Há cinquenta anos, em 19 de julho de 1969, a missão espacial norte-americana Apolo 11 permite que, pela primeira vez, o ser humano desça à Lua.
Foi um dos momentos mais marcantes da História da Humanidade. Perante uma audiência televisiva à escala planetária, uma das maiores de sempre, Neil Armstrong, o primeiro ser humano a descer à Lua, disse: “E um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a Humanidade”.
Diversos pensadores espiritualistas de diversas culturas e tendências preconizam que vivemos, na Terra, o momento da grande transição de planeta de provas e de expiações, para um planeta de regeneração.
As alterações que se observam são de cariz espiritual e ético, convidando o ser humano a uma transmutação do seu comportamento, a fim de que se instalem os paradigmas da justiça, da paz e do amor no nosso planeta Terra.
A ordem religiosa atual formou-se naquilo que Karl Jaspers e outros pensadores chamaram a era axial, esse extraordinário período histórico, entre o ano 800 e 200 antes da era comum, que testemunhou a consolidação do monoteísmo bíblico, o surgimento do zoroastrismo, do budismo e do confucionismo e o florescimento da filosofia grega.
A era axial acima mencionada tem diversas semelhanças com a era presente. Foi igualmente uma época caraterizada por diversas mudanças em matéria de tecnologia e da governação das sociedades. O crescimento demográfico e socioeconómico das sociedades provocou transformações políticas. As inovações tecnológicas, ligadas às comunicações marítimas, tornaram os mares em vias privilegiadas para a circulação de pessoas, bens e ideias.
As profundas transformações do mundo atual, cada vez mais globalizado e interdependente, juntamente com a busca incessante do ser humano pelo sentido da existência, criam as condições para impulsionar decisivamente o desenvolvimento espiritual da Humanidade.
Um Mundo diversificado e plural
Vivemos num mundo diversificado e plural nas suas expressões socioculturais e espirituais. Por um lado, essa pluralidade é a manifestação da riqueza do espírito humano e de seus múltiplos valores. Cria condições para a ampliação dos horizontes da existência e uma vida mais abundante e plena.
Por outro lado, esta pluralidade é desafiante, na medida em que implica segmentação na compreensão da realidade, das relações e das experiências.
Uma das expressões da pluralidade dos nossos tempos é a diversidade de correntes de espiritualidade que emergem constantemente tanto no interior das tradições religiosas históricas quanto à sua margem. Uma são mais pluralistas e inclusivas, enquanto outras são mais exclusivistas e dogmáticas.
De entre as formas de espiritualidade que preconizam uma visão pluralista e inclusiva da relação do ser humano com o Divino como Fonte da Existência e da Vida, merece especial ênfase o unitário-universalismo.
O Unitário-universalismo como espiritualidade pluralista e inclusiva
O unitário-universalismo desenvolve a espiritualidade pessoal e comunitária do ser humano em resposta à voz de nossa própria consciência.
O unitário-universalismo valoriza o legado de nossa tradição espiritual milenar, a sabedoria das diversas religiões do mundo, o contributo da razão e da ciência, e a conexão com o planeta que habitamos e que devemos preservar para a fruição das gerações atuais e vindouras.
O unitário-universalismo preconiza uma espiritualidade pós-dogmática e sem estruturas hierarquizadas e centralizadas.
As raízes do unitário-universalismo radicam no cristianismo liberal, especialmente o unitarismo e o universalismo, duas correntes de pensamento que se desenvolveram nos primeiros séculos do cristianismo, embora considere que todas as grandes tradições espirituais da Humanidade são caminhos autênticos da conexão com o Divino como Fonte da Existência e da Vida.
Ao longo da sua história, tem havido uma enorme diversidade de interpretações da mensagem salvífica de Jesus. Daí a pluralidade do cristianismo ao longo da sua história.
O unitarismo é uma corrente de pensamento cristão que enfatiza a unidade de Deus, remontando ao primeiro século I da nossa era.
Com efeito, no cristianismo original, a fé no Deus uno era considerado como um pilar fundamental. O facto de Jesus ter sido elevado por Deus, junto de Deus e preencher o lugar de honra à direita de Deus, conforme tinha sido anunciado nas Escrituras, era considerado como resultado da fé no Deus uno. Jesus, o Cristo, era visto como a manifestação humana por excelência da Sabedoria Divina, da qual podemos ter a experiência no Espírito. Um ser iluminado e iluminador, dentro da tradição dos profetas, homens e mulheres que foram emissários da Sabedoria Divina.
A vivência e a fé de Jesus era teocêntrica, focada na Realidade Divina, o grande Mistério do Universo, da Vida e do Amor, a quem ele designava carinhosamente de Abba, que significa simplesmente papá.
