José Ilídio Torres - Barcelos - escritor - poeta - romancista - retrato - política - pandemia - covid-19 - trabalho - economia - saúde - confinamento - democracia - mulher - mulheres - comunidade - amor - emoções - emoção - sentimento - paixão - vida - vidas - carpe diem - ambição - prazer

O ‘cigano’ Ventura

 

 

André Ventura, presidente demissionário do «Chega» e já anunciado candidato ao lugar,  resolveu esta semana, porventura entediado pela quarentena do desporto a que chamam rei, que lhe dá dividendos enquanto comentador do incomentável, atacar a comunidade cigana, o que lhe valeu, ao que parece, um tiro no pé.

Digo parece, porque nem sempre o que parece é e vice-versa.

Quaresma foi o primeiro a responder. Em bom português, com palavras de um humanismo tocante, que, sou honesto, me surpreenderam, vindas de alguém que até aqui era mais conhecido pelo drible endiabrado e pela trivela. Depois também o PM, aproveitando o linguarejar futebolístico e a baixinha Catarina, que não deve perceber muito de futebóis, mas nestas coisas de atentados à liberdade, é Catarineta.

Mas, e há sempre um mas, para populista ou vendedor de banha da cobra que se preze, e tenha lido a cartilha do capital, qualquer publicidade, por muito má que seja, é sempre publicidade. E é isso que o desventurado Ventura sabe melhor que ninguém.

O André sabe que há muitos portugueses para quem os ciganos são mal-amados, que os acham uns «fora-da-lei», que catam uns subsídios ao estado e mandam os putos à escola porque são obrigados.

E antes dos ciganos, os de cor, os emigrantes, e todos aqueles que no entendimento do desventurado Ventura, andam a comer o que é nosso e por isso, deviam voltar aos seus países.

Todos são cidadãos.

Enquanto professor, tive ao longo dos anos bastantes alunos ciganos. Rapazes e raparigas. Foram sempre os mais respeitadores, mesmo nos momentos em que o conflito falava mais alto  com os colegas, e um sopapo caía, davam e apanhavam, que nisto de  «ciganos» a cor da pele não conta.

O que me surpreendeu sempre nesta etnia foram coisas como solidariedade, ligação paternal, familiar, e até respeito e consideração por quem não os julga, mesmo tendo hábitos diferentes, mas que não podem ser avaliados, muito menos condenados por quem se acha detentor dos padrões de convivência social ou da sua etiqueta mais ou menos lei.

Quase todos eles abandonam cedo a escola. Vão cumprir o seu destino de saltimbancos pelas feiras, a saber fazer contas básicas e a escrever umas coisas em caixas de cartão. As raparigas mais cedo até que os rapazes, pois logo que são menstruadas, abandonam, muitas delas já prometidas em casamento.

E nada disto pode ser censurado, posto em causa, porque faz parte de uma cultura com séculos e séculos de história, que sofreu as maiores provações, foi perseguida, violentada.

Disto não sabe nem quer saber o Ventura desventurado. Para ele não passam de uns seres de segunda, que não se aculturaram, quais índios da Amazónia.

O Ventura, que também é André, percebe é da arte pantomineira da manipulação, crescendo dia após dia o número de acólitos que vêm nele o Messias, o prometido de uma corja bruta, que se acha dona da terra e confunde pátria com posse.

Não lhe passar «bola» é o melhor que se pode fazer.

Pátria mesmo é a língua portuguesa, tal como Pessoa a enunciou. Dela se vê o mar, como disse Vergílio Ferreira, e num povo que deu novos mundos ao mundo devem caber todas as pátrias.

André Ventura não cabe em mim de contente.

Crónicas de Bem Viver | Sexo, eleições e futebol

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