Poesia | A que se pode atribuir o sensível toque da mão

 

 

A que se pode atribuir o sensível toque da mão

no corpo? Na verdade, não se sabe se a realidade

do que se intui é a justeza do que se deseja.

No encontro das mãos tudo se desconhece,

apenas a pele e o vazio que interroga este fenómeno

de um prelúdio que no presente estranha o futuro.

Os corpos à chuva em dia de sol

e as mãos em demanda de um arco-íris possível

nos olhos que se dilatam sem saber o que dizer.

O que transcende é o diálogo que o som impossibilita

e nada é inverosímil, o ar seco entre os dedos,

a humidade da boca e subitamente o Sol.

A exposição à transparência, a lealdade da urgência,

a intuição do fogo, a transmutação de todas as indecisões

em ouro de destino, em caminho sublimado.

 

Luís Filipe Sarmento, in «KNK», 2018 (inédito)

 

Imagem de destaque: José Lorvão

 

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