Jesus não quis fundar uma religião institucionalizada. Ele foi o inspirador de uma comunidade espiritual de homens e de mulheres que se congregavam para viver a experiência do Espírito de Deus e do seu Reino. Nessa comunidade, os homens e as mulheres tinham de início papéis absolutamente equitativos, um aspeto da maior relevância que importa recuperar, valorizar e potenciar.
O universalismo é uma corrente de pensamento cristão centrada na ideia da reconciliação ou salvação universal, segundo a qual todas as formas de existência são chamadas a reconciliar-se com o Divino, Fonte de Amor e Misericórdia.
O unitarismo e o universalismo tiveram diversas manifestações ao longo da História ao longo dos últimos dois milénios, umas mais visíveis, outras mais discretas, quando foram objeto de perseguições por parte dos poderes instituídos.
Há pouco mais de um meio século, em 1961, foi formado o unitário-universalismo, resultado da convergência de ambas as tradições espirituais.
O unitário-universalismo baseia-se na ideia de que a Fonte Divina é una e de que a convicção de que todos os seres serão reconciliados com essa mesma Fonte Divina.
O unitário-universalismo tem um elevado respeito pela liberdade espiritual individual e pela inclusividade. Tendo um caráter macroecuménico, busca inspiração nas diversas religiões do mundo. Apela a uma compreensão filosófica e teológica que enfatiza a busca livre e independente da verdade espiritual como uma prática que todo o ser
humano deve abraçar. Neste sentido, valoriza a liberdade da consciência, a relação harmoniosa entre a ciência e a espiritualidade e o diálogo intercultural e inter-religioso.
Os princípios
Os princípios fundamentais do unitário-universalismo são os seguintes:
– O valor inerente e a dignidade de cada pessoa;
– A justiça, a equidade e a compaixão nas relações humanas;
– A aceitação uns dos outros e o encorajamento para o crescimento espiritual mútuo;
– Uma busca livre e responsável pela verdade e significado;
– A liberdade de consciência e o uso do processo democrático nas e comunidades e na sociedade em geral;
– O objetivo de uma comunidade mundial com paz, liberdade e justiça para todos;
– O respeito pela rede interdependente de toda a existência, da qual somos parte.
As fontes
As principais fontes do unitário-universalismo são diversificadas, sendo concretamente as seguintes:
– A experiência direta desse Mistério maravilhoso e transcendente, afirmada em todas as culturas, que nos leva a uma renovação do espírito e a uma abertura das forças que criam e sustentam a vida;
– As palavras e atos de mulheres e homens proféticos, que nos desafiam a confrontar os poderes e as estruturas do mal com a justiça, a compaixão e o poder transformador do amor;
– A sabedoria das religiões do mundo que nos inspiram na nossa vida ética e espiritual;
– Os ensinamentos judeus e cristãos que nos aconselham a atender ao amor de Deus, através do amor ao próximo como a nós mesmos;
– Os ensinamentos humanistas que nos aconselham a atender ao chamamento da razão e aos resultados da ciência, e nos advertem contra as idolatrias da mente e do espírito;
– Os ensinamentos espirituais de tradições centradas na valorização da Terra, que celebram o ciclo sagrado da vida e nos instruem a viver em harmonia com os ritmos da natureza.
Conforme foi referido, a denominação do unitário-universalismo como tal deriva da ênfase na unidade do Divino como Fonte de tudo o que existe e na unidade essencial da Humanidade e da Criação.
Partindo do pressuposto de que nenhuma religião ou filosofia tem o monopólio exclusivo da verdade, o unitário-universalismo proclama que o Divino se revela através de uma pluralidade de vozes.
Embora compartilhem os valores comuns atras mencionados, as pessoas que se identificam com o unitário-universalismo podem ter crenças diferentes, Daí englobarem cristãos, budistas, hindus, humanistas, judeus, muçulmanos, pagãos e inclusive agnósticos e ateus.
Na atualidade, é relevante ter em conta que existe um crescente número de pessoas de pessoas de diversas culturas e países que buscam uma espiritualidade baseada na fé esclarecida no Divino como Fonte de toda a existência e nos ensinamentos espirituais e éticos de Jesus, o Cristo, embora se afastem das formas do cristianismo institucional.
Procurando não cair num relativismo vazio, nem num sincretismo artificial que seria desrespeitoso da profícua herança espiritual da humanidade, o unitário-universalismo promove uma atitude de acolhimento e de abertura em relação à Revelação Divina, na sua riqueza e diversidade.
Valoriza as ideias e as práticas que contribuam para o crescimento do espírito humano, nas suas diversas facetas, e para uma maior unidade e harmonia com o planeta e as forças que animam e sustentam a Vida.
Por seu turno, recusa as ideias e as práticas que contribuem para o ódio e a segregação entre os seres humanos, nomeadamente com base no gênero, na etnia, na posição social ou na orientação sexual; que defendem a injustiça e a opressão, que sustentam a ignorância e superstição, e que atacam a Natureza como manifestação do amor infinitamente criativo de Deus.
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