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A desvirtuação do equilíbrio ético necessário à boa prática científica quando descentrada do seu propósito primeiro, tem sempre uma consequência arrasadora:
a segregação, no sentido de anulação, da realidade social.
O recente Manifesto “Por cuidados de saúde de base científica” a propósito dos diferentes entendimentos das terapêuticas não convencionais (TNC) torna claro o aspeto anterior. É que a ciência, nas suas diversas dimensões, tem sempre uma função social. Dizer isto é defender que não é possível, do ponto de vista ético, induzir o pensamento social, mentir, a propósito da validação das intervenções de saúde como se não houvessem consequências terapêuticas, e para as medidas de saúde pública em geral.
Do ponto de vista da filosofia da ciência, também é importante sublinhar que a validade e veracidade são conceitos independentes e, como tal, a validade lógica de um argumento não carece da veracidade das suas premissas. Este aspeto do qual ninguém quer falar permite-nos fazer um exercício simples:
As TNC são gomas viscosas
As agulhas são TNC
Logo, as agulhas são gomas viscosas
Assim se entende que a conclusão é válida para lá da sua veracidade. Ora, a questão que se coloca é se a validação do conhecimento científico, no seu alcance terapêutico que carece da prática reguladora de saúde, deverá depender de uma manipulação argumentativa?
É preciso ter em linha de conta que, muitas das vezes, o mundo sobre o qual a ciência se debruça não é o racional, mas sim racionalizável. Aceitar este aspeto, no contexto ético que funda o debate das ciências sociais e humanas é, também, admitir a discussão sobre quais são as controvérsias científicas que afetam a racionalidade da ciência, no seu sentido genérico que, por sua vez, se refletem em políticas socias.
É fácil de aceitar que a ciência desempenha um papel de grande responsabilidade no desenvolvimento social e económico das sociedades, mas o que se deve fazer quando temos conhecimento de que ao longo dos últimos anos se verificou a amplificação de alguns critérios para definir o aumento de falsas prevalências e novas patologias que continuam a carecer da análise crítica?
A PLOS Medicine, por exemplo, em 2006 dedicou uma edição temática – Disease Mongering – à investigação de estratégias de marketing que fomentaram a criação de doenças inexistentes que favoreciam a venda de medicamentos, doenças criadas para sustento de algumas indústrias (ex. farmacêutica).
Ninguém questiona como é que se validam estes fenómenos sem evidência científica, sem um critério de veracidade?
A propósito da análise crítica, com evidência científica, saiu em fevereiro de 2019 o livro “Mitos e Crenças na Saúde” que, através de uma linguagem acessível conjugada com a melhor informação disponível, traduz o seu potencial para o bem comum e, neste caso, para a saúde pública. O livro do Professor António Vaz Carneiro permite-nos demonstrar, na prática, a linha que conduz este texto – ética, análise crítica e evidência científica.
Um dos artigos, intitulado de “A Ingestão de Antioxidantes (Vitaminas A, C e E) É Uma Medida Eficaz Na Prevenção Da Doença” baseia-se numa revisão sistemática com 78 ensaios clínicos e cerca de 300.000 pacientes. Comparou-se o impacto na taxa de mortalidade global entre quem toma de modo crónico suplementos vitamínicos e antioxidantes e quem tomou placebos inertes, e o resultado foi: quem toma de modo crónico suplementos vitamínicos e antioxidantes aumentou o risco de morrer. Mas porque é que a venda destes suplementos continua a ser publicitada como o resumo para o elixir da vida?
Conclusão: Nem sempre a validade do que defendemos traduz a melhor evidência, sendo que a indústria da mentira em ciência terá sempre mais do que um resultado assolador. É mais ou menos assim: a utopia tornou-se um lugar distópico.
Imagens: (0) Fancycrave, (1) Ciência Viva
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