Costa ganha eleições (à esquerda), Rio vence campanha eleitoral (à direita), PAN será (não) surpresa

Costa ganha eleições (à esquerda), Rio vence campanha eleitoral (à direita), PAN será (não) surpresa

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A noite das eleições está próxima e, a menos que aconteça uma hecatombe de todo inesperada, as sondagens apontam para resultados previsíveis desde há muito. A única não surpresa será o resultado efetivo do PAN Pessoas-Animais-Natureza. Uma campanha morna e sem assunto é o resultado de debates políticos que, apesar de tudo, se encontram muito cingidos ao vazio de políticas agarradas a limitações orçamentais substantivas.

O povo português é naturalmente e sociologicamente de esquerda, mesmo no seu modus operandi mais suave em que vota PSD social-democrata. Por outro lado, é também naturalmente e sociologicamente de direita quando vota Bloco de Esquerda liberal no que se refere às liberdades individuais. Andamos, por isso, ao sabor de uma corrente que acaba por dar ao centro político força para governar, com algumas nuances de governo para governo, e que muda e se renova ao sabor dos tempos.

Assim, para lá de os eleitores olharem sempre mais para o passado do que para o futuro na hora em que votam, neste momento e de facto, a maioria dos portugueses pretende mesmo é manter no governo uma Geringonça 2.0, em que a Esquerda se entenda sem conflitos desnecessários e que a têm afastado do poder, em Portugal, durante longos períodos. Manter-se-á assim a não pulverização do eleitorado que tem vindo a acontecer por toda a Europa e que tem vindo a dar origem a novas forças políticas.

António Costa e o PS ganharão as eleições com uma grande maioria de deputados na Assembleia da República (à esquerda), atendendo à relativa satisfação da generalidade dos eleitores com o andamento da economia e que não deverão apostar por substituir equipa ganhadora por uma aventura no desconhecido. A acrescer a essa maioria de votos, uma distribuição relativamente homogénea no plano nacional, com maior incidência no eleitorado urbano e menos idoso, facilita ao Partido Socialista a manutenção dos ganhos obtidos com a jogada de mestre do caso ‘Professores’.

Depois de, durante quase toda a legislatura, Costa e o PS se mostrarem satisfeitos com os acordos alcançados e os resultados obtidos com a governação, e em que até se mostraram disponíveis para manter semelhantes acordos caso viesse a ter uma maioria absoluta, a exemplo da sua forma de governar a Câmara Municipal de Lisboa, nos últimos meses viveu-se um período em que Costa e o PS começaram a sonhar  e se iludiram com a maioria absoluta ou, na pior das hipóteses, com uma Geringonça 2.0 com o PAN, deixando de lado os parceiros que lhes permitiram governar ao longo destes 4 anos, factos que também podem ser vistos como uma tentativa inglória de ganhar terreno ao Bloco. Assim, nos últimos dias, Costa e os socialistas acabaram por perder fôlego devido a esta postura errática que vai contra o desejo dos seus eleitores e a um receio de ferir suscetibilidades que conduza a perda de votos. Convém não esquecer que, em democracia, os governantes são eleitos para cumprir a vontade do Povo e o bem comum e não apenas a sua própria vontade.

De facto, nos últimos meses, sobretudo mas não de forma exclusiva, surgiram conflitos com Catarina Martins e o Bloco de Esquerda que se adivinha terem na base a luta por um eleitorado comum oscilante entre ambos os partidos, apesar de tudo, apaniguado pelos ganhos de alguma menor austeridade. Mas há mais, uma vez que o Bloco, mais aguerrido no discurso do que o PCP, seja pela juventude da equipa que o lidera, seja porque sente ter ainda margem para vir a crescer de forma significativa no futuro, tem vindo a apresentar e defender com insistência um conjunto de políticas alternativas, ainda que nem sempre exequíveis ou mesmo aceitáveis pela generalidade dos cidadãos, conseguindo congregar um conjunto de votos de protesto em relação ao centro e àqueles que não se revêm no conjunto das políticas, mais tradicionais e estáveis, do PCP. Quer um quer outro tentarão obter mais ganhos na renegociação de futuros acordos de apoio parlamentar.

Rio e o PSD vencem a campanha eleitoral (à direita). Depois de meses e meses em que o líder social-democrata não se conseguiu encontrar devido a lutas intestinas no partido, um debate ganhador com Costa e o caso Tancos, que entrou na campanha de forma dúbia, o líder social-democrata mostrou-se assertivo, não no conteúdo do discurso, que deixa dúvidas em muitos que o escutam, mas pela forma como se apresentou. Acordando para a luta, e com força anímica, apagou vozes dissonantes dentro do partido e conseguiu congregar o voto útil à direita. Infelizmente para ele, tais ganhos são tardios e praticamente incapazes de penetrar, além dos indefectíveis, no eleitorado à sua esquerda, como tanto gostaria.

