Uma excepção chamada ‘política’

Uma excepção chamada ‘política’

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Em tempo de confinamento, e porque, dizem, a economia não pode parar, verifica-se um abrandamento das medidas restritivas, apesar de se manter o estado de calamidade que confere ao governo poderes de decisão anormais em democracia.

É certo que temos que conviver com o vírus, e como é usual dizer-se, “tocar a vida para a frente”, sem que o medo nos tolde o discernimento ou nos empurre para o dramatismo, mas então coloquemos as coisas nos seus devidos lugares, pois a esta pandemia não se podem aplicar excepções para comprovar a regra.

Uma dessas excepções chama-se política. A ela tudo parece permitir-se, e o próprio Primeiro Ministro o diz sem qualquer pejo.

Comemorou-se o 25 de Abril, o 1º de Maio, e ao que tudo indica, vai permitir-se que a Festa do Avante se realize, pois parece entendimento desta classe de homo-politicus que se trata de uma manifestação partidária, ideológica, que não pode ser travada, pois é uma espécie de direito inabalável dos partidos.

Se o “Avante” é festa ou não é festa, dou de barato, mas que junta gente a dar com um pau, junta. Há música e comes e bebes, há, e uns discursos políticos de punho no ar, também.

Jerónimo diz que os comunistas são gente criativa, imaginativa, e eu acrescentaria, afectuosa, que gosta de abraçar, de saudar cada camarada com um efusivo aperto de costados e uns beijinhos na bochecha. Por isso, acho que vai ser mesmo preciso muita criatividade para não haver misturas.

Há quem diga, com maldade, diga-se de passagem, que até é bom que a Festa aconteça, a ver se nos livramos de alguns destes exemplares raros. Pura maldade, reitero, porque os comunistas fazem falta à democracia, e até por isso mesmo, para não se esquecerem que a democracia lhes faz falta.

Fui ao “Avante” uma só vez. Tinha acabado de fazer 18 anos, e foi uma espécie de prenda que me deram por ter concluído o secundário.

Mochila às costas, tenda, saco-cama, colchão e dinheiro na algibeira, aí vai ele para o Alto da Ajuda.

Todas as coisas que disse antes de «dinheiro na algibeira», me foram “fanadas” logo na primeira noite. Fiquei com uma toalha de praia e a roupinha do corpo – bem bom.

O dinheiro, esse gastei-o em copos e comida, está bom de ver, e se não me engano, até regressei à boleia… Eram outros os tempos.

Não foi por me terem “fanado” que, na reflexão feita nos dias posteriores, disse a mim mesmo que nunca seria comunista. Afinal, gatunos há em todo o lado e em todos os partidos.

Aquela gente era demasiado organizada, demasiado cívica, sempre pronta a dar uma lição de moral a quem falhava por actos ou omissões, e depois cantava-se a uma só voz canções que eu conhecia, mas não eram propriamente de cantar no banho, como a ‘Internacional’ e outras.

Para um rapaz de 18 anos como eu, pequeno-burguês rebelde, aquilo meteu-me alguma confusão, confesso.

Bem, como toda a gente, precisei de cometer erros para crescer, e ainda os cometo. Andava até a pensar lá voltar, agora com 52, a ver se expiava os meus pecados e conseguia finalmente cantar a referida canção, mas ainda não vai ser desta, pois não me apetece nadinha apanhar o vírus. Talvez para o ano. Talvez para o ano…

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Acerca do Autor

José Ilídio Torres

José Ilídio Torres nasceu em Barcelinhos em 1967. Estudou Direito e Arqueologia, mas acabou licenciado em ensino, variante de educação física, leccionando ao 1º e 2º ciclo do ensino básico. É formador em futebol há cerca de 20 anos. Trabalhou como jornalista na imprensa regional, em jornais como o Notícias de Barcelos e Primeiro de Janeiro, bem como na Rádio Cávado. É autor de 11 livros, em romance, conto, infanto-juvenil e poesia. Foi deputado municipal em Barcelos e candidato à Câmara Municipal pelo Bloco de Esquerda, tendo-se afastado recentemente da vida política activa.

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