Ontem dei por mim a revisitar uma entrevista de António José Teixeira a António Barreto. O mesmo homem que hoje afirma “devermos tanto a liberdade ao 25 de abril como ao 25 de novembro” defendia, em 2011, a revisão da Constituição de 75, porque a considerava “feita com medo: medo dos militares, dos comunistas, dos fascistas, dos notários, dos padres, etc”. Mas o ponto mais marcante para um minhoto orgulhoso foi ouvi-lo perguntar: “Porque é que não pode haver um partido no Norte, que concorra aos círculos eleitorais nortenhos? Porque é que é proibido?” (algo compreensível se pensarmos que se trata de um tripeiro de nascença e vila-realense de criação).
Embora a hipótese de um partido regionalista não seja constitucionalmente permitida, a ideia de uma região ter poderes para decidir o seu destino mantém-se na bocas do povo. Volta e meia lá vão surgindo debates sobre a regionalização. Embora quase todos os partidos com assento parlamentar lhe sejam favoráveis (o Chega e a Iniciativa Liberal não o são), lá se vão ouvindo as vozes da elite macrocéfala: “o nosso país é muito pequeno para governos regionais”. Deste modo, ignora-se que somos o estado-membro da União Europeia com a 13ª maior superfície e o 12º com maior número de habitantes e com maior densidade populacional. São essas mesmas vozes que desconhecem o território e população da Áustria federalizada, inferiores aos nossos.
Quem repete que “Portugal é Lisboa e o resto é paisagem” esquece a heterogeneidade das diversas regiões. A realidade do Minho não é a mesma do Ribatejo ou das Beiras. A fauna e a flora que as preenchem não são as mesmas. A cultura e as mentalidades dos seus habitantes são diferentes. No entanto, o país é governado uniformemente a partir de Lisboa, por burocratas que não conhecem o terreno o resto do país. Os mesmos tomam decisões a régua e esquadro enquanto olham para os mapas, numa espécie de colonialismo interno que começa com este tipo de medidas e acaba na abertura de casas de fado no Porto (já responsabilidade de outro tipo de elites).
Não se poderia evitar este estado de coisas ao criar um governo regional, que além de estar mais próximo da realidade nortenha teria de prestar contas aos eleitores nortenhos a cada quatro anos? Poderia, mas isso não convém aos aparelhos partidários, que teriam de rever os seus modelos de campanha eleitoral.
E nós por cá, aguentamos.
Imagem: Passos Zamith – An by An
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