Arrisco-me a dizer que são ínfimas as pessoas dos dias de hoje que não utilizam as redes sociais pelo menos uma vez por dia.
Arrisco-me, também, a dizer que são ínfimas as pessoas (crianças, adolescentes, jovens adultos, adultos) dos dias de hoje que não sofrem pressões para ter uma aparência irrepreensível, corpos perfeitos e, ainda, serem bem-sucedidos nas redes sociais, onde se confunde o número de amigos com o número de amizades/seguidores. Onde o sucesso de cada um é ditado pelo número de likes. Onde se confunde popularidade com realidade.
Em boa verdade, atrevo-me a dizer que assistimos a uma formatação individual consentida. Queremos ser aquilo que o outro é. Queremos ter aquilo que o outro tem. E quando não conseguimos ser o outro ou ter aquilo que o distingue, há uma sensação de inutilidade ou até mesmo de fracasso que atropela qualquer tentativa de manutenção da autoestima.
Sentimo-nos inúteis ou diminuídos quando vamos ao feed das nossas redes sociais e vemos que todos os influencers que admiramos estão a viajar ou simplesmente estão sentados no sofá a fazer vídeos sobre produtos recebidos (aparentemente, sem qualquer tipo de trabalho ou esforço) e a ganharem fortunas com isso.
Sentimo-nos inúteis ou diminuídos quando vemos amigos ou conhecidos a postarem sistematicamente momentos de verdadeira felicidade como se estivessem imunes a qualquer adversidade da vida. Como se a vida para uns fosse um caminho fácil e para outros um caminho tortuoso.
E logo nos haveria de calhar o caminho tortuoso a nós!
– Porquê??? – E assim começa o nosso muro das lamentações.
– Ah, oxalá eu fosse bonita e magra como aquela! Ah, oxalá eu tivesse aquela casa! E aquelas roupas maravilhosas! E aquele carro! Como eu seria feliz! Ah quem me dera…
Mas, quem lhe dera concretamente o quê?
Vamos a factos:
Ultimamente, são inúmeros os “famosos” que têm vindo a “dar a cara” pela necessidade de pararmos para pensar que todos somos Humanos. E como seres Humanos, todos temos momentos bons e menos bons. E o facto de estes serem famosos, não os torna privilegiados em matéria de imunidade.
Desde humoristas, bloggers de beleza, bloggers de lifestyle e até atores têm revelado sofrer de ansiedade, depressão, ideação suicida e perturbações alimentares.
O que isto significa?
Que todos (mesmo todos) estamos no meio de um ciclo vicioso de aparências felizes, perfeitas, do “ele tem, eu tenho de ter”, “ele usa, eu tenho de usar”, “ele compra, eu tenho de comprar”, “ele é assim, eu tenho de ser assim”…
Este ciclo alimentado pela partilha apenas das “coisas boas” aguça a ideia que para alguns a vida é perfeita.
Porquê? Porque nos mostram precisamente o lado colorido dessas mesmas vidas, ou seja, representam aquilo que gostaríamos de ter e não temos ou de ser e não somos. Desta feita, passamos grande parte do nosso tempo focados na ideia de fracasso ou até mesmo de inveja miudinha do outro, lamentando-nos com a sistemática autoconfirmação da nossa “pseudo infelicidade”.
E se ao invés de querermos ser o que não somos, aceitarmos quem somos de verdade?
Aceitarmos que temos aquilo que temos, que somos aquilo que somos, que usamos aquilo que usamos.
Aceitarmos que existem corpos diferentes, estilos de vestir diferentes, formas de viver diferentes.
Aceitarmos que, ao cabo e ao resto, não somos todos iguais!
Claro que não devemos ser naïves. Na realidade, todos nós somos e seremos julgados e julgadores do próximo. Somos e seremos sempre um ser social que se aproxima e se afasta de determinadas pessoas por estas conterem determinadas características. Características essas que “nos foram ensinadas” a ter em consideração, seja pela educação, cultura, experiências pessoais ou, no caso do século XXI, pelas redes sociais.
Obviamente que seremos (e ainda bem) pessoas insatisfeitas e não conformadas, mas que esta insatisfação não nos adoeça, não nos tolde nem a mente, nem o coração. E sobretudo, que não altere os nossos valores, nem a essência de quem somos. Assim, ao escolher os perfis a seguir nas redes sociais, que sejam perfis que nos acrescentem e que não nos subtraiam.
As redes sociais servem também para isso.
Unamo-nos para passar a mensagem de uma vida real, ao invés de uma vida perfeita.
Desafiemo-nos a partilhar momentos bons e também menos bons, como forma de inspiração e luz para os outros. Para que todos percebam que estamos juntos neste carrossel que é a vida. E que juntos, os momentos bons tornam-se incríveis e os momentos maus tornam-se oportunidades de crescimento.
Sejamos mais tolerantes connosco e com os outros.
Olhemos para nós e para os outros como Humanos imperfeitamente perfeitos, onde haja a clareza de perceber que:
Todos temos momentos maus e bons.
Todos temos imperfeições e perfeições.
Ninguém tem uma vida/corpo perfeita/o.
Ninguém tem uma vida sem esforço e dedicação.
Todos choramos, todos rimos.
Todos.
Porque esta nova era da perfeição (im)perfeita tem maior encanto quando percebemos que a imperfeição é o que nos torna verdadeiramente perfeitos.
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