Preconceito por definição é a ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial, opinião desfavorável que não é baseada em dados objectivos.
Isto é muito sério, não é? E parece mesmo bem dizer-se que se é contra o preconceito, que se é liberal, que se faz a reciclagem, que se ajuda os pobres e que se tem um amigo gay e por isso têm simpatia pelas minorias… Nada como ter um amigo homossexual, tirar fotos, colocar nas redes sociais e fazer dele uma espécie de troféu da liberdade dos tempos modernos.
Eu fui alvo de preconceito! Não há maneira fácil de se dizer isto… custa muito! Senti-me colocada de parte na sociedade que estou inserida, fui alvo de chacota e de alguma violência emocional. Percebi, ao revelar algo íntimo da minha pessoa que em vez de me libertar fui caindo num poço cada vez mais fundo, fui olhada de lado, fiquei isolada… eu revelei, sem medos, mesmo consciente do que o futuro próximo me reservava que…. Eu gosto da Eurovisão.
Não só gosto da Eurovisão como até simpatizava com o Conan Osiris…. Pffffffffffffff (som de explosão). Não que gostasse particularmente da música ou da letra, mas como aficionada pela Eurovisão achei que até se enquadrava no esquema do show. Portanto, aquele super-choque de ver alguém vestido esquisito, com uma letra que não se percebe ao certo, com uma espécie de bailarino epilético numas escadinhas, não me estranhou!
Nem de propósito, no mesmo show, a rainha da pop – Madonna, essa mesma – actuou vestida esquisita, com uma letra que não se percebe bem numas escadinhas (uma bocadinho maiores que as do Conan) com bailarinos vestidos de monge e com bandeirinhas de Israel e da Palestina. Chamem-me poética, mas o nosso Conan foi visionário. Por tudo aquilo que eu sei, a Madonna roubou o conceito ao puto!
Nem de propósito, as Doce, que também participaram na Eurovisão… pfffffffff (mais uma explosão) eu sei que há malta que se tinha esquecido, foram criticadas por vestirem de forma esquisita, terem uma letra que não se percebe muito bem com uma coreografia demasiado sensual – quase nuas, que vergonha. A mesma música que passado décadas ainda passa em discotecas e que eu ainda não conheci ninguém que não dissesse um “hey” depois de ouvir “uma da manhã”.
Fui alvo de chacota por parte de vários grupos sociais, mas há um em particular que eu destaco. Depois de mencionar com o entusiasmo que me caracteriza que iria ver a Eurovisão, ouvi comentários “ui, eu não vejo esse tipo de programas. Já ninguém vê isso para além de que é só musica má. Até me doem os ouvidos”. As mesmas pessoas que vibram intensamente ao som de músicas cuja a letra é, e passo a citar, “Quando ela bate com a bunda no chão \ Quando ela mexe com a bunda no chão \ Quando ela joga com a bunda no chão \ Quando ela sarra e o bumbum no chão chão”. Ou até músicas cuja letra tem estrangeiro (e quando tem algo em estrangeiro, dá aquele ar mais poliglota a roçar o culto), por exemplo “Eu tô bem \ Tu também tá bem \ Todo mundo aqui tá bem \ J’suis avec mon mec tá tudo bem”.
E podemos ir mais longe, por exemplo: “She say she’s too young, don’t want no man \ So she gon’ call her friends, now that’s a plan \ I just ordered sushi from Japan \ Now your bitch wanna kick it, Jackie Chan”. Que haverá de ter uma tradução como: “Ela diz que é muito nova, não quer homem algum \ Então ela vai ligar para as amigas, agora é um plano \ Eu apenas pedi sushi do Japão \ Agora a tua pu** quer chutá-lo, Jackie Chan”.
Poesia, portanto!
Ora bem… eu não quero cair no erro de por inércia exercer preconceito, mas algo me leva a colocar em causa a credibilidade deste grupo social. Por vários motivos, uns mais óbvios que outros, como aliás se pode ver, mas claro está que nunca viram um único segundo do programa televisivo – “opinião desfavorável que não é baseada em dados objectivos.”. Certamente, porque estão muito ocupados em toda uma análise cultural.
Eu gosto da Eurovisão porque vejo curiosidades interessantes no conceito do espetáculo – à parte até das musicas que concorrem – e não aprecio a poesia acima descrita porque de facto as ouvi e percebi que não me identificava. E, assim, a minha opinião – independente de certa ou errada – baseia-se num esforço em conhecer a outra realidade…. Pffffffff……. (mais uma explosão).
Este festival ou outro tema do género é só mais um exemplo de preconceitos que parece fixe ter. Porque não deixam de ser preconceitos… só que são “caviar”.
A dada altura ouvi alguém dizer-me o seguinte “Ele é vegetariano; de certeza que é boa pessoa”. E nem sequer inventei isto para escrever aqui. A pessoa disse ‘certa’ de que esta afirmação fazia sentido. E o mais incrível é que a segurança no discurso é tal que eu chego a questionar-me se sou eu que estou mal porque comi um bifinho ao almoço.
Que se inserem mais ou menos na mesma categoria das pessoas que se dizem semi-vegetarianas. São vegetarianas assim-assim… eu acho um máximo este novo conceito, confesso! Cá fora revelam o seu lado fundamentalista, até olham com desdém e criticam abertamente quem simplesmente não escolheu seguir aquele modo de vida. Em casa sem ninguém ver comem um bife do tamanho de uma mesa. Conseguem chegar ao cúmulo de serem preconceituosas com elas próprias. Sou só eu que acho isto incrível?
É preconceito… só que “caviar”!
Só uma pequena nota séria:
Há ainda outro grupo anti-eurovisão muito interessante. Têm em comum com o grupo acima o facto de não verem o programa e pouco conhecerem. Mas aquilo que realmente os distingue é estarmos em 2019 e se terem apercebido agora que Israel faz parte da União Europeia de Radiodifusão e ser por isso que participa no festival desde 1973. Também se aperceberam agora que aquela musica fofinha do Leonard Cohen e que aparece no filme Shrek, e até há malta que canta versões na igreja – a casa do Senhor – afinal é da cantora israelita Gali Atari, exatamente vencedora do Festival da Eurovisão. Este grupinho que andou caladinho até a gordinha Netta vencer o festival a cacarejar, percebeu que existe um conflito israelo-palestino agora. Eu se calhar vou dar uma mega-novidade, que nem sei se vão aguentar com esta informação: este conflito já existe desde o século XIX – lamentavelmente, diga-se. E só é pena esta vaga de moral oca, de fundamentalistas instantâneos se escafeder quando a poeira do Festival da Eurovisão assentar. A diferença deste grupo social para o grupo dos funkeiros portugueses é que os segundos têm mais piada.
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