Complexo Arquitectónico da nova Igreja Matriz de Antas, em Vila Nova de Famalicão (2ª pt)

Complexo Arquitectónico da nova Igreja Matriz de Antas, em Vila Nova de Famalicão (2ª pt)

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II Parte

3 – Considerações:

3.1-        Por ter conhecimento sobre novas igrejas que se apresentam com uma arquitectura que não parece arquitectura, com curvas e contra curvas, tanto côncavas, como convexas, e observar a nossa nova igreja, com uma forma singela, mas com um alinhamento que permite aos assistentes, em qualquer ponto da nave, observar da melhor forma, o que se passa no presbitério, merece o arquitecto um louvor por tal facto.

E na matéria de painéis, há que relevar também a pessoa do seu autor, pela sua capacidade na área da arte plástica, com conhecimentos bíblicos que soube usar correctamente, partindo pedras pequenas e maiores, milhares e milhares, pintando-as, a fim de compreenderem uma grande decoração que testemunha competência, dedicação, feição estética e amor à arte.

Complexo Arquitectónico da Igreja Paroquial de Antas, Vila Nova de Famalicão

Por isso, o meu respeito e admiração.

Já que falo em decoração na igreja, quero informar que desde o séc. XV, as igrejas são decoradas por azulejos nos revestimentos, sobretudo nos silhares até 1.5 m de altura e com azulejos hispano-árabes. Também nesse século havia os vitrais, pinturas sobre vidros e com cenas bíblicas. Nos rebocos frescos e, no séc. XVI, pinturas também com cenas bíblicas. No séc. XVII tapetes cerâmicos policromáticos de revestimento e nos séculos XVIII e XIX com azulejos historiados e grande riqueza decorativa nas talhas revestidas a folha de ouro fino.

Esclareço que esses vários tipos de arte eram sujeitos de culto artístico e não religioso.

3.2 –       Visto existirem cinco cruzes, uma na porta principal e quatro no interior e apenas haver uma cruz, objecto e as outras significados e não significantes, esclareço que a única cruz que é ícone do cristianismo é a cruz latina que consta de duas barras sólidas que podem ser cilíndricas ou rectangulares, ou ainda quadrangulares que se cruzam, formando quatro ângulos de 90º graus e cujo braço vertical superior é igual aos dois braços horizontais, sendo o vertical inferior maior porque é o pé.

Ainda sobre as ditas cruzes, informo que são todas diferentes e duas são consideradas abstracções.

Nas igrejas só se colocam duas cruzes: uma na parte mais alta do edifício, para indicar a sua natureza e, mesmo, ponto de referência, como se verificam nas igrejas do estilo passado, no vértice da empena da frontaria principal, e no interior, em cima da mesa do altar, mas esta cruz esculturada e pequena ou fora do altar e próxima. E, a explicação de se colocar na mesa do altar, porque só aí é que tem sentido a cruz, porque significa a morte cruenta de Cristo e a missa a morte incruenta. É nesse sentido que, quando se faz a procissão da sacristia para o altar, a cruz processional fica perto da mesa, e no momento próprio, é incensada e não a grande que se encontra em frente.

Complexo Arquitectónico da Igreja Paroquial de Antas, Vila Nova de Famalicão

Ainda o caso pode ser confirmado pelo crucifixo que se encontrava na missa do dia 13 de Maio em Fátima, presidida pelo Papa Francisco.

Portanto, as cinco cruzes referidas não têm sentido, mesmo a que está no ambâo, porque não é latina, mas cruz da Ordem de S. Tiago de Espada.

Além do mais, há ainda a considerar o material com que é feita, podendo ser o granito, mármore, calcário oolítico (pedra de Ançã, Cantanhede), madeira, bronze, latão e até prata, nas cruzes processionais. Há uns tempos foi efectuado um trabalho sobre cruzes e cruzeiros no concelho de Famalicão, onde foram inventariadas 131 cruzes erguidas directamente do solo, e 44 cruzes sobrepostas sobre os capitéis dos cruzeiros. E essas cruzes e cruzeiros eram todos de granito.

A cruz latina assume essa forma para simbolizar a cruz onde Cristo foi crucificado.

