Há que pensar o cuidador informal, porque cuidar de quem cuida também é necessário...
De súbito, na sociedade actual, qualquer cidadão pode ser chamado a desempenhar o papel de cuidador informal. O conceito, habitualmente, encontra-se associado ao cuidado de idosos, mas, no entanto, o cuidador informal pode assumir o auxílio a uma outra pessoa, que por diversas razões, tenha ficado incapacitada.
Este papel de cuidador é, por norma, assumido por familiares ou amigos que voluntariamente se disponibilizam para a prestação dos cuidados necessários sem que haja qualquer tipo de remuneração associada ao desempenho da função. Assumir este novo papel implica mudanças na vida do cuidador informal, e facilmente se percebe, que cuidar de alguém que se encontra incapacitado é exigente e pode tornar-se, no decorrer do tempo, desgastante. A tarefa de cuidar é atribuída ao cuidador, configurando uma responsabilidade acrescida a incorporar no seu quotidiano. O processo de dependência, ou doença, num elemento da família, impõe alterações na dinâmica familiar e papéis até ali assumidos pelos membros, interferindo, também, em aspectos da vida pessoal e social dos cuidadores que podem manifestar-se de múltiplas formas.
Inerentes ao papel de cuidador informal encontram-se tarefas que podem variar de acções mais simples, tal como o supervisionamento, às mais complexas, como por exemplo, a higiene pessoal. Sendo que, também, a frequência com que a prestação deste tipo de cuidados se realiza, a periodicidade, se é a tempo inteiro ou parcial, a duração (anos ou meses) e a intensidade, ou seja, o grau de dependência de quem é cuidado, têm influência no desempenho do papel de cuidador informal. Como consequência dos pontos anteriormente descritos, os cuidadores informais deparam-se, diariamente, com um basto leque de desafios quer do ponto de vista emocional quer físico, o que se traduz, simultaneamente, numa experiência de emoções positivas e negativas.
Na literatura, este impacto menos positivo da prestação de cuidados no cuidador informal é frequentemente denominado como sobrecarga. Sendo que esta sobrecarga está associada a um conjunto de problemas físicos, psicológicos e socioeconómicos.
No entanto, apesar de todos os problemas físicos e socioeconómicos que podem advir do ato de cuidar, e de acordo com o que é sabido, é a dimensão emocional aquela que tem maior impacto sobre o cuidador. A tarefa de cuidar encerra em si uma complexidade, para a qual nem todos os que assumem o papel estão aptos a lidar, inclusive com as emoções consequentes. Vários são os autores que referenciam a ansiedade, stress e a depressão como as consequências directas mais prevalente nos cuidadores informais.
Considerando a complexidade do acto de cuidar e os impactos directos na saúde, do cuidador informal, que podem surgir, soa o alerta sobre a necessidade de aumentar a rede de apoio ao cuidador informal tendo como finalidade acções de intervenção que levem em consideração não só a educação sobre a nova situação que, estes doadores de cuidados, têm em mãos, facilitando a tarefa de prestação de cuidado, mas que, integre o cuidador na sua singularidade enquanto pessoa, considerando os seus sentimentos, fragilidades e necessidades que podem ficar ocultas ou renegadas durante o processo de cuidar. Maior esforço deverá ser feito no sentido de implementar estratégias de intervenção mais eficazes na optimização dos recursos dos cuidadores, diminuindo o impacto da sobrecarga e os riscos associados.
A qualidade de vida daqueles que sofrem as fragilidades próprias da doença e dos que envelhecem é importante, mas não menos importante será pensar as consequências que a tarefa de cuidar acarreta. Há que pensar o cuidador informal, porque cuidar de quem cuida também é necessário.
Imagem: Rogério Veloso
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