Um pouco por todo o mundo, organizações, cidadãos e mesmo governos têm vindo a comunicar e implementar propostas no sentido de reduzir a utilização de plástico, em especial nas suas formas descartáveis, isto é, de utilização única.
Nos últimos anos ocorreram mudanças estruturais na forma como olhamos para o plástico. Desde a proibição de algumas utilizações (palhinhas, copos, pratos e talheres descartáveis), passando pela taxação de outras (como aconteceu com os sacos de plástico leves) até à implementação de um sistema de depósito para embalagens de bebidas (semelhante ao existente – ainda que com pouco fôlego – para as embalagens reutilizáveis) que entrará em funcionamento em Portugal em janeiro de 2022.
Estamos perante medidas que só se tornaram possíveis porque, aos dados científicos e às evidências no terreno sobre os reais impactos da nossa utilização desregrada de plástico descartável, se associou uma forte visibilidade pública da causa e mobilização social em seu torno.
Contudo, nem tudo são boas notícias.
Higiene e produtos descartáveis de proteção individual
A atual crise de saúde pública veio criar um novo espaço para o crescimento do descartável, que é urgente travar. Se na área da saúde se compreende a necessidade (para já) de apostar em produtos descartáveis, já em contexto social, com o progressivo regresso de várias atividades económicas e uma maior mobilidade da população, não é compreensível, nem desejável que esta utilização do descartável se mantenha.
É importante termos presente que estamos perante um vírus que pode ser eliminado com água e sabão. Aliás, essa é considerada a medida mais eficaz de combate ao vírus – uma boa higiene das mãos -, acompanhada do distanciamento social e da etiqueta respiratória que engloba a utilização de máscara reutilizável quando em espaços fechados.
O facto é que são as próprias autoridades de saúde a defender o recurso ao reutilizável no caso das máscaras para uso social, visto serem adequadas para proteger os outros no caso de estarmos infetados sem o sabermos e permitirem garantir que quem realmente necessita de máscaras cirúrgicas lhes conseguirá aceder, e a desaconselhar o uso de luvas em contexto social.
A Organização Mundial da Saúde é muito clara ao desaconselhar a utilização de luvas em contexto social, visto dar uma sensação errada de maior segurança, quando pode ser exatamente o oposto, visto que se contaminarmos a luva, rapidamente espalharemos essa contaminação para outros locais e objetos em que toquemos. Já com as mãos a consciência tende a ser outra.
Para mais, não existem ainda estudos que comprovem a transmissão do vírus de superfícies para os humanos, mesmo que existam estudos que comprovam que o vírus se pode manter ativo, no máximo, por 72h, em alguns materiais como o plástico. De qualquer modo, a higienização frequente das mãos, o uso de máscara (de preferência reutilizável) e o distanciamento social são as melhores medidas de prevenção.
Uso de produtos descartáveis aumenta risco de crises com enorme potencial de impacto negativo
Quando pensamos noutros setores, como o da restauração, turismo, cabeleireiras e barbeiros, entre tantas outras atividades económicas, o facto é que em muitas delas as regras que já eram seguidas em termos de higiene – como é o caso da restauração e a utilização de loiça, talheres e outros itens reutilizáveis – são mais do que suficientes para garantir a destruição do vírus. Da mesma forma, não existe qualquer razão lógica para imaginar que uma tolha descartável usada num cabeleireiro seja mais segura do que uma toalha reutilizável, que seja convenientemente higienizada numa máquina de lavar (como, à partida já o era antes). Mesmo em setores que não tinham regras de higiene tão estritas, o facto é que envolver as pessoas ou os objetos em plástico não torna o contexto mais seguro, mas vai aumentar os riscos para quem depois vai ter que lidar com a recolha e tratamento desses resíduos.
Ao usarmos produtos descartáveis, estamos também a aumentar o risco de crises com um enorme potencial de impacto negativo – como é o caso das alterações climáticas, da perda da biodiversidade, da escassez de recursos – antecipando e/ou exacerbando as suas consequências.
Desafio no presente, qualidade de vida no futuro
Em suma, dar passos concretos no sentido da redução da utilização do plástico, mas também de outros materiais descartáveis, não é fácil, mas será fundamental para conseguirmos reduzir o nosso impacto no ambiente. O fundamental é trabalhar na alteração do modelo, passando do descartável à redução ou à reutilização, garantindo que no final do ciclo os materiais podem ser reciclados. Assim, em cada momento, seja no âmbito da atual crise, seja em qualquer outro contexto, é importante que o nosso enfoque seja em reduzir e reutilizar, procurando soluções inovadoras com criatividade, tornando obsoleto o modelo do descartável. Este é o nosso desafio no presente, para que as gerações futuras possam viver com qualidade de vida.
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Obs1: autora – Susana Fonseca (membro da direção da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável)
Obs2: por motivos de ordem técnica, a autoria deste artigo não se encontra devidamente creditada; esperamos poder corrigir tal situação.
Imagem: Anna Shvets/Pexels
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