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Dos fartes ou fartens

 

 

Hoje venho falar de um doce que já não faz parte do rol dos doces que, presentemente, se apresentam à mesa portuguesa. Contudo, entre os séculos XV e XVIII, era muito popular entre nós aparecendo em todos os receituários conhecidos, confeccionado de várias maneiras, umas mais simples, sem recheio, e outras mais complexas. Denominavam-se “fartes”, “fartens” ou, numa versão mais actualizada, “fartéis”.

Dediquei-lhe um pequeno capítulo no meu livro “Viúvas de Braga e outros doces do Convento dos Remédios” (Ficta, 2019), porque, embora não os localizasse naquele cenóbio, verifiquei que eram consumidos na época natalícia pelos monges beneditinos do Mosteiro de Tibães, concluindo daí ser um doce bem conhecido na cidade de Braga.

A sua fama chegou até nós, inclusive, pela pena de Pero Vaz de Caminha, na carta do achamento do Brasil, dizendo que Pedro Alvares Cabral, nos alvores de 1500, fez o primeiro contacto com os índios de Vera Cruz, oferecendo-lhes, entre outras coisas, “pam e pescado cozido, confeitos, fartees, mel e figos passados”.

Mas que doce era este? Olhando as várias receitas percebemos serem uns pastéis cozidos no forno e normalmente recheados. Entre os vários ingredientes encontramos o mel, a amêndoa, os pinhões, várias especiarias, como pimenta, cravo, erva-doce, canela e gengibre. Também o tradicional cidrão, bem picadinho, dando-lhe, com toda a certeza, um sabor cítrico especial. Percebemos, igualmente, que podiam levar, ou não, ovos e, para engrossar o recheio, juntava-se pão ralado ou um bolo feito com manteiga que depois se esfarelava. Do mesmo modo, verificamos que se faziam, também, só com massa fermentada, sendo antes bem sovada com manteiga, água de flor de laranjeira e, mais uma vez, com ou sem ovos. Uma espécie de biscoitos especiais, que se conservavam durante mais tempo.

Portanto, em resumo, os fartes podiam ser um doce sem ovos tendo como característica principal a adição de especiarias, tão comuns no Portugal de quinhentos, ou um doce feito com ovos e recheado com as iguarias doces mais clássicas. Podiam ser adoçados com mel, numa versão medieval, ou com açúcar, entretanto divulgado e assumido como adoçante preferencial.

Vem tudo isto a propósito de uma receita que recentemente localizei num livro de cozinha inglês do século XVI – “farts of Portingalle”. Receita esta que nos traz para a mesa um pastel, sem ovos, com uma massa exterior feita de farinha e manteiga e recheado de um polme feito com mel, cravinho, gengibre, canela e sementes de anis. Um doce que se adivinha ser de conservação longa. Um biscoito especial, num tempo em que os biscoitos, ou seja, aqueles que eram cozidos duas vezes, estavam na ordem do dia. Talvez não muito diferente dos que Pedro Alvares Cabral ofereceu aos Índios.

Afinal, já vem de longe o gosto dos ingleses pelos nossos produtos!

E para os mais curiosos aqui vai a receita.

To make farts of Portingalle

Recheio: tome um quarto de mel e coloque-o sobre o fogo, deixe ferver e mexa bem. De seguida ponha-lhe alguns biscoitos finos desfeitos e algum pó de cravinho, gengibre, canela, sementes de anis e um pouco de açúcar. Tudo isto deve ser bem mexido até que fique com uma consistência fina.

Para a massa: tome farinha finamente peneirada, amasse com um bom pedaço de manteiga doce e trabalhe bem a massa. Deixe descansar.

Nota minha: a receita não diz, mas percebemos que de seguida deve-se estender a massa e recheá-la com o preparado. Fecham-se os pastéis que vão a cozer ao forno.

Dica: Experimentem juntar-lhe um pouco de cidrão ou laranja cristalizada, devidamente picados. Ficam deliciosos.

Bom Apetite!


Imagem: Mário Brandão


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