Para que serve brincar? Brincar serve para aprender! Serve para conhecer! Serve para experimentar! Serve para pôr problemas e para os resolver. Serve para ligar corpo, cabeça e alma num só gesto. Serve para pôr afecto, movimento e paixão onde só existia razão. Serve para lapidar a agressividade, e aprender a rivalizar, a competir e a suplantar sendo-se agressivo com lealdade, dentro das regras e “com maneiras”. Serve para ir ao encontro do outro – do estranho – e interpelá-lo, ganhando terreno ao desconhecido. Serve para colocar imaginação e fantasia e compreender. Serve para descobrir! Serve para espantar e para aventurar. Serve para conviver com o erro, com o insucesso e com a precipitação, e para robustecer a tolerância à frustração com que se liga paixão e garra com paciência, com humildade, com determinação e com perseverança. Serve para pro-criar e re-criar. Serve para se fazer sínteses, em tempo real, e interpretar a realidade, agindo sobre ela de forma afoita e empreendedora e, por vezes, cooperativa. Serve para nos ligarmos uns aos outros e para criarmos laços onde, dantes, existiria indiferença ou desconfiança. Brincar serve para aprender a pensar! Serve, com o auxílio da pluralidade de todos os desafios que o brincar nos traz, para construir uma identidade, aberta e singular, que nos faça reconhecer e nos torne reconhecidos. E serve para “costurar” a autonomia. Brincar ensina a liberdade. Constrói-se na igualdade e conquista a fraternidade. Brincar ensina a simplicidade e a honestidade. Brincar serve para ligar a tristeza e o riso e descobrir que sempre que uma criança brinca “o mundo pula e avança”. Em resumo, o mundo mudaria sem revoluções se, para tanto, acarinhássemos o brincar.
Brincar é, pois, uma Torre de Babel. A linguagem de todas as linguagens. Anterior à música e à palavra! Crianças que não brincam tornam-se adultos que se acanham, que se encolhem, que se acobardam. Tornam-se pessoas resignadas. Pessoas que acham a ironia uma atrapalhação. Que não arriscam e que não lutam por um sonho. Tornam-se pessoas que confundem sobreviver com conviver. Adultos que falam mais para dentro do que para fora. Que confundem o sisudo com o sério. Que são insatisfeitos e arrependidos em vez de serem pessoas desassossegadas, com fé mas em paz. Crianças que não brincam tornam-se, finalmente, adultos vaidosos, que sendo melhores do que calculam, valem muito aquém daquilo que supõem.
Ora, brincar é tão precioso e é tão indispensável que funciona como “A vitamina” do crescimento! É, pelo menos, tão importante como a escola! Mas brincar serve, também, para criarmos nas crianças uma alternativa saudável a um mundo de tecnocratas “sem mundo” e sem “escola de vida” que parecem querer fazer das crianças “produtos normalizados”. Brincar é, pois, o exercício do direito à indignação e à insubmissão. E é, de entre tudo o que há de mais imaterial, o mais sublime património da Humanidade.
As crianças precisam de brincar, pelo menos, duas horas; todos os dias! Porque, afinal, uma criança que brinca tem “a vista na ponta dos dedos”. Tem “língua de perguntador”. É aventureira e é sensata. Não se cansa de perguntar: “porquê?”. E não precisa de ser “A melhor do mundo” porque lhe basta ser “o melhor do mundo para alguém”. Assim ela brinque primeiro e trabalhe depois!
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‘Persona’ ou ‘A Máscara’ (1966), a obra-prima de Ingmar Bergman