E a propósito de uma afirmação existente numa determinada doutrina, que não é ortodoxa, porque não aceita a cruz latina, dizendo que Cristo foi crucificado numa estaca. (Esta, é um pau de reduzida dimensão para que qualquer vegetal, com caule trepador, se agarre). Este facto é histórico e existiu nos dois impérios romanos, e na metrópole, no Código Penal, como ocorreu noutros países e até em Portugal com a forca. Mas, felizmente, foi abolida em 1867, sendo o nosso país considerado o primeiro a tomar essa medida.

3.3 –       Sobre o baptistério há igualmente reparos, fruto de uma observação atenta e cuidada, atendendo que o concílio Vaticano II, na área da Liturgia, não colocou fora de uso o que a pia baptismal tinha de dignidade.

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Digo pia baptismal e não baptistério, porque este é um lugar reservado, levado a efeito no lado direito e em espaço próprio. Na Idade Média o baptistério tinha tanta importância que compreendia um edifício como existiu e existem exemplos em algumas cidades de Itália, Pisa, Ravena e Florença. Porém, no nosso caso não existe pia, mas duas peças cilíndricas, de material diferente e cor que fazem o mesmo serviço: a peça interior dá a cor e a externa a forma, para constituir uma cruz abstracta.

Ora, a igreja tinha direito a uma pia de granito, como se verificam em outras igrejas e ser colocada do lado direito e no fundo da nave. A igreja do Marco de Canavezes, tão contestada pelas novidades que recebeu, tem o baptistério num espaço próprio, com pia de granito, na forma de cone invertido, mas a base de sustentação não coloca a peça em perigo e as paredes estão revestidas por azulejos. Mas, ainda para exemplos e bem próximos, a matriz antiga de S. Adrião de Famalicão tem uma pia baptismal de granito, toda moldurada, tendo sido lá colocada no primeiro quartel do séc. XVI. No museu de arte religiosa da Lapa, Famalicão, encontra-se uma pia que foi feita de um colunelo românico, servindo-se o canteiro do capitel para o perfurar, fazendo a pia. O pé tem o fuste torcido. Portanto, atendendo à dignidade das pias baptismais, a que se encontra em causa, devia ter recebido outra morfologia.

3.4 –       Sacrário – O sacrário, como já foi referido, encontra-se no alinhamento do tímpano dos seis círculos concêntricos. Este facto não foi o resultado do acaso, mas premeditado e indicador de que o autor do sacrário influenciou o arq. Tiago Costa para colocar esse simbolismo, que é de interpretação difícil. E, por quê? Para, possivelmente, relevar a peça que é sua obra – o sacrário.

Complexo Arquitectónico da Igreja Paroquial de Antas, Vila Nova de Famalicão

Esse simbolismo é formado, como já se referiu na descrição, por um conjunto de seis círculos, concêntricos que, por estar em frente ao sacrário, simbolizam seis continentes, os quais formam o orbe, o mundo. Os continentes são América, Europa, Ásia, África, Oceânia e Antárctica. E Cristo Eucarístico, que está no sacrário, é Deus, o Senhor do mundo.

Assim pensou o arquitecto Correia e executou, mostrando que sabia a doutrina nesta matéria e o Tiago Costa a Geografia.

No entanto, o sacrário não se apresenta como residência do Senhor do Mundo!

É uma simples peça com material singelo, pobre e sem segurança. Não tem perfil artístico, nem luz permanente.

Apenas uma pequena cavidade, cordiforme, donde se observa, a curta distância, o monograma IHS, que significa «Jesus Salvador dos Homens» e não tem luz permanente. Mas, a este respeito O papa emérito, Bento XVI, a respeito do sacrário, diz “que o lugar onde são conservadas as espécies eucarísticas seja fácil de individualizar por qualquer pessoa que entre na igreja, graças, nomeadamente à lâmpada do Santíssimo, permanente mente acesa”.

Quero lembrar que os antigos tinham outra sensibilidade religiosa para com os sacrários: madeira toda trabalhada e com molduras revestidas por folha de ouro fino. O sacrário da matriz antiga é um exemplo. Mas ainda mais: num inventário encontrado no arquivo municipal de Famalicão, com a data do século XVI, entre outras peças, estava um sacrário de prata da igreja de Santiago. Mas exemplos iguais a este, há vários. Mas pretendia dizer mais alguma coisa sobre o sacrário, porque o concílio Vaticano II não alterou nada sobre os sacrários. Eles continuam a ser a residência do Cristo Eucarístico. Porém não é adorado como deve ser. Por isso, os liturgistas dizem que, quando se faz uma nova igreja, deve-se arranjar um lugar digno, fora do presbitério e com boas condições para se prestar o culto de latria ou adoração e que os fiéis tenham boas condições de acesso porque na nave, Cristo não é honrado. E o que nos diz a Instrução Geral do Missal Romano quando se passa em frente ao sacrário?

