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Dezassete poemas de Ruy Belo dão o mote para o espetáculo “Odeio este tempo detergente” que, no sábado, às 21h30, sobe ao palco do Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery. Concebido por Ana Nave, que divide a interpretação com Maria João Luis, o espetáculo mergulha na melancolia e nas perplexidades de um dos maiores poetas portugueses do século XX.
Conjugando-se com as notas da guitarra interpretada ao vivo por José Peixoto, poemas como ‘Certas formas de nojo’, ‘Espaço preenchido’, ‘Povoamento’, ‘Elogio de Maria Teresa’ e ‘Um dia não muito longe, não muito perto’ remetem para um corpo poético atravessado por uma ideia de construção feita de casas, pássaros, árvores, homens em trânsito, jogos de luzes e sombras com o espaço e o tempo.
“Mas eu aqui completamente envolto neste tempo detergente
é da segunda-feira e da semana que preciso pois
posso lutar melhor por uma luz melhor
do que esta luz do mar à hora do entardecer
É da cidade é da publicidade é da perversidade
que preciso e não tenho aqui na praia”
escreveu Ruy Belo. E as palavras, selecionadas por Rui Lagartinho, tomam agora as vozes de Ana Nave e Maria João Luis, e contam o aborrecimento e a efemeridade que talvez sejam ainda os nossos e os de todos os tempos.
Estreado em março no Teatro S. Luiz, em Lisboa, o espetáculo iniciou recentemente uma digressão por vários palcos nacionais, apresentando-se em Matosinhos também com as subtis ironias de poeta que dialogava com as vogais e as consoantes. “Venho da vida e trago uma gramática”, escreveu.
O espetáculo integra ainda histórias pessoais contadas pela mulher de «riso claro» e «graça inesperada» invocada no poema ‘Elogio de Maria Teresa’, dialogando igualmente com as histórias daquela década de 1960 que os versos de Ruy Belo habitaram, quais melopeias sufocadas de humanidade e perplexidade.
Ruy Belo publicou oito livros de poemas originais, hoje reunidos no volume Todos os Poemas, que têm vindo a ser distinguidos pela crítica, um volume de ensaios sobre poesia e diversas traduções, além de ter colaborado na imprensa. Morreu aos 45 anos e a sua obra é hoje em dia considerada uma das mais brilhantes das letras portuguesas o Século XX.
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