“As atitudes ficam com quem as pratica”… Até pode ser, mas as consequências, na maioria das vezes, ficam para todos!
O que aconteceu recentemente na Câmara de Barcelos é um exemplo claro disto, quando o Presidente, sem justificar as novas competências e projetos negociados, sem nunca ter feito um esforço de aproximação às diferentes forças políticas, legitimamente eleitas, propôs a atribuição de pelouro a um 5.º vereador, vereador esse que lhe traria, então, a maioria absoluta ou, neste caso concreto, o poder absoluto.
Este é o caso típico em que os representantes se desvinculam dos representados, não reconhecendo valor às razões intrínsecas pelas quais foram eleitos.
Muito já se escreveu sobre esta matéria e sobre estes donos disto tudo. Uns falaram em indignidade, ausência de ética e de valores morais e políticos. Outros, porém, referiram-se ao feito como “o bom filho a casa torna”. Acontece que, neste caso particular, o filho é tudo menos bom e, claramente, não está de regresso a casa, mas apenas de passagem, presumo que o tempo suficiente para servir ‘interesses ocultos’ que não são, definitivamente, os daqueles que o elegeram nem os de Barcelos.
Pode perguntar-se o leitor se um vereador (o peixe miúdo) e um presidente (o pescador todo poderoso) não têm a liberdade de o fazer? Claro que têm. Mas respeitaram a democracia ao fazê-lo? Claro que não. Não foi este o propósito dos mentores da revolução de abril, nem foi seguramente esta a liberdade desejada, na sombra do medo, por tantas gerações. E o grande conflito moral (no mínimo) reside exatamente aqui: até que ponto alguém se pode sentir legitimado pela liberdade de escolha individual quando ela obstaculiza e agride violentamente os princípios básicos da democracia.
Nem tudo pode ser permitido aos donos disto tudo
Isto não é serviço público e é exatamente por atitudes como esta que os políticos e a política estão descredibilizados. Por uma razão muito simples: isto não é Política. A Política deve ser muito mais do que um jogo de golpes baixos e sujos, onde os fins justificam sempre os meios.
Infelizmente, enquanto o povo, que é quem mais ordena, viver pacificado com a constatação de que “os políticos são todos iguais”, continuaremos a ter políticos que são donos disto tudo e não políticos de convicções. Precisamente porque “isto tudo” também é nosso, dos nossos pais e dos nossos filhos, e porque as consequências são para todos, não pode valer tudo e não nos poderemos calar.
Dedico-te, Mariana, os meus aplausos.