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A responsabilidade de ser criança

 

 

Violência nas crianças e jovens:

O mês de junho começa com a celebração da inocência, da adaptabilidade, da alegria, do desenvolvimento, do nosso presente e futuro, sempre que sobressaímos a importância da criança. No entanto, este dia não é vivido por todas da mesma forma.

Entre todas as crianças celebradas num só dia, encontramos aquelas que são vítimas de violência doméstica, vítimas de crimes sexuais, vítimas de bullying, vítimas de crimes informáticos, entre outros, que são, regularmente, adultos em corpos de crianças. Crianças em corpos que crescem rápido demais com perceção da sombra escura do ser humano que é frequentemente escondida pela idealização do atingir a maioridade.

Juntamente a todas estas crianças, preocupam também aquelas que, mais subtilmente, sofrem em silêncio e não encontram na sociedade o seu lugar como vítimas. Refiro-me àquelas crianças que são vítimas dos pais que vivem em permanente hostilidade em casa, às crianças que se vêm limitadas na sua liberdade de expressão, às crianças que temem brincar pois “se caem ainda levam”, às crianças que são educadas a serem “boazinhas” e a não responderem aos adultos. Porque, ainda que subtilmente, também estas crianças vão crescer rápido demais com sentimento de que só em adulto se poderá expressar e viver fora do autoritarismo. E, assim, desejam a maioridade, não sabendo eles que a infância poderá ser das melhores fases das suas vidas, quando bem explorada.

Repressões várias e constantes refletem-se na personalidade das crianças

No entanto, são estas repressões diárias que as tornam crianças mais vulneráveis, não sendo voz, corpo e alma da sua vida. Em momentos de crise questionamos porque é que a criança não contou nada mais cedo. Refletindo, pode ser simples de compreender: não existe espaço para isso. A criança que não pode falar durante os 90 minutos das aulas, que frequenta 100 atividades extracurriculares, que tem que se portar sempre bem, que deve respeitar os adultos como se de um estatuto se tratasse, a criança que janta com um tablet em frente, os pais que não conversam ao jantar pois “está a dar o telejornal” e que no fim do dia já é tarde para conversas, reflete-se em crianças ora reprimidas, ora impulsivas.

A proteção do nosso futuro passa por viver o presente dos nossos filhos

A metáfora da criança como esponja que absorve tudo de bom e de mau encaixa-se que nem uma luva. Por isso, compreendendo que cada pai/mãe/tutor legal faz o que pode com o que sabe, parece urgente percebermos que podemos fazer muito com tão pouco. A proteção do nosso futuro passa por trabalharmos as nossas crianças para serem mais do que alunos excelentes, inscritos em 100 atividades extracurriculares, que nunca erram ou que se erram são escrutinadas em frente à família nos jantares de Natal quando os primos sobressaem nas notas. Passa também por reforçar que a criança não é obrigada a dar o beijinho ao tio que veio passar férias a Portugal e que nunca vê. Passa por reforçar que a criança deve poder conhecer o seu corpo e os limites do mesmo, passa por reforçar que a criança pode ser tudo o que quiser e que haverá sempre lugar para si no mundo seja em que profissão for, em que género se identificar ou em que forma de ver o mundo quiser. E passa, sobretudo, por viver as crianças, viver os filhos, tê-los para os ouvirmos, olharmos, mimarmos. Não para ser uma compensação narcísica daquilo que não fomos.

Crianças vítimas não nascem nem vítimas nem agressoras

Nós, adultos, tendemos a focar-nos nos números das crianças vítimas de violência que diariamente invadem as nossas casas como se de uma situação inata se tratasse. Não seremos nós parte do problema e também parte da solução se incentivarmos a assertividade e percebermos que a criança não tem que ser um mini-ego nosso em desenvolvimento?

As crianças vítimas não nascem vítimas, como não nascem agressoras. São vítimas, em determinados momentos, de crimes e precisam de incentivo diário para compreender os limites dos seus corpos, de que não são culpadas da violência entre os pais, de que podem negar o toque, que podem questionar os adultos e as suas atitudes, que não têm que ser submissos. Sobretudo, temos nós adultos que trabalhar diariamente e questionarmos as nossas próprias crenças e não confundir medo com respeito.

É de salientar, contudo, a importância do reconhecimento das crianças e jovens vítimas de violência doméstica pela exposição interparental, tantas vezes esquecidas. Sabendo que o impacto difere de criança para criança urge salientar que o impacto não tem que ser necessariamente refletido no momento do crime.

Refletir sobre nós mesmos, as nossas crenças e representações, e o que as crianças efetivamente precisam

Preocupa o impacto ao nível das relações consigo e com os outros, futuramente. Preocupam as crenças e as representações sociais que estas crianças vão ter quer quanto aos relacionamentos, como em relação ao género, sexualidade e autoestima. Representações e crenças que terão implicações graves se não forem bem mediadas. As nossas crianças, vítimas de hoje, poderão vir a ser os/as adultos/as agressores/as ou vítimas de amanhã, pois é certo que a exposição à violência interparental propicia o desenvolvimento de modelos comportamentais e de estilos de resolução de conflitos disfuncionais baseados na experiência de vitimação.

Por tudo, refletir sobre o número de crianças vítimas é refletir sobre nós mesmos enquanto pais, avós, amigos/as, familiares, agentes educativos e procurarmos refletir diariamente sobre as nossas próprias crenças e representações sobre estilos e modelos de educação, bem como o investimento diário que as nossas crianças precisam.

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Violência doméstica: crime ou/e castigo?

Imagem: João Marques

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