Surrealizar | Marcelo Rebelo de Sousa: Vila Nova de Famalicão é o lugar do surrealismo em Portugal

 

“Encontrou-se um lugar para o surrealismo em Portugal. O lugar é Vila Nova de Famalicão. Aqui e agora o surrealismo português pode passear enfim o seu esplendor”. Foi desta forma que o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, inaugurou, na passada sexta-feira, 1 de junho, o Centro Português do Surrealismo, na Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, numa cerimónia que ficou marcada pela presença de grandes autores deste movimento artístico, como o artista plástico e poeta Cruzeiro Seixas e o fotógrafo e ilustrador Fernando Lemos, e pelo ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, entre outras personalidades da vida cultural e social portuguesa.

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Vila Nova de Famalicão acolheu assim o Centro Português do Surrealismo de braços abertos, um projeto que, de acordo com o presidente da Fundação Cupertino de Miranda, Pedro Álvares Ribeiro, nasce do “culminar de um longo caminho, com cerca de 20 anos”. Para Marcelo Rebelo de Sousa, “não é muito português em Portugal haver projetos a 20 anos. E nem é preciso ser-se surrealista para se dizer isto. O português gosta de gerir o dia-a-dia, deixar para o último minuto, o último segundo e depois, para os crentes, que Deus intervenha. O facto é que este foi um projeto a 20 anos que deu os passos todos até chegar ao momento que vivemos.” O presidente da República felicitou desta forma a Fundação Cupertino de Miranda pela determinação e persistência no levar avante desta ideia.

Marcelo aproveitou ainda para realçar a importância da nova estrutura realçando que de “um  importantíssimo acervo, com obras de Cesariny e Cruzeiro Seixas, faz-se agora o que só não se chama um museu porque seria pouco surrealista pôr o surrealismo num museu. Trata-se de um polo decisivo para integrar Portugal no conhecimento e no estudo do movimento surrealista internacional.”

Por sua vez, o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha, afirmou que “este é um momento importante para a Fundação, mas é de enorme relevo para o concelho e para o fortalecimento da nossa política cultural, permitindo-nos almejar também um patamar internacional”.

“Não fazemos parte das duas grandes cidades deste país, mas pedimos meças a muitas cidades de dimensão maior no que à cultura diz respeito”, acrescentou ainda Paulo Cunha.

O autarca aproveitou ainda a presença de Marcelo Rebelo de Sousa e do ministro da Cultura para abordar o tema da descentralização e de pedir mais trabalho conjunto entre as autarquias e o Estado.

Entre as diversas intervenções, destaque ainda para as palavras de Luís Filipe Castro Mendes, ministro da Cultura que considerou a abertura do Centro Português do Surrealismo “não como um batizado, mas antes uma confirmação”.

Luís Filipe Castro Mendes fez ainda uma pequena reflexão do surrealismo português, que “aparece de uma forma diferente do francês” e perto do fim, recitou parte do “Corpo Visível”, de Cesariny, que já havia sido citado na sessão de inauguração, quando o presidente da Fundação anunciou que o Centro iria assegurar a tradução e edição da obra de poesia do autor  em espanhol.

Com a inauguração do Centro Português do Surrealismo abriu-se ao público uma nova sala do primeiro andar com 400 metros quadrados recheados de arte. O espaço, com caraterísticas únicas na região, foi apresentado com a exposição “O Surrealismo na Coleção Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian”, que possibilita revisitar as obras ligadas ao Movimento Surrealista desta coleção e regressar aos grandes momentos plásticos desse período. Esta exposição representa um estímulo à investigação e compreensão, quer de atitudes, quer de pensamentos, levados a cabo por autores que desafiaram a situação social e política da época, demonstrando audácia, inteligência e liberdade.

O Centro Português do Surrealismo nasce na Fundação Cupertino de Miranda que conta atualmente com uma coleção de mais de três mil obras ligadas ao surrealismo, nomeadamente de Mário Cesariny e Artur Cruzeiro Seixas, num total de 130 artistas.

Tudo começou quando, João Meireles, genro de Arthur Cupertino de Miranda, comprou uma parte da coleção do artista Cruzeiro Seixas e a doou à instituição. Aos poucos e poucos, o acervo surrealista foi crescendo. Já nos anos 90, a primeira exposição surrealista é apresentada – “Surrealismo e não” – e, anos depois, nasce o Centro de Estudos do Surrealismo, coordenado há mais de 15 anos pelo professor Perfecto Cuadrado.

Da autoria de João Mendes Ribeiro, o Centro Português do Surrealismo nasce da adaptação do emblemático edifício da Fundação Cupertino de Miranda, desenhado nos anos 50, mas cuja implementação no terreno se concluiria nos anos 70, verdadeiro ex-libris do espaço citadino.

Para o arquiteto, o projeto constituiu “um enorme desafio pela ligação entre o passado e o futuro”, mas também “pelo tema da contemporaneidade”.

A principal transformação face ao desenho atual é a passagem do espaço museológico, bem como da oferta formativa, para os primeiros andares do edifício – atualmente localiza-se na torre que compõe o espaço – colocando-o na “linha da frente” de forma a “promover o contacto com a comunidade”.

“Vamos ter um conjunto de expositores que se abrem à cidade, criando uma relação muito forte com o espaço e com as pessoas”, acrescenta João Mendes Ribeiro.

Refira-se que a somar às obras de adaptação do edifício, prevê-se ainda uma nova programação e novos custos com o funcionamento do Centro Português do Surrealismo que implicará um investimento na ordem dos 2,5 milhões de euros. A autarquia contribuirá com a atribuição de um apoio  financeiro no valor de 300 mil euros, repartidos por quatro anos.

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Imagem de destaque: Município de Famalicão;divulgação).

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Outras imagens: Sala do Centro Português do Surrealismo (Município de Famalicão; divulgação) e Fundação Cupertino de Miranda (flyer; divulgação)

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