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O complexo patrimonial de edificado da Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela, a mais antiga unidade industrial do género Portugal está a ser requalificada: um novo projeto vai reavivar aquela que, outrora, foi considerada como uma das mais emblemáticas fábricas do Vale do Ave e uma das maiores empresas têxteis da Europa. O projeto está a ser trabalhado para a Hotelar Têxteis e ocupará mais de um terço do espaço da velha fábrica. Com autoria do gabinete ad quadratum arquitectos, a proposta privilegia a preservação e valorização da relevância histórica e arquitectónica do centenário complexo que integra a Rota do Património Industrial.
O edifício assume-se como um marco emblemático do património industrial e símbolo de uma época áurea da construção associada à dinâmica da indústria têxtil no Vale do Ave. Aqui, será instalado o novo centro de logística e distribuição (escritórios, matéria-prima, produto acabado e produção) da Hotelar Têxteis , numa área total de 37.000 m2 de terreno, 22.000 m2 dos quais são área coberta, distribuídos por dois pisos.
A proposta do projeto acomoda o organigrama industrial e de armazenagem de uma ‘nova’ têxtil, orientada e sensível à preservação patrimonial, como valor de cultura e como suporte a novas práticas industriais assentes em tecnologias de ponta, sustentáveis e adequadas à preservação e valorização do relevante ‘contendor’ edificado onde se instalará.
Localizada na margem esquerda do Rio Ave, e próxima do centro da cidade, a fábrica constitui uma referência incontornável na memória coletiva de Santo Tirso e um espaço fundamental na compreensão do desenvolvimento da região e da indústria têxtil: um complexo de grande relevância arquitetónica e histórica no âmbito da arqueologia industrial.
É este espaço que a Hotelar Têxteis se prepara agora para ocupar, após proceder à sua reabilitação. Especializada no fornecimento de produtos têxteis para os exigentes setores hoteleiro e de lavandarias industriais, bem como para ginásios, spas e restauração, foi fundada em 1995, tendo surgido como o consolidar da experiência de outras marcas e empresas, resultando numa tradição e conhecimento acumulados que remontam à década de 50 do século passado. Sendo uma empresa originalmente portuguesa, não deixa de ter uma crescente posição num mercado internacional e uma ambição global.
Nascida em 1845, a Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela chegou a empregar mais de três mil pessoas. Dos cerca de nove quilómetros quadrados de área que a empresa ocupou, já só restam as paredes e as carcaças de algumas máquinas. Foi uma das mais emblemáticas fábricas do Vale do Ave, coração da Indústria Têxtil e do Vestuário portuguesa e uma das maiores empresas têxteis da Europa, mas não resistiu à chegada do novo século.
A Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela foi protagonista, com outras fábricas da região do Vale do Ave, como a Sampaio e Ferreira, de Riba d’ Ave, no processo de industrialização local, de carácter marcadamente têxtil. Os primeiros anos de atividade da empresa foram marcados pela instabilidade política e económica do país pelo que se pautaram por dificuldades no escoamento dos produtos armazenados e pelas pesadas taxas alfandegárias que incidiam sobre o algodão. A guerra da secessão nos EUA (1861-65), fez aumentar o preço do algodão, permitindo à fábrica transformar em lucro o produto armazenado.
Nas décadas seguintes realizaram-se grandes obras e a fábrica estende-se à outra margem do rio Vizela, multiplica o número de trabalhadores e das encomendas. É mesmo a responsável pela chegada do comboio a Negrelos, assim como participa nos trabalhos para a recuperação da estrada que a liga à Vila de Santo Tirso.
Em 1911 um grande incêndio destruiu parte do edifício de quatro andares onde se encontrava a fiação e, mais tarde, durante a década de 30 e 40, a fábrica estendeu-se então para a margem direita, concentrando aí, até hoje, os seus principais edifícios. No início dos anos 50, a Fábrica contava com 3000 operários e tinha em funcionamento cerca de 1200 teares.
O gabinete ad quadratum arquitectos , com sede em Vila Nova de Famalicão, delegação em Felgueiras e trabalho em todo o território português, assumiu a responsabilidade da recuperação de reabilitar este edifício para a Hotelar Têxteis. “A intervenção e a investigação em edifícios e conjuntos de interesse patrimonial, não só o classificado, são uma arte que exige um saber muito específico e obrigam a um grande respeito pelos edifícios a intervencionar. Estamos a recuperar as ruínas industriais respeitando a estrutura preexistente. Os edifícios antigos “devolvem em dobro” o que lhes damos”, refere José António Lopes. O acumulado de conhecimentos teórico-científicos dos arquitectos deste gabinete aliados à experiência de 20 anos de projeto permitem-lhe, com à vontade, a intervenção em edifícios e conjuntos de Interesse Patrimonial e Património Classificado, mantendo uma prática conjugada com a reabilitação urbana, o urbanismo e o planeamento territorial.
Imagens: (0, 1, 2, 3, 5, 6) adquadratum arquitectos, (4) Emílio Bial
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