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‘O Fado’, de José Malhoa, eterniza o lamento surdo e profundo do povo português

 

 

Adelaide Facada, assim alcunhada por ter uma cicatriz no lado esquerdo do rosto, é uma das protagonistas deste O Fado, da autoria de José Malhoa. O outro é Amâncio Esteves, um tocador de guitarra, fadista e acima de tudo arruaceiro e rufia que, com as suas atitudes de grande marialva, conquistava os corações das mais apaixonadas.

Este é um quadro onde o machismo se encontra bem retratado. A mulher é uma peça fundamental, mas está presente em atitude de submissão. Foi pintado na casa de Adelaide que, durante o dia vendia cautelas, a sorte que podia sair aos outros pois a sua era madrasta. À noite o seu negócio – vender o corpo – trazia-lhe mais proventos e alegrias.

A procura destes dois verdadeiros boémios foi trabalhosa. Malhoa não queria modelos, mas sim pessoas reais e procurou-as em Alfama, no Bairro Alto e na Mouraria, onde residia Adelaide. Tudo o que mostra é verdadeiro, desde o desalinho ao bric-à-brac que embelezava aquela divisão. Um mês de trabalho intenso, mas muito compensador.

Inicialmente conotado com a miséria e as classes mais baixas onde se incluía a marginalidade, o fado, o grito das gentes puras e laboriosas, era mal visto e até, de certa forma, rejeitado. Depois passou a ser apanágio de burgueses, intelectuais e até mesmo da nobreza que o cantava com toda a alma.

O pintor ainda teve que dar justificações à polícia pela sua presença naquela zona e chegou a ir buscar os dois “modelos” à esquadra, pois ” bateram com os costados na prisa” várias vezes, uma genuinidade que quadro algum poderá retratar. A marginalidade era sempre associada a certos bairros que os tempos fizeram o favor de tornar mediáticos.

A pobreza e a miséria eram camufladas com o tinto e com a música que, bem misturado e em doses generosas, levavam a ondas de amor e paixão. A vida com dureza era apenas para os de baixa condição e os outros, os que a consideravam muito pitoresca, tal como hoje, não lhe queriam vestir a pele.

O lamento surdo e profundo de nosso povo encontra-se eternizado neste quadro de José Malhoa. Nele o ambiente é tão real que parece sentir-se o cheiro do cigarro, o suor e o odor dos dois amantes a amor recém-feito com ardor e mágoa.

Sarah Affonso, pintora do Minho e da família

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Imagem: 1) José Malhoa, 2) DN

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