Neste Dia Mundial da Mulher, chamemos à memória a figura de Beatriz Ângelo, que hoje dá nome a um grande hospital e cuja história evidencia que os direitos que temos como adquiridos, nem sempre foram inquestionáveis como os vemos actualmente.
Beatriz Ângelo foi a primeira mulher a votar em Portugal.
Corria o ano de 1911.
A primeira lei eleitoral da República Portuguesa reconhecia o direito de votar aos «cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família». Beatriz Ângelo, médica, com condição de viúva e correspondente papel de chefe de família, quis exercer tal direito.
Todavia, a sua pretensão foi indeferida pela comissão recenseadora, pois que, não obstante ser chefe de família, não perdia a sua qualidade de mulher.
Como em tantas outras situações de flagrante violação de direitos, valeu-lhe o recurso aos tribunais e a 28 de Abril de 1911 o juiz João Baptista de Castro proferia sentença onde se podia ler: «Excluir a mulher (…) só por ser mulher (…) é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias ideias da democracia e justiça proclamadas pelo partido republicano. (…) Onde a lei não distingue, não pode o julgador distinguir (…) e mando que a reclamante seja incluída no recenseamento eleitoral».
No Dia Mundial da Mulher não deverá nunca ser esquecido o percurso de luta pela igualdade entre géneros e aquelas muitas mulheres que morreram em batalhas para a conquistar, de que são exemplo as 130 mulheres carbonizadas, quando foram trancadas na fábrica de tecelagem, em Nova York, onde trabalhavam, por pretenderem melhores condições laborais.
Imagens: DP