Afinal onde está o meu berço?

 

 

Se digo mãe, digo Itália; se digo avó, digo ilha,

se digo bisavô, digo Galiza; se digo trisavó, digo França

um tetravô na Grécia outro em Damasco;

um perdido na Índia cigana outra nas ruas da Palestina,

se chegar aos décimos avós sou de todos os lugares,

venho de todas as origens, concebido em todas as religiões;

venho de um pirata e seguramente de uma puta,

de um marajá e de uma cortesã, uma geisha

e um traficante de sedas; uma amazona das estepes

e um boiardo; um vizir e uma poeta,

família de assaltantes nos idos dos avós doze,

marinheiros das austrálias, perdidos nos infernos

de ser gente do mundo e no mundo parental

chego depois de várias incidências

a esta Lisboa remodelada; na Mouraria um primo

outro no Quartier, uma prima no Magrebe

outra em Moscovo e mais uma no Congo

e milhares no Brasil, o meu ADN é o mundo,

as minhas células do universo

sou um homem feito de mulheres em verso.

Nas minhas veias há um refugiado profundo.

Afinal onde está o meu berço?

 

Imagem: José Lorvão

Obs: poema previamente publicado no livro ‘Casa dos Mundos Irrepetíveis’, 2016.

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