Chegados ao altar, o sacerdote e os ministros fazem a devida reverência: inclinação profunda ou se o SSmo Sacramento estiver no sacrário, genuflexão. O sacerdote sobe ao altar e beija-o em sinal de reverência. (…)”

3.5-        Ambão – É um elemento da Liturgia encarregado de proclamar a Palavra de Deus e comunicá-la à comunidade de fiéis.

E, para falar com segurança, recorro a uma autoridade na matéria que tem por nome, Bernardino Costa, Dom Abade da Ordem Beneditina, em Singeverga   e Prof. Doutor de Teologia na Universidade Católica do Porto, com tese de doutoramento, em Liturgia.

Assim, diz ele, “que o ambão exige um espaço que seja seu, suficientemente amplo e adequado à acção que nele se desenrola.

Esse lugar deve ser elevado, mais alto em relação ao presbitério, devido à sua simbologia (…), dotado de conveniente disposição e nobreza, que corresponda à dignidade da palavra de Deus, conforme o número dos Preliminares do Ordenamento das Leituras da Missa, e deseja também que este lugar seja «dotado de conveniente disposição e nobreza, que corresponda à dignidade da palavra de Deus»”.

 E, para ele provar com factos, o que disse por palavras, na sua igreja do Mosteiro, o ambão que era de madeira e com as características recomendadas, com fixação ao pavimento, circular, com abertura anterior e degraus para o leitor subir e fazer as leituras numa cota superior, com a colocação entre o presbitério e a nave do lado direito. Mas, recentemente substituiu a madeira por calcário oolítico, material que foi em outros tempos muito usado nas iconografias de santos. Mas, não só, porque também  há a assinalar o sacrário que está colocado no fundo da galeria e não no presbitério ou coro baixo. Ora, este sacrário está carregado  por pinturas, com significados sobre  Cristo  Eucarístico, merecendo um  destaque o significado de um espigueiro que simboliza o pão. É de relevar o seu autor, o monge Pe. Paulino. Por isso, nessa igreja a liturgia foi bem pesada e medida!

Mas, o ambão da Nova Igreja carece das características anunciadas. No entanto, o caso não é único, porque o facto é generalizado.

3.6 –       Nesta consideração, vou referir um painel que atrás foi descrito e agora é considerado. É o pelicano que está figurado no centro da decoração por simbolizar Cristo que salvou a humanidade, pela morte na cruz.

No entanto, não se vê, mas merecia ser visto. Foi escondido por razões que estão em segredo dos “deuses” e que não interessam ser reveladas. Mas há efeitos que tiveram uma causa. São os seguintes: porta, bastante alta, que comunica com o presbitério e a estrutura metálica com a cruz eléctrica, com a figura do Redentor. Mas neste elemento da cruz há uns acrescentos que não se compreendem: são o pé da cruz, bem como as duas placagens de mármore subjacente, que se estendem até esconder os degraus e o complemento da mesa do altar, sem função definida.

3.7 –       A nova matriz de Antas não tem imagens. Por isso, não há o culto de veneração.

Mas este culto não é punido pelo 1º Mandamento da Lei de Deus que condena o culto dos ídolos, falsos deuses. Pode-se e deve-se prestar honra e veneração às esculturas com a iconografia de santos, não por si mesmas, mas pelo original que representam. Não é a imagem que honramos, mas sim a pessoa representada pela imagem, e até no Credo da Missa há um frase simples e de tipo declarativo que se diz: ” creio na comunhão dos santos“.

E, sobre este assunto, a Conferência dos bispos católicos dos Estados Unidos explicou que o Catecismo no seu livro intitulado «Unites States Catecism», o catecismo para adultos dos Estados Unidos, publicado em 2006, expressou-se na adoração das coisas, tais como o sol, lua, estrelas, águias e serpentes, bem como imperadores e reis.

Esse catecismo explica que hoje a idolatria manifesta-se na adoração de outras coisas, como o poder, dinheiro, prazer, desporto, etc.

