Sarah Affonso, pintora nascida em Lisboa, no seio de uma família relativamente modesta, viveu no Minho, em Viana do Castelo, entre os 5 e os 15 anos de idade. “Estes primeiros anos da sua vida marcariam indelevelmente a sua obra, desenvolvida nos trilhos dessa memória das paisagens minhotas, dos azuis, dos pinhais e das praias, do seu quotidiano e das tradições”. Os seus pais eram Francisco Marcelino Afonso, militar natural de Valença e Alexandrina Rosa Gomes Afonso, doméstica, de Lisboa, filha de pai argentino.
Amante incondicional de gatos, envolvida numa aura decetiva pela sua decisão de abandono da pintura para se dedicar à família após o casamento com Almada Negreiros, a grande Sarah Afonso nasceu em Lisboa, no Beato, a 13 de Maio de 1899, e viria a falecer no Campo Grande, na mesma cidade, em 15 de Dezembro de 1983.
Seguiu as correntes modernistas, cultivando, no entanto, a arte popular e afirmando-se como pintora nas primeiras décadas do século XX, altura em poucas mulheres o faziam.
Das Belas-Artes à A Brasileira
Na Escola de Belas-Artes de Lisboa, Sarah Affonso estudou pintura e aí foi aluna de Columbano Bordalo Pinheiro e fez a sua primeira exposição. Prosseguiu os seus estudos em Paris, em 1923-1924 e, de novo, em 1928-1929. Como modo de sustento sobrevive trabalhando num atelier de costura. Expõe no Salon d’Automne de 1928.
De regresso a Lisboa, integra-se no ambiente artístico e intelectual lisboeta. Pertencente à segunda geração de pintores modernistas portugueses, contemporânea de Bernardo Marques, Mário Eloy ou Carlos Botelho, expõe no I Salão dos Independentes (SNBA, 1930) e em outras mostras colectivas. Expõe individualmente e frequenta as tertúlias de A Brasileira, o que até então era um território exclusivamente masculino.
Sarah Affonso e o casamento com Almada Negreiros
Em 1934, a pintora casa-se com Almada Negreiros, artista multidisciplinar e modernista, tentando, a partir daí, conciliar a vida de mãe de família e de pintora. Nos primeiros anos de casamento desenvolve o que será a parte mais importante da sua obra pictórica. “Dos retratos de meninas e mulheres e das paisagens urbanas passa para composições que incorporam motivos antes utilizados nos bordados, oriundos da cultura e imaginário populares. Evoca, a partir da memória da infância passada no Minho, costumes (procissões, festas, alminhas) e mitologias populares”.
O retrato que fez de um dos seus filhos levá-la-ia a receber o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso.
A vida familiar na sua obra
Celebraria também a sua vida pessoal em pinturas como Família, 1937, um dos seus trabalhos mais emblemáticos, onde se figura com o marido e o primeiro filho. Neste auto-retrato alargado à sua família e que funciona também como metáfora para a lenda do “menino-deus”, Sarah Afonso faz uma síntese de vários aspetos da sua obra: “A qualidade do traço, o cromatismo, o desenho implícito na composição narrativa, como se tratasse de um sonho acordado, elementos tradicionais da cultura popular, como os bordados, os brinquedos e as lendas. É comum verificarmos esta associação lírica sobre a realidade, em que o tema se funde com a vivência dos retratados”.
Opção pelas artes decorativas
Foram várias as razões que a levaram a abandonar a pintura em finais dos anos de 1940. “Às razões pessoais juntavam-se a insegurança profissional e a falta de condições de trabalho. Continuou, no entanto, com um trabalho menos visível nas artes decorativas e de apoio a Almada Negreiros. Artista multifacetada, em finais dos anos 50, retomou algumas das direções interrompidas, como a ilustração infantil, entre outros de A Menina do Mar, 1958, de Sophia de Mello Breyner Andresen e o desenho”.
Exposições
Expôs individualmente em 1932 e 1939. Participou na Exposição do Mundo Português, 1940. Em 1944 recebeu o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso (8ª Exposição de Arte Moderna, SPN). Em 1953 participou na Bienal de S. Paulo, Brasil.
Foram realizadas mostras retrospetivas da sua obra em 1953 e 1962, na Galeria de Março em Lisboa e na Academia Dominguez Alvarez no Porto respetivamente. Encontra-se colaboração sua na revista Sudoeste datada de 1935.
Por ocasião do centenário do seu nascimento, em 1999, realizaram-se exposições comemorativas em Viana do Castelo e Porto.
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Imagens: DR
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