No próximo dia 18 assinala-se um ano da tragédia de Santo Tirso, quando um incêndio resultou na morte desumana de dezenas de animais. O sentimento que impera, ainda hoje, é que o que ali aconteceu mais não foi do que o resultado de um conjunto de más decisões e de falta de planeamento. Os responsáveis locais simplesmente ignoraram que se tratavam de vidas, não-humanas, é certo, mas vidas. Condenaram seres sencientes, protegidos por lei, após uma vida de maus-tratos e negligência, a uma morte em agonia, em que muitos estavam acorrentados e sem quaisquer condições de bem-estar asseguradas.
Um ano depois, são já conhecidas as conclusões do inquérito à atuação dos agentes no terreno naquele fatídico fim-de-semana, bem como a posição dos responsáveis que tutelam as respetivas pastas ministeriais e as ações de marketing do Presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso – que se deduz que deve continuar a dormir de consciência tranquila, como afirmou dias depois da tragédia. Sabe-se, também, que o processo judicial está longe de terminar: não nos enganemos, o que aconteceu em Santo Tirso há um ano poderia perfeitamente voltar a acontecer hoje em qualquer concelho por este país fora.
A falta de políticas públicas integradas relativamente à proteção e bem-estar animal ao longo dos últimos anos no nosso país tem inevitavelmente resultado no aumento exponencial de animais abandonados, no nascimento de ninhadas indesejadas e na proliferação de casos de maus-tratos por negligência. Em Vila Nova de Famalicão, não tem sido diferente: Quantas campanhas de esterilização promoveu o município neste período? Quantas campanhas de sensibilização para o não abandono? Que políticas foram implementadas para controlar a população errante? Quantos casos existirão em Famalicão à semelhança de Santo Tirso? As respostas: nenhuma, quase nada ou desconhece-se.
No entanto, assistimos estrategicamente à construção de um novo canil em ano de eleições autárquicas. Mas a solução não passa por construir prisões maiores, mas sim por trabalhar na prevenção, na elaboração de uma estratégia integrada, identificando os locais problemáticos de abandono e trabalhando em articulação com as juntas de freguesia para se sinalizar as principais necessidades e assim evitar que se condenem centenas de animais a uma vida enclausurada, atrás de grades – no fundo, pagando por um crime que não cometeram.