Mas este culto requer catequização, porque há exageros na devoção menos correcta. E, por isso, o Código de Direito Canónico nº 1188 diz o seguinte:

” (…) nas igrejas, as imagens devem ser colocadas em número reduzido, a fim de não se dar azo à devoção menos correcta”.

E o concílio de Trento dedicou a sessão XXV ao assunto dos culto das imagens, tendo ordenado a propósito aos bispos e demais pessoas “que ensinassem com exactidão os fiéis sobre a intercessão e invocação dos santos e uso legítimo das imagens, segundo o costume da Igreja Católica”.

Mas, igualmente é verdade verificarem-se desacertos nesta matéria, em algumas igrejas, pelo número elevado de exemplares de ícones que, naturalmente, desvirtuam a liturgia. Para exemplo vou citar uma igreja do Porto, onde foi efectuado um inventário com 84 peças, das quais, 39 eram iconografias de santos.

De facto, tem-se constatado nas igrejas novas a existência de um mínimo número de imagens que demonstram existir nelas a culto de veneração. Basta citar três igrejas, cada qual com uma imagem: Marco, Fátima e S. Tomás de Aquino, em Lisboa.

Mas Antas não tem nenhuma, porque a figura que representa a Imaculada e a de Santiago, não têm veneração, mas apenas culto artístico.

3.8 –       Grupo Coral – O Concílio Vaticano II falou com carinho e admiração da tradição musical da Igreja, “dizendo que constitui um tesouro de inestimável valor e que se promova com empenho o canto popular religioso, de modo que nos exercícios e nas próprias acções litúrgicas haja acordo com as normas e disposições das rubricas (sessão n. 118.) e ainda refere que todo o instrumento, no acompanhamento dos cânticos é bom para sustentar as vozes e facilitar a participação e tornar mais profunda a unidade da assembleia”.

Mas a nova igreja não dispõe de um espaço próprio para o grupo coral, porque houve esquecimento do projectista. Deste modo, o grupo não dispõe de condições para o bom exercício das vozes e até poder aumentar o seu número.

Ora, este caso merece atenção.

3.9 –       Foi referido no item da descrição a existência de decoração na abóbada por placas de gesso cartonado que estavam ligadas ao pavimento da nave por dez colunas.

Complexo Arquitectónico da Igreja Paroquial de Antas, Vila Nova de Famalicão

De facto, é verdade e, mais ainda, há a considerar que além da decoração, existem, pelo menos, três efeitos que passo a apresentar: o anel ou sanca côncava com lâmpadas deitadas que provocam a luz indirecta, mas boa iluminação; as colunas de gesso cartonado e com lã de vidro incorporada, permite haver na nave um bom comportamento na acústica.

Ora, assim sendo, há a considerar um resultado feliz. Mas, quero afirmar que a estratégia aplicada para a luz indirecta tem uma alternativa que resulta, com sucesso. Trata-se da colocação de projectores colocados, a meia parede, e voltados para o centro da abóbada. Há no concelho de Famalicão vários exemplos.

Mas, falta ainda referir o terceiro efeito que não é positivo, porque as dez colunas criaram duas galerias, que, por sua vez, retiraram espaço à nave, diminuindo a sua capacidade. No entanto, e em boa verdade se diga que esse espaço, por agora e nos actos litúrgicos ordinários, não é necessário, porque até sobra, por isso não cabe a mim fazer qualquer censura sobre a organização do espaço, facto muito importante na arquitectura, segundo o arquitecto Fernando de Távora. Mas os juízos de valor ficam para mais tarde. E, decorridas algumas gerações, os paroquianos julgarão o caso, conforme lhes ditar a recta razão.

Considero o trabalho terminado. Mas quero afirmar, em abono da verdade, que foi executado sem pressas, para não ser considerado uma simples enumeração acrítica de frases de retórica. Não foi!

As frases foram bem pesadas e medidas para não permitirem qualquer tipo de contraditório.

Houve, efectivamente críticas negativas, mas não são sinónimos de maledicência. São críticas construtivas, fundamentadas e objectivas.

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Complexo Arquitectónico da nova Igreja Matriz de Antas, em Vila Nova de Famalicão (1ª pt)

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Acerca do Autor

A. Martins Vieira

Professor. Historiador.

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