Tenho pensado muito, nos últimos tempos, sobre o facto de bastar um piscar de olhos para qualquer um de nós ser filmado ou fotografado em qualquer lugar. Refiro-me especialmente ao contexto social (mas não só) e à falta de liberdade que tal facto pode acarretar.
A qualquer momento, estejamos nós como estivermos, podem apanhar-nos na pior das nossas expressões e nada mais haverá a fazer. É claro que me poderiam dizer que se nos “portarmos sempre bem” e estivermos sempre atentos nunca ocorrerá uma situação dessas. Porém, essa circunstância retira, de imediato, qualquer possibilidade de aproveitarmos o tempo de convívio social para nos “distrairmos” do que andamos a fazer o resto do tempo. Não é isso que costumamos dizer uns aos outros? “Vai, precisas de te distrair um pouco!”
Pois aí é que está!! Agora ninguém parece poder distrair-se, deixar-se estar à vontade, colocar as amarras sociais no bengaleiro, rir, dançar, sei lá… o que cada um quiser… Há sempre uma selfie por perto a acontecer…
Nem sequer consigo imaginar como será para os jovens e para os adolescentes.
Desde sempre que sabem existir uma objectiva pronta a eternizar um bom momento… mas também um mau!
E tudo pronto a coarctar a liberdade através de um simples telefone…
Éramos livres, mas não sabíamos…
Sinto, de imediato, que foi maravilhoso ninguém ter podido tirar fotos ou fazer vídeos sobre o que se passou na minha adolescência e na minha juventude. Ainda sou daquele tempo em que os telemóveis não tinham máquinas fotográficas ou, se tinham, os pormenores perdiam-se nos pixels! Aliás, sou do tempo em que não havia telemóveis e ninguém nos conseguia vigiar! Éramos tão livres.. e não sabíamos!…
Teremos ainda liberdade para ser?
Sinto cá dentro a evidência de que a ideia em si – a de estar sempre na mira dos olhares digitais – me teria tornado uma pessoa diferente – mais insegura, mais receosa, mais autómata, muito menos autêntica… e isso faz-me pensar sobre como estão a crescer as nossas crianças e jovens.
Serão eles livres?
E nós? Será que ainda somos?
Gays, lésbicas e o direito à diferença e liberdade individual
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Obs: texto previamente publicado na página facebook de Célia Borges, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.
Imagem: Call Center de Joana Vasconcelos (Ph: Jaime Silva / Flickr)
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