Antes de entrar no assunto que me leva a escrever este artigo, gostava de esclarecer que a palavra galo é o sentido figurado do símbolo da cidade de Barcelos e não o exemplar de espécie animal que tem, nesta mesma cidade, um significado em constante desenvolvimento enquanto elemento gastronómico.
Com esta pandemia, todo o conceito histórico, cultural e turístico da cidade de Barcelos foi imobilizado, aliás como em todas as cidades pelo mundo. Vivemos meses de total inoperância de grande parte dos setores laborais, onde o mercado turístico se inclui e, agora, começamos lentamente a retomar a atividade.
Muito paulatinamente, algumas das empresas conectadas ao setor turístico estão a retomar a atividade, perante apertadas regras de segurança lançadas pela Direção-Geral de Saúde. Já se veem hotéis, guest houses, casas de campo e turismo rural, restaurantes, lojas de recordações e museus a darem início a uma nova era que em muito vai ser influenciada pela pandemia. Infelizmente, as poucas que mantinham atividade faziam-no em teletrabalho e as tarefas passavam sempre pelo cancelamento de reservas, reservas essas que tudo indicavam que seria um ano histórico para os empresários do setor neste concelho.
Passaram duas datas muito importantes para nós. Em primeiro lugar, a Páscoa, que na nossa região tem um sentimento muito importante com o regresso de parte dos nossos entes queridos que se encontram fora e, também, pela oportunidade de turistas e visitantes que se deslocam para viver de perto as nossas tradições, usos e costumes da época. Nesta altura, nos restaurantes corre a azáfama de servir o que de bom a nossa gastronomia tem: o cabrito assado, o galo assado, o bacalhau, a vitela e a enorme panóplia de doces típicos como o pão-de-ló, o doce branco e os tradicionais sonhos. Tudo isso passou ao lado, tudo isso não foi servido para quem tinha como destino Barcelos.
Logo de seguida, dava entrada uma das épocas mais esperadas pelos Barcelenses, com a tradicional Festa das Cruzes, onde o recinto da feira de Barcelos, uma das mais antigas e emblemáticas de Portugal, tendo origem por volta do século XIII, dava lugar aos muito esperados divertimentos. Os nossos artesãos expunham e vendiam aquilo que de melhor sabem fazer e que muito caracteriza a nossa história e dos nossos antepassados. Pela cidade, víamos os palcos, para os variadíssimos concertos que ocorreriam na quadra, e os céus iluminavam-se com as magistrais sessões de fogo de artificio.
No dia 1 de Maio, feriado nacional, muitos eram os Portugueses que chegavam a Barcelos com origem de diversos pontos do país, mas acima de tudo a cidade de Barcelos é tomada por visitantes e turistas oriundos da terra de nuestros hermanos, com o objetivo de assistir a um dos pontos altos das festividades, a Batalha das Flores, com um significado cultural, simbólico e tradicional na história dos barcelenses. Muitas eram as ruas que se enfeitavam com as pétalas lançadas pelos participantes e que, no lado oposto, tinham milhares de pessoas a assistir. Mais uma vez, tudo isso passou ao lado, as pétalas ficaram por colher, os carros por adornar e as ruas ficaram por colorir.
No dia 3 de Maio, ponto mais alto das festividades, as ruas voltavam a ficar repletas com milhares de pessoas a assistir à Procissão das Cruzes. Centenas de figurantes e as 89 cruzes, correspondentes às freguesias no concelho, cruzavam diversas ruas como homenagem ao Milagre das Cruzes e, mais uma vez, nem os figurantes nem as 89 cruzes conseguiram cruzar as ruas da cidade.
Até ao mês de Agosto muitos eram os autocarros que chegavam a Barcelos com turistas que vinham para visitar e conhecer a nossa cultura e, ao mesmo tempo, provar a nossa gastronomia e vinhos. Sobre os vinhos, penso que basta recordar que, em 2014, Barcelos foi Cidade do Vinho, “indicação feita pela Associação dos Municípios Portugueses do vinho” e pena é que muitos Barcelenses não tenham conhecimento que em Barcelos também se produz vinho de muito boa qualidade.
Chegados ao mês de Agosto, dá-se início à Feira de Artesanato que decorre no parque da cidade. Nesta altura dá-se a vinda dos nossos entes queridos e turistas a Barcelos e o movimento pela cidade fala por si. Os estabelecimentos hoteleiros e operadores turísticos trabalham incansavelmente para prestar o melhor serviço possível aos seus clientes para que num futuro próximo estes voltem a Barcelos.
Não esquecendo, também, os peregrinos de Santiago, que durante todo o ano atravessam o Concelho e muito colaboram para o turismo local e que, com a sua crença e fé, visitam os templos que cruzam pelo caminho. Infelizmente, nesta altura, sentimos a falta de ver na rua os grupos de peregrinos que acabam por se animar e, num Português arranhado, tentam sempre dar o “Bom dia!”.
Tendo conhecimento que as reservas estão a ser canceladas, sabemos que os turistas não vêm. Os nossos entes queridos pode ser que venham (ainda é uma incerteza). Como vamos nós saber lidar com isto, como vão os empresários do setor turístico e demais setores adjacentes ao turismo lidar com a situação? Estaremos nós perante um retrocesso do setor do turismo? Como vão os empresários suportar a manutenção das suas empresas? Irá o Galo, enquanto elemento histórico, ligado à tradição da cidade, conseguir sobreviver à Pandemia?
Vamos aguardar e ver o que o futuro nos vai dar, certo que, no futuro, gostaria de voltar a escrever e dizer que, afinal, O GALO É IMUNE AO VÍRUS.