Com a declaração do estado de emergência em Portugal foram suspensos os direitos de circulação e as liberdades económicas. Ainda antes desta declaração, as primeiras medidas tomadas pelo governo foram na área da saúde, criando um regime excecional na prevenção, contenção, mitigação e tratamento de infeção epidemiológica por covid-19. A prioridade tem de ser prevenir a doença, conter a pandemia e salvar vidas.
No quotidiano e no terreno, vêm-se destacando como protagonistas os nossos autarcas, que se posicionaram na linha da frente no apoio e recolha de meios para assegurar a execução das medidas necessárias ao combate à pandemia e de emergência na saúde pública. Numa altura em que é notícia que metade dos ventiladores recebidos da China ficaram na capital, apesar do norte do país ter claramente o maior número de infetados e o S. João no Porto ser o hospital que acolhe mais doentes, é bem exigente a preponderância dos presidentes dos municípios.
As cidades (ou municípios) que adotaram iniciativas de inteligência urbana estão melhor apetrechadas para promover a mais eficiente utilização de recursos a favor do combate ao coronavírus, porque, como salienta em artigo recente Miguel de Castro Neto, coordenador do NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, possuem mecanismos de recolha, armazenamento e processamento de dados que lhes permitem conhecer em tempo real, proactivamente antecipar necessidades e colocar no terreno os meios e as respostas com uma elevada precisão espacial e temporal, garantindo, assim, o cumprimento das quatro máximas que estão incluídas no ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis: sustentabilidade, inclusão, resiliência e segurança.
As cidades inteligentes encontraram vários aspetos inovadores e benéficos para desacelerar o resultado da Covid-19, tantas vezes fatal, para tornar o mundo mais próximo da segurança de alguns meses atrás.
Nas cidades mais afetadas da China, onde tudo parece ter começado, foram implementados robôs avançados de patrulha 5G, fornecidos com cinco câmaras de alta resolução, que lhes permite detetar um cidadão que não use máscara no espaço público, nos locais onde tal é obrigatório e, usando termómetros infravermelhos em áreas públicas, medir a temperatura dos cidadãos num raio de cinco metros, 10 pessoas de cada vez, garantindo, além da rapidez e eficiência, a redução de meios humanos e, por consequência, a segurança pública, porque a própria medição manual da temperatura corporal comporta riscos para quem a realiza. No caso de alguém sem máscara ou alta temperatura ser detetado, um alerta é enviado aos postos de decisão. Todos os dados são substituídos por um hub centralizado para tomada de decisão.
Utilizando a tecnologia mais recente, a Coreia do Sul lançou um sistema de rastreamento on-line de coronavírus, que copia os movimentos de pacientes com coronavírus usando imagens de câmaras de supervisão e transações com cartão de crédito do paciente ou através de telemóveis. Isto pode chocar com a privacidade relativa a dados pessoais sensíveis, mas são medidas proporcionais adequadas nesta hora negra planetária.
Outro aplicativo de “proteção à segurança de quarentena” está a ser usado em cidades inteligentes. Ao usá-lo, as pessoas em quarentena podem ficar em contacto com os responsáveis pelo seu caso. O GPS equipado no aplicativo mantém o controlo da sua localização. Simultaneamente, garante que não quebram a quarentena.
Lançado em 11 de fevereiro passado, o aplicativo Corona 100m, da Coreia do Sul, protege eficientemente pessoas saudáveis de pessoas infetadas, enviando um alerta para ficar longe da área visitada pelo paciente infetado. Quando se chega a 100 metros da localização da pessoa infetada, o aplicativo emite um alerta, ajudando as pessoas a evitar locais perigosos. Foram criadas plataformas para obter informações sobre as áreas afetadas, permitindo evitá-las.
Num cenário como o atual surto de coronavírus (Covid-19), torna-se imperativo enfatizar a adoção de padrões universais para a partilha de dados. Tal movimento poderia ter um impacto de longo alcance em várias cidades e territórios, de maneira mais segura e padronizada, de modo que os procedimentos com vista ao tratamento e cura possam ser replicados em várias partes do globo. Com um protocolo de dados colaborado, seria possível ter um conjunto de dados maior, resultando em maior capacidade de processamento, especialmente com tecnologias que são alimentadas por ferramentas de inteligência artificial (IA). Por esse caminho seria possível facilitar a deteção precoce, obter um diagnóstico mais preciso e fornecer melhores decisões de gestão urbana para aumentar a eficiência da contenção de vírus.
A aceleração do processo de transição digital como um dos efeitos da pandemia que o mundo enfrenta foi uma das tendências apontadas pelos participantes da primeira sessão do ciclo semanal SMART Portugal Webinars, realizada em 8 de abril de 2020 com o título “A inteligência urbana como arma no combate à pandemia”. A liderança política da sua concretização será melhor entregue ao poder local.
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