A forma como o PSD agregou o CDS-PP, conduzido por Assunção Cristas, pode conduzir este partido àquela que parece vir a tornar-se a sua mínima força expressiva. Enganada pelo resultado das autárquicas lisboetas e com um discurso demasiado agressivo em relação a Costa mas nada mobilizador para as suas hostes eleitorais, Cristas tentou vitimizar-se com um último evento  irrelevante e sem significado político de qualquer alcance por não colar à realidade nacional, assim se revelando fragilizada e sem linha de rumo, a ponto de o partido apenas se manter à tona de água nos próximos anos, o que poderá trazer imprevisíveis e ainda pouco discutidas consequências à direita do espetro político.

Por seu turno, o PAN será a não surpresa destas eleições legislativas. Sendo ainda uma incógnita o seu resultado final, e expectativas que apontam para a eleição de vários deputados em número bastante variável, não deixa de ser certo que passará a ser uma força política em definitivo instalada na Assembleia da República. Apesar de algumas linhas de orientação que poderão ser vistas como frágeis e pouco arquitetadas em determinados setores e de algum fundamentalismo por causas vistas como certas por muitos eleitores, em especial mais jovens, o facto de o seu discurso incidir sobremaneira nas questões ambientais e animais dão-lhe votos. Veja-se a relevância que estes assuntos têm vindo a ganhar na sociedade e lembremo-nos como Os Verdes entraram na política alemã de forma semelhante há anos atrás. Sendo certo que todos os partidos dão hoje importância significativa a estes assuntos, o facto de o PAN concentrar aqui o seu foco dá-lhe uma visibilidade, força e aceitação que, em tempos, seriam completamente desajustadas mas são ajustadas à realidade dos nossos dias.

Por último, uma palavra para os pequenos partidos que poderão eleger deputados, mas não serão determinantes nas políticas a seguir ao longo destes quatro anos. De entre todos, a Iniciativa Liberal é aquele que mais caminho parece ter a percorrer no futuro. Assumindo-se claramente como Liberal, se conseguir a eleição poderá, mais facilmente, esgrimir os seus argumentos perante a opinião pública através da notoriedade obtida nas transmissões televisivas e na imprensa e conseguir marcar pontos. Possuidor de um espectro ideológico bem marcado e socialmente apoiado por uma franja significativa dos eleitores, poderá vir a ganhar terreno. A este partido, o facto de Rio ter ganho a campanha poderá bem ter sido prejudicial, dado o apelo ao voto útil em que muitos eleitores se revêm. Quanto ao Livre, único pequeno partido político de Esquerda, mas também Liberal, com pretensões a uma presença na AR, poderá conseguir ou não a sua eleição; parece que não. Rui Tavares manter-se-á assim como uma voz algo estimulante, ainda que, ou talvez por isso mesmo, dissonante em relação à maioria dos políticos desta área.

A Aliança parece estar condenada ao insucesso eleitoral. Fundada e apenas apoiada por eleitores PSD descontentes, sem um traço ideológico que demarque o partido e um líder em fim de carreira política, mesmo que consiga um deputado deverá ter bastantes dificuldades em prosseguir além do mandato atual. O Chega é ainda o outro partido político que, à direita, é por vezes assinalado como podendo vir a eleger um deputado, André Ventura. Apoiado em discursos radicais, anti-imigração e anti-crime, conseguirá chegar a algumas franjas do eleitorado mais desenraizadas e se sente vítima da sociedade atual. Se o CDS-PP  mantiver a linha descendente, algum eleitorado poderá aqui vir a encontrar a consolação para as suas maleitas, ainda que não se adivinhe qualquer capacidade de influência significativa nos próximos anos.

Seja como for, os resultados eleitorais serão determinantes para o governo que vier a resultar das eleições de 6 de outubro e que, em última análise, caso PS, Bloco e PCP não estabeleçam novos acordos, poderão vir a conduzir mesmo à formação de novo executivo minoritário assente em maiorias estabelecidas de forma pontual, caso a caso. De uma forma ou de outra, em especial se a economia vier a derrapar, seja qual for a razão, parecem adivinhar-se tempos mais confusos e difíceis. Esperemos que assim não aconteça.

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Categorias: Editorial

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Pedro Costa

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