, dos afectos tristes, dos politiqueiros-coronéis, das identidades-déspotas reguladoras desse mundo rebaixador da vida_____voluteamos no devaneio, na loucura, no delírio, na paixão: estas correntezas fazem parte de nós-inumanamente num caos acentrado, num labirinto acentrado. Enfrentamos a pré-vida do acontecimento em devir, em ritornelo paradoxal: este ritmo implode antes do corpo que povoa, valoriza, fortalece o tempo-incorporal constituído de “coexistências inconscientes” ( relembrando PROUST e LEIBNIZ).
SIM, o nosso corpo
Assim, seremos espiritualizados fragmentariamente pelo real irrepresentável, inesgotável, pelo atemporal feito de instantes eternos, de singularidades a-formais positivas____________ tornamo-nos num espírito propulsionado, animado pelas multiplicidades possíveis da imaginação, do pensamento, abrindo o corpo ao mundo, sim__ evitando ininterruptamente que o corpo seja avassalado, amansado, esquadrinhado adentro duma cremalheira de poder antropocêntrico, responsável pela tremenda covardia existencial, pelas essências das lógicas divinas-moralistas( tão em voga!) e por uma natureza utilitarista que nos provoca impotência, transformando-nos num asilo circunscrito pelo julgamento do certo e do errado, …SIM____nosso corpo questiona a expectação da própria resposta por meio de um olhar-grito para assimilar o seu espaço mais interior que despontará nas superfícies em desdobramento porque se nutre do desejo do caos, devorando, perfurando, percepções_____é esse o corpo escavador, lenhador, escalador de forças cósmicas, é esse o corpo que busca o silêncio-acústico ao atravessar os desertos de transmutações contínuas, esse corpo cartográfico, coreográfico que tangencia o caos com a extrema lucidez, com a tensão dos olhares já-fora de si mesmos onde os traços perceptivos serão ininterruptamente inobjectiváveis, intermitentes, interrogativos____esse CORPO feito de forças vivas, sente que o sujeito e objecto se dissolvem por meio de entrecruzamentos não-verbais, de formas aformais absorvidas e expandidas simultaneamente pelos magnetismos do mundo!
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Obs: publicação original na página facebook de Luís Serguilha. A presente edição sofreu ligeiras adequações editoriais.
Imagem: LS
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