Embora muitas vezes nos queiram fazer crer no contrário, não basta ser «Socialista» no apelido para ser mesmo socialista, tal como não basta ter Rosa no nome para ser florida e cheirosa. Houve já momentos na História, e outros haverá ainda, em que os contornos entre Direita e Esquerda se esbateram e confundiram, sempre com mau resultado. No entanto, se não complicarmos muito é possível traçar uma linha distintiva mais ou menos clara.
À Direita – a liberdade, a meritocracia
A Direita parte de uma bela e falsa ideia, a de que quando nascemos somos todos uma tábua rasa, cabendo a cada um de nós construir-se enquanto cidadão, isto é, agir no sentido de definir o seu lugar na sociedade – é a isto que chamam «meritocracia». A liberdade de cada sujeito surge, por isso, como um valor fundamental, que não pode ser condicionado pela ação do Estado, entidade que estimam enquanto garante da «lei e da ordem», mas que rejeitam em tudo o que vá além dessa dimensão – ou seja, polícia sim, escola e saúde pública nem por isso. A ideia de podermos agir e competir em inteira liberdade é bonita mas não tem qualquer correspondência com a realidade. Quando nascemos não somos nenhuma tábua rasa nem partimos todos da mesma base. Distinguimo-nos por razões intrínsecas – podemos nascer bonitos ou feios, com saúde ou doentes – mas para lá desta «lotaria» que jogamos sem querer, distinguimo-nos também pela «herança social» que nos coube. Por muito que ambas remetam para um certo imaginário rural, não é a mesma coisa nascer na Quinta do Mocho ou na Quinta Patino, nem é a mesma coisa ter um pai chamado Zé Tó, que por vezes tem trabalho, ou um outro chamado doutor Bernardo, que é gestor não executivo em 27 empresas diferentes. Essa medida de valor a que chamam «meritocracia» só faz sentido se nela incluirmos a décalage de que se parte, coisa, que, evidentemente, a Direita não considera.
À Esquerda – a igualdade, a justiça social
A Esquerda percebe que não partimos da mesma base e que se somos uma tábua rasa é apenas porque nascemos todos nus. Tirando isso, somos o resultado de tantas diferenciações e injustiças que há que fazer algo para as corrigir. Nesse sentido, vê o Estado como um instrumento capaz de produzir um efeito na atenuação dessas diferenças, propondo, por isso, políticas de combate às desigualdades sociais. É este entendimento do mundo que justifica que o Estado atue através de uma espécie de discriminação positiva, por exemplo impondo taxas crescentes nos impostos sobre o rendimento ou fazendo chegar apoios sociais aos grupos mais fragilizados. É também por isso que me identifico com a Esquerda, esperando que os partidos que dizem situar-se nesse espaço político não percam de vista este papel corretor que só o Estado pode assegurar.
O PS e a agencialidade política de esquerda
O PS, enquanto grande partido de poder, congrega em si diferentes visões do mundo, nem todas coincidentes com este entendimento do que deve ser a agencialidade política de esquerda. Figuras sinistras, como Carlos César, que não se inibe de convidar para a mesa onde se trincham os dinheiros públicos a parentela próxima e adjacente, ou a ex-presidente da Junta de Freguesia de Arroios, Margarida Martins, que vê a política como um meio de obter almoços grátis, são apenas exemplos daquilo que a Esquerda não pode ser e da tralha que é tudo menos socialista que se acoita no partido. Claro que no PS há imensa gente decente, com genuína vontade de servir o coletivo e não de se servir a si próprio. Governar, porém, e se me permitem usar um chavão, é fazer pontes, o que num partido feito de tanta diversidade implica dar espaço, voz e poder a uns tantos safardanas. Talvez não pudesse ser de outra forma, e este seja mesmo o único jeito de chegar ao poder, regra que, diga-se, tanto se aplica ao PS quanto ao PSD.
António Costa, o PS e as pontes com os parceiros da Geringonça
Durante seis anos, António Costa e o PS afadigaram-se a fazer pontes. Desde logo, pontes dentro do Partido, por forma a satisfazer grupos, fações, eminências pardas e outras com excesso de brilho. A distribuição de mandatos no Parlamento, porém, obrigou-os a fazer outras pontes, estas com os chamados «parceiros da Geringonça». Só que essas pontes foram sempre como a velhinha Ponte das Barcas, pela qual se atravessava o Douro, fazendo os parceiros o papel das tropas francesas, que mergulharam sem querer nas águas do rio e aí morreram. O Governo ia prometendo que os cabos eram sólidos e que as barcas estavam bem amarradas, mas a experiência foi mostrando que não era assim. Depois de muitos mergulhos indesejados, os parceiros cansaram-se, ou deixaram de se fiar na solidez da ponte e do «entendimento à esquerda».
BE e PCP dirão que, vendo bem, nunca houve entendimento à Esquerda e que a prometida ponte foi sempre uma obra mal-enjorcada, não havendo qualquer vontade, por parte do PS, que ela viesse a ser outra coisa. Quanto a este partido, dirá que não senhora, que estava a pôr pedra sobre pedra para que a ponte fosse sólida. Cada um acreditará no que lhe parecer mais verdadeiro, mas o resultado das próximas eleições vai depender muito dessa leitura. Os partidos à esquerda do PS sairão prejudicados se muitos dos seus eleitores considerarem que mais valia continuar a circular na ponte instável mesmo com risco de um ou outro mergulho na realidade dos orçamentos de contenção, na austeridade encapotada ou nas promessas por cumprir. Pelo seu lado, o PS será penalizado se houver muita gente a pensar que o papel de ilusionista de António Costa – sempre mostrando uma mão cheia de nada como se nela tivesse muita coisa – se esgotou, sendo agora a vez de ele mergulhar de cabeça, resvalando na ponte que nunca quis ou que foi incapaz de fazer.
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